Fundada em 12 de novembro de 1957, a Unido de Padre Miguel tem como símbolo o Boi Vermelho. A agremiação levará para a avenida este ano o enredo“Egbé Iyá Nassô“ e presta uma homenagem à história do primeiro candomblé do Brasil.
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De acordo com o enredo, Iyá Nassô era uma princesa negra escravizada, que enfrenta a guarda imperial (junto com sus irmãs) para libertar seus filhos da revolta. O enredo mostra também a força das mulheres nas religiões de matriz africana. A escola será a primeira a desfilar no dia 2 de março. Os carnavalescos são Alexandre Louzada e Lucas Milato.
Chegada à Bahia e o legado da África
Um trecho do enredo destaca a chegada de Iyá Nassô à Bahia: “Nas espumas do Atlântico, onde lágrimas se confundiram com ondas, a fé se ergueu como velas a singrar os destinos através das águas turbulentas. O grivar daquelas velas destronadas de Oyó apontava na direção de outros rumos. O legado de uma África ancestral, entrelaçado com a coragem e determinação de uma princesa destemida, desembarcou nas terras sagradas de Salvador. Seus passos trouxeram consigo lembranças, afetos, saberes. Pulsava em seu peito a justiça e o Axé como um coração vibrante: Iyá Nassô, a filha de Oyó sob o Oxê de Xangô”. Iyá Nassô é uma das três fundadoras do Candomblé da Barroquinha, que deu origem à Casa Branca do Engenho Velho, nomeado Ilê Axé Iyá Nassô Oká, em homenagem a Iyá Nassô.
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Cores homenageiam Guilherme da Silveira Filho
A Unidos de Padre Miguel desfilou pela primeira vez no grupo especial em 1960 (era chamado primeira divisão). Seu último desfile na primeira divisão foi em 1972, quando apresentou o enredo “Madureira, Seu Samba, Sua História”, do carnavalesco Júlio Matos.
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As cores da escola são o vermelho e o branco para homenagear Guilherme da Silveira Filho, proprietário da Fábrica de Tecidos Bangu, que doava os tecidos para os desfiles da escola.
Veja a letra do samba da Unidos de Padre Miguel
Compositores: Thiago Vaz / W Correa / Richard Valença / Diego Nicolau / Orlando Ambrosio / Renan Diniz / Miguel Dibo / Cabeça Do Ajax / Chacal do Sax / Julio Alves / Igor Federal / Caio Alves / Camila Myngal / Marquinhos / Faustino Maykon / Clá
Intérprete: Bruno Ribas
Awurê Obá kaô! Awurê Obá kaô! Vila Vintém é terra de macumbeiro!
No meu Egbé governado por mulher
Iyá Nassô é rainha do candomblé!
Eiêô! Kaô kabesilê Babá Obá!
Couraça de fogo no orô do velho ajapá
A raça do povo do Alafin, e arde em mim
Rubro ventre de Oyó
Na escuridão nunca andarei só
Vovó dizia: Sangue de preto é mais forte que a travessia!
Saudade que invade!
Foi maré em tempestade
Sopra a ancestralidade no mar (ê rainha)
Preceito é herança sem martírio
Airá guarda seus filhos no ilê da Barroquinha
É a semente que a fé germinou, Iyá Adetá
O fruto que o axé cultivou, Iyá Akalá
Iyá Nassô, ê Babá Assika
Iyá Nassô, ê Babá Assika
Vou voltar mainha, eu vou
Vou voltar mainha, chore não
Que lá na Bahia
Xangô fez revolução
Oxê, a defesa da alma na palma da mão
No clã de Obatossi
Há bravura de Oxóssi no meu panteão
É d’Oxum o acalanto que guarda o otá
Do velho engenho, xirê que mantenho no meu caminhar
Toca o adarrum que meu orixá responde
Olorum, guia o boi vermelho seja onde for
Gira saia aiabá, traz as águas de Oxalá
Justiça de Ogodô, tambor guerreiro firma o alujá
*Vocabulário para não “atravessar” o samba
Awure: boa sorte; bênçãos
Obá: orixá feminina do candomblé e da umbanda, que representa as águas revoltas dos rios
Kao: saudação na Umbanda ao Orixá Xangô
Egbé: vem do Yorubá e significa grupo, comunidade
Kaô kabesilê: é uma expressão em Nagô que significa “Venham Saudar o Rei”
Babá: pai, em yorubá
Obá: é uma orixá dos iorubás, deusa da guerra e do poder
Orô: Orô é uma divindade masculina que representa a ancestralidade dos homens
Oyó: cidade da Nigéria, localizada no estado de Oió. Foi fundada no século XV por iorubás e foi a capital do Império de Oió.
Ajapá: em yorubá, tartaruga, o animal sagrado de Xangô
Alafin: Uma das qualidades de Xangô
Airá: Xangô velho – um das qualidades de Xangô.
Ilê: casa de candomblé
Ilê da Barroquinha: conhecido também como Ilê Axé Airá Intilê, localizava-se em Salvador, Bahia. Foi fundado por Iá Nassô, Calá e Adetá.
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Iyá: em yorubá significa mamãe
Iyá Adetá: uma das fundadoras do Candomblé da Barroquinha
Iyá Nassô: sacerdotista de Xangô encarregada com os rituais para este orixá, patrono do reino, no palácio de Alafin (rei) de Oyó.
Iyá Kalá: Uma das fundadoras da Casa Branca, que representa o ponto de partida da fascinante história sobre a origem do candomblé no Brasil
Oxê: No candomblé é chamado de ferramenta ou machado de Xangô
Obatossi: nome dado a Marcelina, que viajou com Yá Nassô para a África logo após a fundação do terreiro Íyá Omi Áse Àirá Intilè, próximo à Igreja da Barroquinha, em Salvador. Iyá Nassô terá morrido na África
Oxóssi: Orixá da caça, das florestas e da fartura , presente nas religiões africanas, como o Candomblé e a Umbanda. Ele é associado a São Jorge e São Sebastião.
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Otá: Pedra consagrada aos Orixás
Xirê: Vem do verbo brincar, podendo assim, significar divertir, jogar. Ou ainda o Xirê cantado para os Orixás = cântico dos Orixás
Adarrum: Toque rápido e contínuo dos atabaques para chamar os Orixás nas cabeças dos filhos de santo; para forçar os deuses a descer
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Olorum: Deusa das águas
Aiabá ou Iabá: Termo usado no candomblé para definir os orixás femininos como: Oxum, Oiá, Obá, Ieuá, Iemanjá e Nanã, entre outras.
Ogodô: Xangô Agodô é uma representação de Xangô, o orixá do candomblé e da umbanda, que tem características de velhice.
*Principal fonte de pesquisa: dicionário Yorubá (organizado por Regina Augustta Gomes)