Páscoa: festa da esperança

*Dom Gílson Andrade

O ano jubilar que estamos vivendo, nos 2025 anos do nascimento de Cristo, tem como motivação a afirmação do Apóstolo São Paulo de que “a esperança não decepciona” (cf. Rm 5, 5). Ninguém melhor do que ele para dar testemunho do que a sua fé, ancorada na esperança, pôde realizar em favor dele próprio e das comunidades que fundou. Quando se fala de esperança a partir da própria experiência, esta virtude mostra a força motriz que tem na vida do homem e da mulher de fé.

Bento XVI escreveu uma carta encíclica chamada Spes salvi (Salvos na esperança – Rm 8, 24), que convém revisitar neste jubileu. Entre tantas belas e profundas afirmações, diz que“o testemunho do cristão é o sinal mais claro da esperança ativa no coração humano”(n. 34). De certo modo, podemos dizer que o cristão age sempre apoiado na fé que professa e na esperança que o impulsiona a agir na caridade no concreto da vida. Sem essas três grandes forças que Deus nos comunica, a fé, a esperança e a caridade, a vida cristã não entrega tudo o que pode oferecer como novidade de vida. As três andam juntas e colocam Deus no centro de tudo o que somos e fazemos, ao mesmo tempo dão o sentido mais profundo do nosso estar e do nosso agir neste mundo, projetando-nos para o Reino futuro, a eternidade.

O tema do jubileu nos convida precisamente a buscar alcançar este horizonte mais alto, porém real e muito diferente daquele que normalmente os acontecimentos presentes poderiam nos sugerir.

Ao lançar um olhar sobre o nosso mundo podemos ter a tentação de pensar que não há saídas possíveis diante da quebra das relações, do crescimento da violência, do relativismo filosófico e religioso, das ideologias que negam a identidade mais profunda da pessoa humana, das guerras, das mudanças climáticas e etc.

No entanto, é sempre bom recordar aquelas palavras decisivas do Arcanjo Gabriel à Virgem Maria: “Para Deus nada é impossível”. Este “para Deus” é importante quando se fala de esperança, pois a nossa esperança é teologal: vem de Deus e nos leva a Ele.

O Papa Francisco nos disse no tempo desolador da pandemia, quando o mundo inteiro se voltou para a sua figura solitária, na Praça São Pedro, no dia 27 de março de 2020: “Temos uma âncora: na sua cruz fomos salvos. Temos um leme: na sua cruz fomos resgatados. Temos uma esperança: na sua cruz fomos curados e abraçados,

*para que nada e ninguém nos separe do seu amor redentor”.

Portanto, onde está nossa esperança? Na Cruz e na Ressurreição do Senhor Jesus, ou seja, no mistério da sua Páscoa. A Páscoa é a festa da esperança que não decepciona. Deus entrou com toda a potência do seu amor na impotência e fragilidade humanas. O seu amor que atravessou a Cruz permanece conosco porque Cristo está vivo e deixa os sinais da sua vitória, mesmo com as marcas das suas e das nossas feridas. Deus pode mais porque é todo-poderoso no seu amor.

Algumas pessoas evitam a palavra “poderoso” ao falar de Deus. Mas é justamente o seu amor que mostra toda a sua onipotência. Um amor que nunca decepciona, que sempre está presente e que, na Ressurreição, pode alcançar a humanidade inteira em todos os tempos.

Celebremos na alegria a vitória do Cristo ressuscitado que é o único capaz de garantir a esperança que torna possível a presença renovadora do Reino de Deus na frágil história humana, dando-lhe novas e melhores possibilidades.

*Dom Gilson é carioca, nascido no Méier e criado em Mendes no sul fluminense. Fez parte do clero de Petrópolis, estudou em Roma e foi bispo auxiliar de Salvador (BA). Nomeado pelo Papa Francisco em 27 de junho de 2018, tornou-se o 6º bispo da Diocese de Nova Iguaçu. Em 2018, durante a 57ª Assembleia Geral da CNBB, foi eleito pelos bispos do Rio de Janeiro como Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB.

Compartilhe
Publicidade
Veja também