*Luiz Carlos Azedo
O ativismo político extremado do magnata nas redes sociais -— embora o X represente apenas uma pequena fração de toda a sua fortuna —, pode contaminar outros negócios
O comportamento do magnata sul-africano radicado nos Estados Unidos Elon Musk, que desde a aquisição do antigo Twitter se tornou um ator político ligado aos líderes de extrema direita no mundo — entre os quais os ex-presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro —, começa a preocupar os investidores e provoca a queda no valor de suas empresas. O fato preocupa seus parceiros comerciais, inclusive na Starlink e na SpaceX, hoje a maior empresa aeroespacial do planeta.
No sábado passado, o jornalista Brian Boyle, do The Daily Upside, revelou que o grupo de investimentos Fidelity voltou a reduzir o valor da posição do fundo Child Brow Chink no X. O relatório da empresa aponta uma queda de 73% na avaliação da plataforma desde a aquisição do Twitter, por US$ 44 bilhões, em outubro de 2022. Fontes do mercado financeiro também revelaram à Bloomberg que um grupo bancário liderado pelo Morgan Stanley realizou conversa com Musk sobre o refinanciamento de uma dívida do X de aproximadamente U$ 12,5 bilhões.
O Fidelity ajudou Musk em sua aquisição da rede social. No relatório divulgado sábado, que rastreou o desempenho do Fundo de Crescimento do Chip Blue, em fevereiro, o valor da sua participação caiu 5,7% em relação ao mês anterior. A participação geral é agora de US$ 5,3 bilhões.
A desvalorização da X é um reflexo da perda de receitas em razão da aproximação de Musk com lideranças de extrema direita e da utilização da plataforma por grupos radicais, que afastam anunciantes. Disney, Apple e IBM deixaram de anunciar por causa de posts antissemitas. O X gerou cerca de US$ 2,5 bilhões em vendas de anúncios no ano passado. Segundo as fontes do Bloomberg, houve uma queda de US$ 3 bilhões.
Em 2021, antes da compra por Musk, o Twitter reportou US$ 5 bilhões em receita de anúncios. Isso faz com que o X seja uma das poucas plataformas com resultados negativos num mercado de publicidade muito forte. Na semana passada, a consultoria Magna projetou um crescimento de receita de anúncios de mídia social de 14% nos EUA este ano, passando a marca de US$ 80 bilhões. Ou seja, a plataforma X está na contramão dessa expansão.
Os problemas de Musk não são apenas com as redes sociais. O valor das ações da Tesla, fabricantes de carros elétricos, caiu 29% nos primeiros três meses do ano, o pior desempenho na S&P 500, índice composto por 50 ativos cotados nas bolsas de Nova York e Nasdaq.
Fora do padrão
O comportamento exaltado do magnata também preocupa os investidores, porque é Musk é usuário de cetamina, segundo revelou a agência de notícias Reuters. O medicamento produz um estado de transe, proporciona alívio da dor e sedação, mas também provoca perda de memória. Em entrevista à CNN, Musk chegou a dizer que a droga o ajuda a gerenciar um “estado químico negativo” semelhante à depressão.
“Do ponto de vista da Wall Street, o que importa é a execução”, disse Musk, que comanda a montadora de carros elétricos, a empresa de foguete Spacex e a plataforma de redes sociais X. A Tesla vale mais do que toda a indústria automobilística norte-americana combinada. “Para os investidores, se houver algo que estou tomando, eu deveria continuar a tomar”, acrescentou.
As confusões que Musk criou na Inglaterra, na União Europeia e na Austrália, sempre se colocando acima das autoridades e protagonizadas por meio do X, criaram um ambiente internacional desfavorável para seu confronto com a Justiça brasileira. E assustou os investidores, porque o bloqueio dos ativos financeiros da Starlink no Brasil é um precedente perigoso para seus negócios no mundo. Mostra que o ativismo político do magnata nas redes sociais — embora o X represente uma pequena fração de sua fortuna — pode contaminar os demais negócios do empresário.
Esse era o sentimento, ontem, entre executivos das gigantes das redes sociais, preocupados com a quebra do pacto de autorregulação das big techs com as autoridades dos países onde atuam. Se as empresas perderem a capacidade de curadoria e mediação das postagens, haverá uma mudança de paradigma na relação das redes sociais não só com os Estados nacionais, mas, também, a com a sociedade, porque passarão a ser responsabilizadas e punidas pelas postagens de seus usuários, como aconteceu com o X.
Ontem, a Starlink anunciou que cumprirá o bloqueio do X no Brasil. Responsável pelo fornecimento de sinais de internet a regiões remotas, a empresa havia ventilado que não seguiria a determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que ordenou que as operadoras tirassem a rede social do ar por não indicar um representante no Brasil.
A empresa informou, também, que iniciou um processo legal na Suprema Corte dos EUA, onde a empresa tem sede, explicando a “ilegalidade grosseira” da ordem de Moraes, que congelou suas finanças e a impediu de realizar transações financeiras no Brasil.
*Luiz Carlos Azedo, Jornalista, é colunista do Correio Braziliense.
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