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Viradouro busca o quarto título contando a história de Malunguinho

No ano passado, com um carnaval exuberante, a Viradouro conquistou o título (Alexandre Vidal / Rio carnaval)

Atual campeã do carnaval carioca, a Viradouro será a terceira escola a desfilar no domingo de carnaval (2 de março). Com o enredo “Malunguinho: o Mensageiro de Três Mundos”, a agremiação irá mostrar a história de Malunguinho, líder do quilombo do Catucá, em Pernambuco, no século 19. O tema abrange a resistência e ancestralidade.

A bateria da Viradouro, comandada pelo mestre Ciça, é um espetáculo à parte (Rio Carnaval / Divulgação)

O carnavalesco Tarcísio Zanon explicou que Malunguinho sobreviveu dentro do culto da Jurema Sagrada. O enredo passeia também pelas culturas indígenas e afro. A escola busca o seu quarto título no grupo especial, pois faturou o título em 1997, 2020 e 2024.

Quilombo era foco de resistência em Pernambuco

A ala de passista da Viradouro interage durante o desfile com o público (Dhavi Normando / Divulgação)

O auge da história de Malunguinho é no século 19, em Pernambuco. O quilombo de Catucá era um foco de resistência.O seu Líder João batista, o Malunguinho foi duramente perseguido. Fugindo das emboscadas, se embrenhou nas matas e aprendeu com os indígenas a força das ervas. Sendo assim, já Malunguinho, João Batista tornou-se o mensageiro da Mata, Jurema e Encruzilhada.

Reparação histórica de um herói nacional

Malunguinho sobreviveu dentro do culto da Jurema Sagrada (Foto: reprodução / Facebook)

Em entrevista à Agência Brasil, o carnavalesco Tarcísio Zanon destacou que a Viradouro está fazendo uma reparação histórica ao falar de um grande herói nacional, que nunca foi homenageado na Sapucaí e no carnaval carioca. Malunguinho é celebrado em Pernambuco, destacadamente no catimbó-jurema, culto que mistura a cultura indígena com a africana.

Os documentos antigos mostram que Malunguinho foi registrado como bandido, chefe de quadrilha. Havia ordem para aniquilá-lo sem deixar vestígios. Malunguinho defendia os interesses da liberdade de expressão. Seu nome é oriundo provavelmente de um título dado aos malungos.

Títulos conquistados pela Viradouro

1997 “Trevas! Luz! A Explosão do Universo” (Samba-enredo composto por: Dominguinhos do Estácio, Mocotó, Flavinho Machado e Heraldo Faria). Carnavalesco: Joãosinho Trinta.

2020 – “Viradouro de alma lavada” (Samba de: Cláudio Russo, Paulo César Feital, Diego Nicolau, Júlio Alves, Dadinho, Rildo Seixas, Manolo, Anderson Lemos e Carlinhos Fiond. Carnavalescos: Tarcísio Zanon e Marcus Ferreira).

2024 –“Arroboboi, Dangbé” (Samba de: Claudio Mattos, Cláudio Russo, Julio Alves, Thiago Meiners, Manolo, Anderson Lemos, Vinicius Xavier, Celino Dias, Bertolo e Marco Moreno)

Confira o samba-enredo da Viradouro

 Enredo: “Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos”

Carnavalesco: Tarcísio Zanon

Compositores: Paulo César Feital / Inácio Rios / Márcio André Filho / Vitor Lajas / Chanel / Vaguinho / Igor Federal. 

 

A chave do cativeiro, virado no Exu Trunqueiro
Viradouro é catimbó, Viradouro é catimbó
Eu tenho corpo fechado, fechado tenho meu corpo
Porque nunca ando só, porque nunca ando só
A chave do cativeiro, virado no Exu Trunqueiro
Viradouro é catimbó, Viradouro é catimbó
Eu tenho corpo fechado, fechado tenho meu corpo
Porque nunca ando só, porque nunca ando só

Acenda tudo que for de acender
Deixa a fumaça entrar
Sobô nirê mafá, sobô nirê
Evoco, desperto nação coroada
Não temo o inimigo, galopo na estrada
A noite é abrigo
Transbordo a revolta dos mais oprimidos

Eu sou caboclo da Mata do Catucá
Eu sou pavor contra a tirania
Das matas, o Encantado
Cachimbo já foi facão amolado
Salve a raiz do Juremá

Ê juremeiro, curandeiro ó
Vinho da erva sagrada
Eu viro num gole só
Catiço sustenta o zeloso guardião
Trago a força da jurema
Não mexe comigo, não
Ê juremeiro, curandeiro, ó
Vinho da erva sagrada
Eu viro num gole só
Catiço sustenta o zeloso guardião
Trago a força da jurema
Não mexe comigo, não

Entre a vida e a morte, encantarias
Nas veredas da encruza, proteção
O estandarte da sorte é quem me guia
Alumia minha procissão
Do parlamento das tramas
Para os quilombos modernos
A quem do mal se proclama
Levo do céu pro inferno
Toca o alujá ligeiro, tem coco de gira pra ser invocado
Kaô, consagrado

Reis Malunguinho, encarnado
Pernambucano mensageiro bravio
O rei da mata que mata quem mata o Brasil
O rei da mata que mata quem mata o Brasil

Entenda o samba através das palavras

Exu Trunqueiro: divindade da Jurema Sagrada que é também conhecida como Reis Malunguinho. É o guardião dos três mundos: mata, jurema e encruzilhada. 

Catimbó: é uma religião afro-ameríndia que mistura elementos indígenas, africanos e europeus. É também conhecida como Jurema Sagrada ou Jurema Nordestina. 

Catimbó é uma religião afro-ameríndia conhecida como Jurema Sagrada ou Jurema Nordestina

Sobô niré, Mafá:  é uma saudação a Reis Malunguinho, uma entidade afro-indígena do culto à Jurema Sagrada. 

Mata do Catucá: oi o local onde se formou o Quilombo do Catucá, em Pernambuco, no século XIX. O quilombo foi um símbolo de resistência para o povo negro da região. 

Juremá: Juremá pode ser uma licença poética para as rima. Porém, Jurema é uma planta da família das leguminosas, comum no Nordeste brasileiro, algumas com efeitos psicoativos.

Juremeiro: Aquele que cultua a Jurema, seja frequentando trabalhos espirituais, ou mesmo estando submetidos às condutas rituais dos terreiros.

Os juremeiros estão espalhados em terreiros de todos os cantos do país (Foto: reprodução / Joannah Luna)

Catiço: termo utilizado em religiões afro-brasileiras, como a umbanda e o candomblé, para se referir a espíritos que auxiliam as pessoas. 

Alujá: dança sagrada no candomblé, executada pelas iaôs; ou toque de atabaques com o fim de provocar a vinda de Xangô nas festas do terreiro de candomblé.

Kaô: saudação a Xangô

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