ONU diz que 25% do Líbano está sob ordens de retirada impostas por Israel

Acnur destaca drama de refugiados que são obrigados a se deslocar em meio à escalada da guerra entre Israel e o Hezbollah | Foto: REUTERS/Walid Saleh

Israel, que iniciou incursões no sul do Líbano há duas semanas para combater o grupo militante Hezbollah, apoiado pelo Irã, emitiu ordens de retirada militar que afetam mais de um quarto do país, informou a agência de refugiados da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira (15).

Os números destacam o alto preço que os libaneses estão pagando à medida que Israel intensifica sua campanha para derrotar o Hezbollah e destruir sua infraestrutura no conflito que já dura um ano.

O diretor da agência de refugiados da ONU para o Oriente Médio, Rema Jamous Imseis, disse em uma coletiva de imprensa em Genebra que as novas ordens israelenses de retirada para 20 vilarejos no sul do Líbano significam que mais de um quarto do país foi afetado.

“As pessoas estão atendendo a esses pedidos de retirada e estão fugindo com quase nada”.

Os ataques israelenses mataram pelo menos 2.309 pessoas no último ano, segundo o governo libanês, e mais de 1,2 milhão de pessoas foram deslocadas.

A maioria foi morta desde o final de setembro, quando Israel expandiu sua campanha militar. O número de mortos não faz distinção entre civis e combatentes.

Cerca de 50 israelenses, entre soldados e civis, foram mortos, de acordo com Israel.

Israel diz que sua operação no Líbano visa garantir o retorno de dezenas de milhares de moradores forçados a fugir de suas casas no norte de Israel devido aos ataques do Hezbollah.

Israel expandiu sua campanha de bombardeio no Líbano na segunda-feira, matando pelo menos 22 pessoas — a maioria delas mulheres — em um ataque aéreo no norte em uma casa onde pessoas deslocadas estavam buscando refúgio dos ataques israelenses mais ao sul, disseram autoridades de saúde.

“O que estamos ouvindo é que entre as 22 pessoas mortas havia 12 mulheres e duas crianças”, disse o porta-voz do escritório de direitos humanos da ONU, Jeremy Laurence, na mesma coletiva de imprensa, em resposta a uma pergunta sobre o ataque de segunda-feira em Aitou, de maioria cristã.

“Entendemos que foi um prédio residencial de quatro andares que foi atingido. Com esses fatores em mente, temos preocupações reais com relação ao Direito Internacional Humanitário, ou seja, as leis da guerra e os princípios de distinção, proporção e proporcionalidade”, disse ele, pedindo uma investigação sobre o incidente.

As equipes de resgate ainda estavam retirando corpos dos escombros em Aitou nesta terça-feira, informou a mídia local, após um dos ataques mais mortais contra famílias deslocadas no Líbano, depois dos ataques no início deste mês na cidade de Ain Deleb, no sul do Líbano, que deixou mais de 30 mortos.

Israel não comentou sobre o ataque a Aitou, mas afirmou repetidamente que toma todas as precauções possíveis para evitar vítimas civis.

Ataques às Forças de Paz

Até o momento, o foco principal das operações militares de Israel no Líbano tem sido o Vale de Bekaa, no leste, os subúrbios de Beirute e no sul, onde as forças de paz da ONU afirmaram que o fogo israelense atingiu suas bases em diversas ocasiões e feriu integrantes das forças de paz.

Na segunda-feira, o Conselho de Segurança da ONU expressou grande preocupação depois que várias posições de forças de manutenção da paz no sul do Líbano foram novamente atacadas em meio a confrontos entre os militares israelenses e o Hezbollah.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em visita a uma base militar no centro de Israel, onde quatro soldados foram mortos no domingo por um ataque de drones do Hezbollah, disse que Israel continuar a atacar o movimento “sem piedade, em todos os lugares do Líbano – incluindo Beirute”.

O conflito entre Israel e o Hezbollah foi retomado há um ano, quando o grupo militante começou a disparar foguetes contra Israel em apoio ao Hamas no início da guerra de Gaza.

