Para a modelo brasileira Glelany Cavalcante, 30, ter se tornado a Miss Universo Itália, em setembro passado, foi mais do que ganhar um título: foi a validação de uma história de muita luta. “Quando chamaram meu nome, pensei: ‘Deus, obrigada’”, revelou Glelany, ainda emocionada ao relembrar o momento da vitória, em conversa exclusiva com a coluna.
“Passou um filme na minha cabeça sobre tudo o que vivi porque, mesmo sabendo da minha capacidade, achei que minha cidadania poderia ser uma barreira. Ser escolhida mostrou que minhas origens e minha força pessoal são reconhecidas. Foi a realização de um sonho, ou melhor, o início dele. O objetivo principal ainda é o Miss Universo”.
A baiana de Feira de Santana, que vive no país europeu há quase uma década, subirá na noite deste sábado (16), ao palco da final do Miss Universo 2024, na Cidade do México, representando um país que aprendeu a chamar de lar.
Ao lado dela, estará a pernambucana Luana Cavalcante, 25, que defende o Brasil. Pela primeira vez, desde 1952, o país terá duas mulheres lutando pela coroa mundial na mesma edição.
Para Glelany, no entanto, chegar até o momento atual não foi fácil. Ela se mudou para a Itália em 2014 para trabalhar como modelo e iniciou sua vida em Milão conciliando o trabalho com a graduação em Comunicação Publicitária Internacional.
Hoje, além de miss e modelo, ela é empresária, proprietária de uma plataforma de e-commerce de moda, onde busca unir os estilos brasileiro e italiano, e está finalizando seu trabalho de conclusão de curso na universidade.
“Se eu pudesse definir esse momento em duas únicas palavras, seriam resiliência e orgulho. Superei muitas dificuldades, fui contra todos os estereótipos e acreditei em mim, na minha história e na minha força”, afirma a miss, que é casada há 7 anos e tem uma cachorrinha: “Sou mãe de pet”.
XENOFOBIA NA ITÁLIA; APOIO NO BRASIL
Apesar de ter recebido apoio após a coroação, a miss passou por situações que trouxeram momentos de dor. Ainda durante a competição, ela enfrentou episódios de xenofobia, com gritos de “volte para o Brasil” vindos da plateia do concurso na Itália.
“Isso me machucou, mas também me fortaleceu. Essas palavras só me motivaram mais ainda a lutar contra a intolerância e a xenofobia, levando uma mensagem de união e multiculturalismo. Podemos ter duas nações coexistindo na mesma pessoa e isso é um valor, não um conflito.”
Já no Brasil, o título de Glelany foi bastante celebrado e a miss recebeu apoio incondicional dos fãs de concursos. “Não esperava essa repercussão no Brasil. Tinha receio de que os brasileiros pudessem pensar que eu estava negando minhas origens por competir pela Itália. Mas o Brasil mostrou mais uma vez sua empatia e a compreensão de que ser italiana não anula minha essência brasileira, assim como ser brasileira não anula o meu ser italiano”.
A brasileira destacou ainda o apoio que recebeu dos italianos que abraçaram sua vitória. “Sinto uma gratidão imensa. Desde que cheguei à Itália, fui muito bem recebida. Esse apoio é essencial, principalmente para alguém que vive longe da família. Eles são uma referência para mim.”
PREPARAÇÃO PARA O MISS UNIVERSO
Com a agenda cheia, Glelany precisou reorganizar sua vida para focar na preparação para o Miss Universo. “Ainda não caiu a ficha completamente. Tudo aconteceu muito rápido, mas essa experiência já está me transformando. Estou levando ao palco a força histórica das mulheres italianas e o otimismo brasileiro. Essa combinação é única.”
Ela também afirma que tem trazido o jeito baiano de ser ao certame. “A energia da Bahia é contagiante. Esse otimismo e alegria são importantes em uma competição tão intensa. Estou mostrando que minha essência brasileira complementa minha identidade italiana.”
O projeto social de Glelany, para a etapa do concurso que avalia o filantropismo das misses, intitulada “Voice for Change”, tem como foco arrecadar fundos para o treinamento de cães de assistência para pessoas com deficiências.
O diferencial é a inclusão de mensagens de empoderamento em produtos vendidos, como camisetas com frases de ativistas como a americana Audre Lorde (1934-1992), que advogava pelos direitos das mulheres. “Foi uma das chaves para minha vitória no Miss Itália e é algo que estou evidenciando no Miss Universo.”
DESAFIO PARA A ITÁLIA
Com a final do concurso se aproximando, Glelany afirma que se sente abençoada por todos que torcem por ela. “Agradeço de coração a todos os brasileiros e italianos que acreditam em mim. Estou dando o meu melhor para representar o que há de melhor em cada um desses países.”
Seu grande desafio agora é trazer pela primeira vez a coroa de Miss Universo para a Itália, que não conquista o mundial desde sua edição inaugural. O país chegou mais perto do trono apenas em duas ocasiões: com os segundo lugares de Roberta Capua, em 1987, e de Daniela Bianchi, em 1960.
A última vez em que a Itália avançou no mundial foi em 2014, quando a representante Valentina Bonariva entrou no grupo de 15 semifinalistas (Top 15). Desde então, não obteve mais colocações na disputa. Glelany, no entanto, não é a primeira estrangeira a representar a Itália no Miss Universo, já que a Miss Itália 1997 é Denny Mendez, nascida na República Dominicana.
Se vencer, a baiana não será apenas a primeira brasileira a conquistar o título por outro país, mas também um símbolo da união entre culturas e da força de uma mulher que transformou desafios em motivação.
Com informações do f5, da Folha de S. Paulo