Considerado um dos sambas mais bonito do carnaval 2025, o Salgueiro será a primeira escola desfilar na segunda-feira de carnaval (3 de março). Com o enredo “Salgueiro de Corpo Fechado”, de Jorge Silveira, a escola tijucana vai em busca do título que não conquista desde 2009, com “Tambor”, do carnavalesco Renato Lage.
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O enredo está empolgando os componentes, pois irá resgatar as raízes espirituais da escola. Será um mergulho nos rituais de diversas culturas, incluindo as africanas, indígenas, entre outras. Terá banho de ervas, benzedeiras, ciganas da sorte, pombas-gira e até o malandro batuqueiro. A escola conquistou nove títulos: 1960, 1963, 1965, 1969, 1971, 1974, 1975, 1993, 2009.
Feiticeiros e seguidores do islamismo
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De acordo com o enredo, a crença na invulnerabilidade chegou ao Brasil por meio dos mandingos escravizados, do antigo Império Mali, que eram ao mesmo tempo guerreiros, feiticeiros e seguidores do islamismo. Do nome desse povo, veio o termo mandinga, no sentido de feitiço, mágica, coisa-feita, despacho. Embora fosse seguidor da religião islâmica, o fundador do Império Mali, Sundiata Keita, possuía, conforme se acreditava, poderes mágicos vindos dos amuletos que utilizava. As chamadas bolsas de mandinga eram costuradas em pano ou couro com passagens do Alcorão, portadas junto ao corpo para trazer proteção e poder, que se intensificavam em proporção direta ao número de talismãs usados.
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Veja o samba-enredo do Salgueiro
Enredo: Salgueiro de corpo fechado
Carnavalesco: Jorge Silveira
Autores: Xande de Pilares / Pedrinho Da Flor / Betinho De Pilares / Renato Galante / Miguel Dibo / Leonardo Gallo / Jorginho Via 13 / Jefferson Oliveira / Jassa / W Correa.
Salve, seu Zé, que alumia nosso morro
Estende o chapéu a quem pede socorro
Vermelho e branco no linho trajado
Sou eu malandragem de corpo fechado
Macumbeiro, mandingueiro, batizado no gongá
Quem tem medo de quiumba não nasceu pra demandar
Meu terreiro é a casa da mandinga
Quem se mete com o Salgueiro, acerta as contas na curimba
Macumbeiro, mandingueiro, batizado no gongá
Quem tem medo de quiumba não nasceu pra demandar
Meu terreiro é a casa da mandinga
Quem se mete com o Salgueiro, acerta as contas na curimba
Prepara o alguidar, acende a vela
Firma ponto ao sentinela
Pede a bênção pra vovô
Faz a cruz e risca a pemba
Que chegou Exu Pimenta e a falange de Xangô
Tem erva pra defumar, carrego o meu patuá
Adorei as almas que conduzem meu caminho
É mojubá, marabô, invoque a Lua
Que o povo da encruza não vai me deixar sozinho
Sou herança dos malês, bom mandingo e arisco
Uso a pedra de corisco pra blindar meu dia a dia
No tacho, arruda e alecrim, ô
Bala de chumbo contra toda covardia
Tenho a fé que habita o sertão
De Lampião, o cangaceiro
Feito Moreno, eu vou viver
Mais de cem anos no meu Salgueiro
Tenho a fé que habita o sertão
De Lampião, o cangaceiro
Feito Moreno, eu vou viver
Mais de cem anos no meu Salgueiro
Sou espinho qual fulô de macambira
Olho gordo não me alcança
Ante o mal, a pajelança pra curar
Sempre há uma reza pra salvar
O nó desata, liberdade pela mata
E os mistérios do axé, meu candomblé
Derruba o inimigo um por um
Eu levo fé no poder do meu contra-egum
Salve, seu Zé, que alumia nosso morro
Estende o chapéu a quem pede socorro
Vermelho e branco no linho trajado
Sou eu malandragem de corpo fechado
Macumbeiro, mandingueiro, batizado no gongá
Quem tem medo de quiumba não nasceu pra demandar
Meu terreiro é a casa da mandinga
Quem se mete com o Salgueiro, acerta as contas na curimba
Macumbeiro, mandingueiro, batizado no gongá
Quem tem medo de quiumba não nasceu pra demandar
Meu terreiro é a casa da mandinga
Quem se mete com o Salgueiro, acerta as contas na curimba
Quem se mete com o Salgueiro acerta as contas na curimba
Alguidar: recipiente redondo, feito de barro, madeira, metal ou plástico, usado para lavar, amassar, depositar oferendas, entre outras funções.
Exu-Pimenta: é uma entidade da Umbanda e do Candomblé, que surge para desafiar as crenças e escolhas das pessoas. Ele é um mensageiro das encruzilhadas, que envolve os personagens em decisões que mudam suas vidas.
Falanges de Xangô: grupos de entidades que atuam em diferentes situações, como em pedras, montanhas, cachoeiras e meteoritos.
Gongá: A palavra “gongá” pode ter vários significados, incluindo um altar na Umbanda, uma espécie de sabiá e uma pequena cesta.
Lampião: Lampião foi o chefe cangaceiro mais famoso da história brasileira e esteve à frente de seu bando de 1922 a 1938, sendo morto em uma emboscada em Sergipe.
Malês: eram os negros muçulmanos escravizados no Brasil e no século XIX. O termo “malê” vem do iorubá imalê, que significa “muçulmano”.
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Pedra de corisco: Também conhecida como pedra de raio, é uma lenda popular que diz que um raio deixa uma pedra enterrada no chão quando atinge a terra..
Qiumba: Quiumba ou Kiumba na umbanda se refere a espírito sem luz. São espíritos que não encontraram seu caminho e permanecem presos à terra como espíritos obsessores.
Curimba: pode referir-se a um grupo de pessoas que participam de rituais umbandistas.
Firma ponto ao sentinela: é uma expressão que pode significar a necessidade de alguém permanecer no mesmo lugar durante uma prática ritualística.
Patuá: amuleto ou saquinho que pode ser usado para proteção, sorte ou desenvolvimento pessoal. É muito utilizado em religiões de matriz africana, como o candomblé.
Pemba: giz ritualístico usado em religiões afro-brasileiras, ou a uma cidade em Moçambique ou Tanzânia.
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Mojubá: Mojubá é uma palavra iorubá que significa saudar, louvar os ancestrais ou expressar respeito por alguém ou algo. É uma saudação de encontro, que convida à compreensão, ao diálogo e à permanência dos encontros.
Moreno: é o apelido de Antonio Ignácio da Silva, um cangaceiro que participou do bando de Lampião e Maria Bonita.
Marabô: é o nome de uma entidade religiosa da Umbanda e do Candomblé, conhecida como Exu Marabô. É uma figura enigmática e sedutora, considerada um dos Exus mais respeitados e queridos.
Mandingo: é um termo que pode referir-se a um povo africano, a uma prática de feitiçaria e a uma planta.
Fulô de macambira: Fulô significa flor em algumas partes do nordeste. Macambira é uma planta espinhosa e com folhas rígidas, encontrada na região nordeste do Brasil.
Contra-egum: é um amuleto de proteção usado nas religiões afro-brasileiras, como o Candomblé e a Umbanda. É feito de palha da costa e trançado, e pode ser usado no braço, tornozelo ou barriga.
Seu Zé: Na umbanda, Seu Zé Pilintra vem na linha das almas ou dos baianos e se manifesta como os pretos-velhos, de traje branco simples e chapéu de palha, mas não dispensa o lenço vermelho