Enquanto isso, o Oriente Médio permanece em alerta máximo para que Israel retalie o Irã por uma barragem de mísseis lançada em 1º de outubro em resposta aos ataques de Israel ao Líbano.

O gabinete de Netanyahu disse que Israel ouviria os Estados Unidos, mas decidiria suas ações de acordo com seus próprios interesses nacionais.

A declaração foi anexada a um artigo do Washington Post que dizia que Netanyahu havia dito ao governo do presidente norte-americano, Joe Biden, que Israel atacaria alvos militares iranianos, e não alvos nucleares ou petrolíferos — sugerindo um contra-ataque mais limitado com o objetivo de evitar uma guerra em grande escala.

O emir do Catar acusou Israel nesta terça-feira de explorar a “inação internacional” na crise do Oriente Médio para ir além de sua “agressão” em Gaza e construir mais assentamentos ilegais na Cisjordânia ocupada e enviar tropas para o Líbano.

“Israel escolheu deliberadamente expandir a agressão para implementar esquemas pré-planejados em outros locais, como a Cisjordânia e o Líbano, porque vê que o escopo para isso está disponível”, disse o xeque Tamim bin Hamad Al-Thani em seu discurso anual de abertura do Conselho Shura do Catar.

O Catar, os Estados Unidos e o Egito têm mediado repetidamente na tentativa de acabar com a guerra em Gaza, que eclodiu há um ano, quando combatentes do grupo militante palestino Hamas invadiram Israel a partir de Gaza e mataram 1.200 pessoas, de acordo com os registros israelenses.

A ofensiva de Israel matou mais de 42.000 pessoas em Gaza, transformou o enclave em pilhas de cimento e metal retorcido e criou uma grave escassez de alimentos, água e combustível.

Entenda a escalada nos conflitos do Oriente Médio

O ataque com mísseis do Irã a Israel no dia 1º de outubro marcou uma nova etapa do conflito regional no Oriente Médio. De um lado da guerra está Israel, com apoio dos Estados Unidos. Do outro, o Eixo da Resistência, que recebe apoio financeiro e militar do Irã e que conta com uma série de grupos paramilitares.

São sete frentes de conflito abertas atualmente: a República Islâmica do Irã; o Hamas, na Faixa de Gaza; o Hezbollah, no Líbano; o governo Sírio e as milícias que atuam no país; os Houthis, no Iêmen; grupos xiitas no Iraque; e diferentes organizações militantes na Cisjordânia.

Israel tem soldados em três dessas frentes: Líbano, Cisjordânia e Faixa de Gaza. Nas outras quatro, realiza bombardeios aéreos.

O Exército israelense iniciou uma “operação terrestre limitada” no Líbano no dia 30 de setembro, dias depois de Israel matar o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em um bombardeio ao quartel-general do grupo, no subúrbio de Beirute.

As Forças de Defesa de Israel afirmam que mataram praticamente toda a cadeia de comando do Hezbollah em bombardeios semelhantes realizados nas últimas semanas.

No dia 23 de setembro, o Líbano teve o dia mais mortal desde a guerra de 2006, com mais de 500 vítimas fatais.

Ao menos dois adolescentes brasileiros morreram nos ataques. O Itamaraty condenou a situação e pediu o fim das hostilidades.

Com o aumento das hostilidades, o governo brasileiro anunciou uma operação para repatriar brasileiros no Líbano.

Na Cisjordânia, os militares israelenses tentam desarticular grupos contrários à ocupação de Israel ao território palestino.

Já na Faixa de Gaza, Israel busca erradicar o Hamas, responsável pelo ataque de 7 de outubro que deixou mais de 1.200 mortos, segundo informações do governo israelense. A operação israelense matou mais de 40 mil palestinos, segundo o Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo Hamas.

O líder do Hamas, Yahya Sinwar, segue escondido em túneis na Faixa de Gaza, onde também estariam em cativeiro dezenas de israelenses sequestrados pelo Hamas.

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