Polícia do Rio investiga uso de rede de restaurantes para lavagem de dinheiro do Comando Vermelho

Morto em operação, traficante conhecido como Professor teria usado franquia de picanha para movimentar recursos do tráfico | Foto: Reprodução

A Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga um esquema de lavagem de dinheiro que, segundo os investigadores, era operado por Fhillip da Silva Gregório, conhecido como Professor, traficante do Comando Vermelho morto no domingo (1º). A suspeita é de que o criminoso utilizava uma rede de restaurantes especializados em picanha, além de eventos culturais, para dar aparência de legalidade aos lucros obtidos com a venda de drogas.

De acordo com informações obtidas pelo portal g1, o restaurante Picanha do Juscelino, cuja matriz está localizada na comunidade da Fazendinha, no Complexo do Alemão, era parte central dessa estrutura. A polícia aponta que o Professor era o principal sócio investidor da rede. O empresário Juscelino Medeiros de Lima, fundador da marca, foi um dos alvos de mandados de busca e apreensão cumpridos nesta terça-feira (3), tanto em sua residência quanto nos endereços comerciais da empresa.

Em um dos pontos investigados, o restaurante da Fazendinha funcionava em frente ao campo de futebol onde acontecia o Baile da Escolinha, evento cultural patrocinado pelo Professor que mobilizava milhares de pessoas na comunidade. Para a polícia, a relação entre os estabelecimentos e as festas era estratégica.

“A escolha do ponto comercial próximo ao evento não era casual: a estrutura do restaurante funcionava como suporte logístico e econômico para os eventos promovidos pela facção, com forte simbolismo territorial e integração ao cotidiano criminoso, o que reafirma o papel do local como instrumento de dissimulação patrimonial e lavagem de capitais do grupo criminoso”, afirma a Polícia Civil.

Segundo a apuração, os recursos do tráfico eram movimentados por meio de uma rede de transferências bancárias e, posteriormente, enviados a Ponta Porã (MS), cidade na fronteira com o Paraguai, onde eram utilizados na compra de armamentos. Depósitos feitos pela rede Picanha do Juscelino também foram identificados em contas ligadas a pessoas envolvidas com o tráfico. Um dos suspeitos teria movimentado mais de R$ 1 milhão em apenas 14 dias, em março de 2023.

Juscelino, natural da Paraíba, chegou ao Rio há cerca de 10 anos e iniciou seu negócio com um food truck na Penha, em frente ao Hospital Getúlio Vargas. Em entrevista ao jornal O Globo, em 2020, contou como expandiu os negócios após um convite de investidores:
“Tive medo, mas aceitei. Aí, o food truck cedeu espaço para um quiosque, que continua funcionando. Assim nasceu a Picanha do Juscelino”.

A reportagem procurou Juscelino Medeiros de Lima, mas ele não retornou os contatos até a publicação da reportagem.

Além dos restaurantes, a investigação aponta que o Professor também utilizava produtoras de eventos culturais para lavar dinheiro. A Polícia Civil afirma que a empresa responsável pelo Baile da Escolinha movimentou cerca de R$ 50 milhões em apenas um ano.

As investigações ainda revelaram envolvimento de pessoas próximas a figuras públicas. Matheus Gouveia Mendes, apontado como operador do esquema, repassava dinheiro a duas mulheres suspeitas de integrar a rede de lavagem.

Uma delas é Gabrielle Frazão, mãe de um dos filhos do traficante Professor, que teria recebido R$ 66 mil. A outra é Viviane Noronha, esposa do cantor MC Poze do Rodo. Segundo o delegado Jefferson Ferreira, Viviane recebeu valores tanto em sua conta pessoal quanto na conta de sua empresa, a Noronha Influenciadora.

A Polícia Civil afirma que as transferências feitas por Matheus a Viviane ultrapassaram R$ 1 milhão. As investigações continuam para apurar o nível de envolvimento dos beneficiários e esclarecer o papel de cada um na engrenagem financeira da facção criminosa.

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