Por que certas inovações urbanísticas demoram tanto para serem adotadas nas cidades brasileiras? Seria falta de recursos, resistência à mudança ou um foco difuso e descontínuo das políticas governamentais? É possível que um pouco de cada uma dessas causas, entre outras razões, seja responsável pelo atraso na implementação de melhorias tão desejadas quanto postergadas.
Refiro-me, por exemplo, à implantação de parques urbanos em áreas centrais de cidades médias e grandes. Dotados de espaços verdes com dimensões generosas, incrementados por funções recreativas, esportivas, sociais e culturais, esses ambientes públicos tornam-se anfitriões da urbanidade. O primeiro parque desse tipo nas Américas foi o Passeio Público, com cerca de 30 mil metros quadrados, implantado no Rio de Janeiro no final do século XVIII, quando a cidade possuía pouco mais de 100 mil habitantes.
Outra referência de parque urbano é o Trianon, em São Paulo. Inaugurado em 1892, com quase cinco hectares, quando a capital paulista abrigava cerca de 60 mil pessoas. Considerando que existem 319 cidades com mais de 100 mil habitantes, segundo o censo de 2022, e a capacidade de um equipamento desse tipo de alavancar a qualidade de vida e a coesão social, eles deveriam estar mais presentes nas cidades e ser mais desejados pela população.
O Ibirapuera, um dos maiores parques urbanos do Brasil, comemora 70 anos de existência “se achando”, pois virou o xodó dos paulistanos e um ícone de São Paulo. Toda cidade mereceria ter um semelhante para chamar de seu. Trata-se de um equipamento indispensável para uma vida melhor e mais saudável para todos.
Uma inovação urbanística genuinamente brasileira, posta em prática há exatos 50 anos, também demorou muito a ser replicada em outras cidades. Falo do sistema de ônibus por vias exclusivas, com embarque em nível nas estações e cobrança antecipada de tarifas, entre outras novidades, inaugurado em Curitiba em 1974, quando a cidade tinha pouco mais de 600 mil habitantes. De lá para cá, apenas 30 cidades brasileiras conseguiram se inspirar nessa inovação e aperfeiçoar seus sistemas de transporte público.
Pesquisas recentes indicam que o transporte por ônibus nas cidades brasileiras perdeu 1/3 dos passageiros transportados nos últimos anos. Se considerarmos apenas cidades com mais de 250 mil habitantes, seriam cerca de 90 com necessidade, para não dizer urgência, de aperfeiçoar seus sistemas de mobilidade urbana, inspiradas na bem-sucedida inovação de Curitiba. Não pode ser apenas falta de vontade política ou de recursos a razão de tanta resistência à mudança.
Outra prática inovadora deixada de lado em muitas cidades brasileiras foi a de construir edifícios residenciais nas suas áreas centrais. O exemplo mais caricato dessa atitude ocorreu no centro do Rio. Inaugurada há exatos 80 anos, a Avenida Presidente Vargas recebeu, quatro anos depois de aberta, um edifício residencial, o famoso Balança Mas Não Cai. Desde então, nenhum outro surgiu. Só recentemente foi lançado um novo edifício, com grande sucesso de vendas. Que seja o primeiro de muitos a ajudar a reverter essa prática de afastar a moradia do centro.
As mudanças comprovadamente eficazes promovidas por algumas cidades brasileiras tem demorado muito para se tornarem realidade em outras. É imperioso fazer esse tempo de espera andar mais rápido.
*Vicente Loureiro, arquiteto e urbanista, doutorando pela Universidade de Lisboa, é autor dos livros Prosa Urbana e Tempo de Cidade