‘Novo Escritório do Crime’ cobrava cerca de R$ 150 mil por cada morte encomendada, diz MPRJ

PMs e ex-PMs do Rio são suspeitos de ter relações com organização criminosa ligada à contravenção; Na foto, os policiais militares Bruno Marques da Silva, o Bruno Estilo; e Alessander Ribeiro Estrella Rosa, o Tenente Alessander

O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) denunciou um grupo criminoso identificado como o “Novo Escritório do Crime”, acusado de executar assassinatos por encomenda, comercializar armas e atuar a serviço da contravenção no estado. Segundo a denúncia apresentada pelo Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o grupo cobrava cerca de R$ 150 mil por cada homicídio contratado. As informações são do jornal O Globo.

A estrutura criminosa remete à atuação do antigo Escritório do Crime, comandado pelo ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, morto em 2020 na Bahia. As investigações do Gaeco indicam que, além da atuação violenta, o grupo mantinha forte conexão com integrantes da Polícia Militar e operava com apoio logístico de agentes da ativa e ex-policiais.

O valor cobrado por execução foi citado em depoimento relacionado à morte de Fábio Romualdo Mendes, em setembro de 2021. Apontado como aliado do sargento Márcio Araújo, responsável pela segurança do bicheiro Rogério Andrade, Fábio foi executado a tiros dentro de seu carro, enquanto aguardava a esposa sair de um posto de saúde em Vargem Pequena, na Zona Oeste do Rio.

“Segundo a denúncia do MPRJ, a quadrilha de Ganso foi responsável por pelo menos dois homicídios com características de execução, praticados à luz do dia e com uso de armamento pesado.”

Testemunhas relataram ao MP que, após o assassinato, dois membros do grupo passaram a exibir sinais de enriquecimento repentino. Um iniciou reformas em casa, a esposa do outro colocou próteses de silicone e um terceiro começou a atuar como agiota. A movimentação levantou suspeitas entre os investigadores.

Foram denunciados pela execução de Fábio Romualdo o sargento da PM Bruno Marques da Silva, conhecido como Bruno Estilo; Rodrigo de Oliveira Andrade de Souza, o Rodriguinho; e Anderson de Oliveira Reis Viana, conhecido como Papa ou 2P. Os dois primeiros estão presos; Anderson está foragido.

Outros seis suspeitos também foram incluídos na denúncia: o capitão da PM Alessander Ribeiro Estrella Rosa, o Tenente Alessander; o cabo Diogo Briggs Climaco das Chagas; o ex-PM Thiago Soares Andrade da Silva, o Ganso; além de André Costa Bastos, o Boto; Diony Lancaster Fernandes do Nascimento; e Vitor Francisco da Silva, o Vitinho Fubá. Parte deles já estava presa e dois se entregaram após a deflagração da operação do Gaeco em 15 de maio. Vitor segue foragido.

Todos os denunciados vão responder por organização criminosa armada, sequestro e comércio ilegal de armas e munições. De acordo com o MP, Thiago Soares, o Ganso, seria o líder do grupo, mesmo preso na Cadeia Pública Constantino Cokotós, em Niterói. As investigações apontam que ele mantinha o comando das ações e também era responsável por vender armas apreendidas durante operações policiais, prática atribuída diretamente ao capitão Alessander.

As execuções atribuídas ao grupo foram planejadas com minúcia e executadas à luz do dia, com armamento pesado. “Em conversas extraídas dos celulares dos denunciados, com autorização da Justiça, integrantes comentam sobre as dificuldades de executar Fábio Romualdo, que andava em carro blindado. Daí a necessidade de usar fuzis, segundo os criminosos.”

Outro homicídio atribuído à quadrilha é o de Neri Peres Júnior, executado em 4 de outubro de 2023. Ele também era ligado ao grupo rival. Nas conversas interceptadas pela Justiça, os suspeitos mencionam o uso de um fuzil calibre 7.62, identificado no diálogo como “62”, com o objetivo de “estragar” a vítima. O rosto de Neri foi desfigurado pelos tiros.

“Durante o planejamento do crime — de acordo com uma das conversas extraídas da quebra de dados telemáticos —, Rodrigo pede a Bruno Marques para providenciar o ’62’. Segundo a denúncia, uma referência ao fuzil calibre 7.62, pois queria ‘estragar’ a vítima.”

A Polícia Militar, em nota, declarou que “a Corregedoria da corporação está apoiando e contribuindo com as ações”.

A reportagem procurou os advogados dos envolvidos. Apenas a defesa de Bruno Marques se manifestou até o momento. O advogado Hugo Novais afirmou que seu cliente é inocente e criticou a prisão: “Não há justificativa para sua prisão antecipada, uma vez que os fatos em apuração ocorreram há mais de três anos”.

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