Ícone do site Nova Iguassu Online

Policiais rodoviários federais que mataram menina dentro de um carro no Arco Metropolitano serão julgados em setembro

Os três réus são acusados pelo Ministério Público Federal pelo crime ocorrido em 7 de setembro de 2023

O julgamento dos três acusados de matar a menina Heloísa, de 3 anos, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro em 7 de setembro do ano passado, já tem data marcada. Wesley Santos da Silva, Matheus Domicioli Soares Viegas Pinheiro e Fabiano Menacho Ferreira, policiais rodoviários federais, são acusados de atingirem a criança na nuca com disparos enquanto ela estava no carro da família com outras quatro pessoas, retornando de um passeio na região do Arco Metropolitano, em Seropédica. A denúncia foi apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF), em novembro de 2023.

A audiência de instrução e as oitivas, previstas para os dias 10, 11 e 13 de setembro, iniciam o julgamento dos réus pelos crimes de homicídio consumado e quatro tentativas de homicídio, além do crime de fraude processual. Atualmente, eles cumprem medidas cautelares de uso de tornozeleira eletrônica e proibição de se aproximarem das vítimas.

Segundo o coordenador do Núcleo de Controle Externo da Atividade Policial, o procurador da República Eduardo Benones, o início efetivo do julgamento dos policiais acusados pela morte da menina Heloísa é, para o MPF, um momento importante.

“A acusação foi precedida por investigação minuciosa, e estamos convencidos que há justa causa para que os réus respondam por seus atos. Por outro lado, acreditamos que esta é a resposta mínima que o Estado pode dar aos familiares das vítimas que perderam seus entes exatamente por ação de agentes deste Estado. Quando o sistema judicial funciona, como neste caso, obedecendo aos procedimentos legais, mas sem seletividade e com celeridade, damos um passo a mais na restauração da credibilidade que o referido sistema precisa ter junto à sociedade”, declara o procurador.

Ele ressalta também que tudo será feito conforme os princípios do processo penal. “Evidente, que tudo faremos para que o julgamento do início ao fim ocorra com estrita observância dos princípios que regem o processo penal democrático, especialmente com obediência ao devido processo e à ampla defesa. Com isto em mente, esperamos que, superada a fase inicial, os réus sejam pronunciados e submetidos ao Júri Popular, onde temos convicção de que a justiça será feita com o veredicto condenatório”, completa Benones.

Na denúncia, o MPF defende que os três agentes devem responder pela prática dos crimes, conforme prevê o Código Penal (art.29). Para o órgão, não há dúvidas de que os policiais decidiram, “em comunhão de desígnios e por vontade livre e desimpedida”, se aproximar do veículo e atirar contra ele. A denúncia destaca que, conforme apurado na investigação, em nenhum momento houve discordância entre os acusados quanto a essa decisão.

O MPF também rebate o argumento dos réus de que a perseguição teria sido motivada pela informação de que se tratava de veículo roubado. Segundo o órgão, nos registros do Departamento Nacional de Trânsito (Detran) não havia nenhuma restrição ao veículo. Além disso, o carro foi comprado pelo valor de mercado e tanto o pai de Heloísa quanto o vendedor afirmaram desconhecer o registro de roubo, datado de agosto de 2022.

As armas usadas pelos policiais na ação foram fuzis considerados de grosso calibre e longo alcance. Na denúncia, o procurador da República Eduardo Benones lembra que esse tipo de armamento foi projetado para uso militar, por ter maior velocidade, menor recuo e, consequentemente, por aumentar a letalidade. “Apesar do longo alcance do fuzil utilizado e de seu alto poder de fogo, o teor dos depoimentos prestados pelas testemunhas prova que a distância entre os atiradores na viatura policial e as vítimas não era mais do que vinte metros no momento dos disparos”, afirma. Segundo ele, mesmo portando pistolas no momento da perseguição, os agentes optaram por usar os fuzis.

A denúncia também destaca o fato de não ter havido nenhuma abordagem ao motorista do veículo pelos policiais antes dos disparos. Testemunhas ouvidas durante a investigação afirmaram que, entre o momento em que o veículo passou pela viatura policial e os tiros, não houve nem sequer um esboço de comunicação. Para o MPF, o fato evidencia que os agentes da PRF quiseram a morte dos ocupantes do veículo ou, no mínimo, assumiram o risco de que isso acontecesse.

Também chama atenção o fato de não ter havido nenhum disparo contra os pneus do carro. Tanto que nem foi preciso trocá-los para que o veículo – conduzido por um dos policiais e com o pai de Heloísa como passageiro – pudesse chegar até o hospital onde a menina foi atendida. “Em outras palavras, não houve a intenção de deter ou advertir”, resume a denúncia. Heloísa ficou internada por 9 dias no Hospital Adão Pereira Nunes, mas acabou não sobrevivendo, em razão dos ferimentos.

*Com informações do portal Agenda do Poder.

Sair da versão mobile