*Luiz Carlos Azedo
A nova política do ensino a distância foca profissões que estão sendo muito impactadas pelo aumento de número de profissionais e uso intensivo de tecnologia
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, nesta segunda-feira (16/5), decreto que proíbe a realização de cursos de direito, medicina, enfermagem, odontologia e psicologia a distância (EaD). Somente poderão se realizar no formato presencial, devido à necessidade de atividades práticas, laboratórios presenciais e estágios. Os demais cursos da área de saúde e as licenciaturas também terão de ser realizadas nos formatos presencial ou semipresencial com regras rígidas para as atividades a distância.
O ensino a distância no Brasil estava virando uma bagunça, com a proliferação de faculdades de baixa qualidade, que lançam milhares de profissionais despreparados no mercado de trabalho, inclusive em áreas que colocam em risco a segurança jurídica dos seus clientes e a saúde da população, sobretudo onde os profissionais não são concursados. Entre 2011 e 2021, o número de alunos em cursos superiores de graduação na modalidade EaD aumentou 474%, enquanto as matrículas em cursos presenciais diminuíram 23,4% no mesmo período. Em 2023, o número de matrículas na EaD alcançou 4,91 milhões de alunos, representando 49,2% do total de matrículas no ensino superior brasileiro.
A maioria das matrículas em EaD está concentrada em instituições privadas, que respondem por 95,9% das ofertas nessa modalidade. Entre os cursos mais procurados na EaD, destacam-se pedagogia, administração, sistemas de informação e enfermagem. Mesmo assim, a taxa de evasão dos cursos é de aproximadamente 58,44%, muito superior à evasão do ensino presencial, que foi de 21,48% em 2023. Além disso, questões relacionadas à qualidade dos cursos e à regulação da modalidade têm sido objeto de atenção por parte das autoridades educacionais.
Com a Nova Política de Educação a Distância (EaD), o governo quer garantir mais qualidade na ampliação e acesso à educação superior. Segundo o ministro da Educação, Camilo Santana, estão previstos dois anos de transição para adaptação gradual dos cursos. Os estudantes já matriculados em cursos EaD poderão concluí-los no formato previsto a partir do ato da matrícula.
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As principais mudanças são: nenhum curso poderá ser 100% a distância; o formato EaD passa a exigir que, no mínimo, 20% da carga horária seja cumprida presencialmente na sede da instituição ou em algum campus externo, com todos os participantes (professores e alunos) fisicamente presentes; ou por atividades como aulas on-line ao vivo, cujas provas devem ser presenciais. Na modalidade semipresencial, estão os cursos que tiverem obrigatoriamente, além da parte on-line, atividades presenciais físicas, como estágio, extensão ou práticas laboratoriais.
Inteligência artificial
A nova política do ensino a distância foca profissões que estão sendo muito impactadas pelo aumento de número de profissionais e uso intensivo de tecnologia, porém não atende plenamente a realidade das mudanças tecnológicas. A atual economia está sendo rapidamente ultrapassada. Essas medidas para resolver o problema de qualidade da oferta de serviços precisam também levar em conta as mudanças promovidas pela generalização do uso de inteligência artificial (IA) em praticamente todas as profissões tradicionais. Equipamentos caríssimos são sucateados e profissionais formados em décadas de estudo e trabalho não se adaptam às novas tecnologias.
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Mesmo entre os profissionais da área digital, as mudanças são avassaladoras. “Quem achar que entende tudo de IA se engana. No máximo pode ser especialista na IA da semana passada, não desta semana. Pode parecer exagero, mas é assim que está acontecendo. Toda semana, todo dia, é um novo lançamento vindo de alguma empresa para texto, imagem ou vídeo com resultados que surpreendem os próprios especialistas que procuram entender do assunto”, destaca o consultor de inovação Evandro Milet, ex-presidente do Sebrae e ex-diretor da Finep.
Segundo ele, o trabalhador digital inteligente, um agente de IA, existe e provoca uma nova revolução no mundo do trabalho. Nos EUA, a Microsoft demitiu 6000 funcionários, ou seja, 3% da sua força de trabalho, com objetivo de reduzir camadas de gestão e aumentar a eficiência. A IBM substituiu centenas de funcionários de RH por agentes de IA que agora automatizam 94% das tarefas rotineiras desse setor. Além disso, reduziu em 70% a carga de trabalho da equipe de TI.
Novas ferramentas permitem a criação de agentes autônomos em poucos minutos. Segundo o Relatório do Futuro do Trabalho de 2025, do Fórum Econômico Mundial, 41% dos empregadores planejam reduzir suas equipes devido à adoção da IA, percentual que sobe para 48% nos Estados Unidos. “Serviços que tomavam 40 horas de um cliente, hoje tomam 10 minutos por causa da IA. Se a empresa crescer, não precisa contratar pessoal, basta replicar o agente. E ele trabalha 24/7, 365 dias por ano”, destaca Milet. A alternativa será reduzir drasticamente a jornada de trabalho ou criar uma política de renda universal.
Agentes de IA podem operar dentro de grandes empresas acessando os sistemas departamentais, respondendo consultas feitas em linguagem natural ou, melhor ainda, executando tarefas. Substituir departamentos inteiros. “Já circula a ideia de que a propalada extrema carência de programadores no mundo não acontecerá mais. A IA tem uma eficiência enorme na geração de código”, conclui.
*Luiz Carlos Azedo, Jornalista, colunista do Correio Braziliense.
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