Por que celebrar a Semana Santa ainda hoje?

A partir deste Domingo, que a liturgia da Igreja católica chama de Domingo de Ramos da Paixão do Senhor, damos início a uma semana especial pelo seu sentido histórico e espiritual. A tradição cristã a considera como “Semana Maior”, não pelo quantitativo dos dias, que são sempre os mesmos sete dias da semana, mas pelo qualificativo. Esta Semana dá sentido aos dias e é horizonte de tudo o que o cristão procura ser e viver. Semana Maior porque nesses dias o amor de Deus foi definitivamente demonstrado e derramado sobre a humanidade. Nesta semana as palavras de Jesus, “ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelo amigo” (Jo 15, 13), foram comprovadas em gestos extraordinários e concretos. Nela a obra da redenção da humanidade foi realizada.

O decisivo da vida humana é o amor de Deus que foi capaz de superar todos os limites e obstáculos, mostrando assim a verdadeira força que pode sustentar o mundo e a existência de cada pessoa. Através da cruz, abraçada por Cristo, este amor foi doado a nós e é nosso para sempre.

A Conferência dos episcopado latino-americano, em Aparecida, no ano de 2007, afirmou que “o que nos define não são as circunstâncias dramáticas da vida, nem os desafios da sociedade ou as tarefas que devemos empreender, mas todo o amor recebido do Pai, graças a Jesus Cristo pela unção do Espírito Santo.” (n. 14)

Em um mundo onde o consumismo tem a pretensão de ditar o horizonte da vida, e o relativismo impõe a sua ditadura, negando a capacidade do ser humano de alcançar uma verdade definitiva, Cristo surpreende a humanidade com um amor gratuito e possível de se possuir para sempre.

A humanidade sempre careceu desse amor, pois é próprio da sua experiência a fragilidade. O mundo ao nosso redor parece dissolver. Assistimos a evolução de tantas crises pessoais, familiares, religiosas e sociais, que podem gerar a pior das crises que é a crise de esperança. Sem esperança não há motivação para dar passos. A esperança é sempre motor da vida.

Mas, se por um lado o limite nos toca, por outro, o “Infinito” veio ao nosso encontro, na história e nos deu acesso à única realidade que pode salvar a nossa vida. “Só o amor salva”, já bem dizia o grande São Maxiliano Kolbe, que em Auschwitz ofereceu a sua vida em troca da vida de um pai de família condenado a morrer.

A Semana Santa culminará com a celebração da Vigília Pascal, mãe de todas as vigílias, que tem no centro o mistério da Páscoa de Cristo e da Páscoa do cristão através do Batismo e dos outros sacramentos da iniciação cristã. É precisamente através desses “sinais sagrados” que a pessoa humana pode tomar posse da realidade da vida nova no amor que Cristo nos doou. Assim, celebrar a Páscoa nos dias da Semana Santa é oportunidade de recomeço e de transformação pessoal e social, consequentemente.

Esses dias de memória e de celebração dos gestos de misericórdia de Deus para conosco, em seu Filho amado, nos ajudem a recuperar a esperança diante dos grandes desafios que estamos enfrentando. Um dos frutos imediatos da Páscoa do Senhor é o dom da sua paz. O nosso mundo carece de paz na relação entre as nações, mas também nas relações interpessoais. A Campanha da Fraternidade deste ano nos tem ajudado a recuperar o valor da amizade social. O Cristo que rompe as correntes do ódio e da morte, seja luz e força no compromisso diário de viver segundo a lógica do amor e da paz.

Boa celebração da Semana Santa!


*Dom Gilson é carioca, nascido no Méier e criado em Mendes no sul fluminense. Fez parte do clero de Petrópolis, estudou em Roma e foi bispo auxiliar de Salvador (BA). Nomeado pelo Papa Francisco em 27 de junho de 2018, tornou-se o 6º bispo da Diocese de Nova Iguaçu. Em 2018, durante a 57ª Assembleia Geral da CNBB, foi eleito pelos bispos do Rio de Janeiro como Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB.

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