*Luiz Carlos Azedo

A decisão ocorre às vésperas de um grande ato que está sendo convocado para domingo, em Copacabana, que terá a presença do governador Tarcísio de Freitas, que encabeçaria a “chapa dos sonhos” da Faria Lima em 2026
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou a medida liminar que impedia o contato do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que não se encontravam havia mais de um ano. A decisão foi tomada no âmbito do inquérito que apura uma tentativa de golpe de Estado pelo ex-presidente e aliados.
Valdemar não foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) nesse caso, porque não surgiu nenhuma prova efetiva de que estaria envolvido na invasão do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). Os prédios dos Três Poderes foram vandalizados por bolsonaristas em 8 de janeiro de 2023, uma semana após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A proibição de contato entre ambos foi tomada em fevereiro de 2024, com objetivo de impedir a obstrução da Justiça. A Polícia Federal chegou a indiciar Valdemar, mas a PGR teve outro entendimento. A defesa do presidente do PL, então, solicitou a suspensão das medidas, até porque as investigações sobre o suposto envolvimento do presidente do PL foram concluídas.
Outras medidas cautelares adotadas contra Valdemar também foram revogadas, como a apreensão de celulares e bens, entre os quais relógios de luxo das marcas Bulgari, Rolex e Piguet. A medida estava sendo considerada abusiva nos meios jurídicos, em que há muitos questionamentos em relação aos ritos que estão sendo seguidos por Moraes.
Os advogados de Bolsonaro trabalham para anular qualquer condenação futura por desrespeito ao chamado “devido processo legal”. O fato de Valdemar não ter sido denunciado pela PGR tornou a proibição de contato com Bolsonaro uma violação dos direitos do presidente PL, partido ao qual Bolsonaro é filiado.
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A decisão ocorre às vésperas de um grande ato que está sendo convocado por Bolsonaro para domingo, em Copacabana, que agora terá a presença de Valdemar. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), já anunciou que pretende comparecer, o que é uma demonstração de que a aliança entre ambos segue firme e forte.
Nesta terça-feira, Tarcísio e Bolsonaro participaram da abertura do 14º Salão das Motopeças, evento na Zona Norte de São Paulo. Bolsonaro chamou o governador de SP de “uma grande promessa para o futuro”, mas deu a entender que manterá sua candidatura à Presidência, mesmo inelegível, até a impugnação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Com todo respeito ao Tarcísio, que acho um grande gestor, mas ele sabe que é um pouco mais novo que eu, eu tenho uma experiência, que não é fácil para administrar”, disse o ex-presidente. O ato no Rio é uma manifestação organizada por Bolsonaro para defender a anistia para os acusados de participar dos atos antidemocráticos, que deve se reproduzir em outras cidades do país.
Chapa dos sonhos
A estratégia de Bolsonaro é transformar o processo sobre a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro numa plataforma política, pois o julgamento será longo e terá grande cobertura da mídia. Entre os aliados de Bolsonaro, porém, existe uma grande torcida para que o ex-presidente apoie a candidatura de Tarcísio de Freitas a presidente da República em 2026.
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Até agora Bolsonaro não deu sinal de que pretende fazê-lo, nem Tarcísio admite deixar o governo de São Paulo antes de concluir o primeiro mandato. Tudo indica que Bolsonaro fará como Lula em 2018, quando estava sendo processado na Lava-Jato. Manteve a candidatura até ser impugnado e, depois, apoiou o petista Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda, na disputa contra Bolsonaro.
A grande interrogação é sobre quem será o candidato indicado por Bolsonaro para substituí-lo, se um dos seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ou o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), ou um terceiro nome, que poderia ser o senador Rogério Marinho (PL-RN) ou Tarcísio de Freitas.
Aliados de Bolsonaro pisam em ovos para tratar das eleições de 2026. Na cúpula do PL, a avaliação é de que Bolsonaro é imprevisível, e somente Valdemar Costa Neto pode convencê-lo a apoiar Tarcísio. A chave seria reproduzir, nas eleições de 2026, a aliança vitoriosa na disputa pela Prefeitura de São Paulo, na qual o prefeito Ricardo Nunes (MDB) derrotou o candidato de Lula, Guilherme Boulos (PSol), com apoio de Tarcísio e Bolsonaro.
Líderes do PSDB, do MDB, do PSD, do PP e do Republicanos articulam essa aliança, com apoio da elite empresarial paulista. A “chapa dos sonhos” da chamada Faria Lima seria um esquema engenhoso: Tarcísio passaria o governo de São Paulo para o vice, Felício Ramuth (PSD), ex-prefeito de São José dos Campos; o prefeito Ricardo Nunes seria o candidato a governador, com Gilberto Kassab de vice. Eduardo Bolsonaro seria candidato ao Senado e o vice de Nunes, Mello Araujo, coronel da PM-SP, indicado por Bolsonaro, assumiria a Prefeitura de São Paulo. Faltou combinar com o chefe.
*Luiz Carlos Azedo,Jornalista, colunista do Correio Braziliense.
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