Mangueira aborda a história negra do Rio de Janeiro em busca do 21º título

A Mangueira empolgou o pessoal da arquibancada nos ensaios técnicos no sambódromo (Mangueira / Divulgação)

Com 20 títulos conquistados, sendo o último em 2019, a Mangueira é última escola a desfila no domingo de carnaval (2 de março).  Com o enredo “À flor da terra – no Rio da negritude entre deuses e paixões”, do carnavalesco Sidnei França, a verde e rosa aposta na força da comunidade para conquistar o título. O enredo aborda a história negra do Rio de Janeiro, passando pela influência dos povos bantus até os dias de hoje.

Bantus: agrupamento linguístico do continente africano

Os bantus representaram a maioria dos negros que adentraram forçadamente pelo Cais do Valongo (Divulgação),

De acordo com o enredo, os bantus, um agrupamento linguístico do continente africano, representaram a maioria dos negros que adentraram de forma forçada pelo Cais do Valongo, localizado no que hoje se entende como Pequena África. “A Mangueira retratará a vivência dessa população em toda a cidade, a partir da sua chegada nessa região, revelando sua história à flor da terra. Dando novo significado à expressão, exaltamos as vidas negras que florescem no solo”, escreveu o carnavalesco na sinopse.

Palavras quitanda e xodó foram incorporadas

A comissão de frente da Mangueira promete surpresas na Marquês de Sapucaí (Taís Brum / Divulgação)

O enredo mostra uma narrativa que atravessa o tempo mostrando a chegada dos bantus pelo Cais do Valongo. A chegada dos bantus influenciou todo o processo de evolução sociocultural do Rio de Janeiro, afetando também o idioma, que incorporou dos bantos palavras como ‘xodó’ e ‘quitanda’”.

Escravizados desembarcaram no Valongo

Os escravos desembarcavam no Cais do Valongo

Com uma narrativa que atravessa o tempo, a Mangueira explora a chegada dos bantus pelo Cais do Valongo. “Aproximadamente 80% dos escravizados que desembarcaram no cais eram de origem bantu. Isso influencia não apenas a cultura brasileira, mas a construção sociocultural da cidade do Rio de Janeiro. Principalmente o idioma, diretamente afetado pela cultura bantu, com palavras como ‘xodó’ e ‘quitanda’”, ressaltou o carnavalesco Sidnei França.

Confira o samba-enredo da Mangueira

Enredo “À flor da terra – no Rio da negritude entre deuses e paixões”

Carnavalesco: Sidnei França

Compositores:  Lequinho / Junior Fionda / Gabriel Machado / Julio Alves / Guilherme Sá / Paulinho Bandolim.

Oya, Oya, Oya ê
Oya Matamba de kakoroká zingue
Oya, Oya, Oya ê ô
Oya Matamba de Kakoroká zingue ô

É de arerê, força de Matamba
É dela o trono onde reina o samba
É de arerê, força de Matamba
É dela o trono onde reina o samba

Sou a voz do gueto, dona das multidões
Matriarca das paixões, Mangueira
O povo banto que floresce nas vielas
Orgulho de ser favela
Sou a voz do gueto, dona das multidões
Matriarca das paixões, Mangueira
O povo banto que floresce nas vielas
Orgulho de ser favela

Sou Luanda e Benguela
A dor que se rebela, morte e vida no oceano
Resistência quilombola
Dos pretos novos de Angola
De Cabinda, suburbano
Tronco forte em ribanceira
Flor da terra de Mangueira
Revel do Santo Cristo que condena
Mistério das calungas ancestrais
Que o tempo revelou no cais
E fez do Rio minha África pequena

Ê malungo, que bate tambor de Congo
Faz macumba, dança jongo, ginga na capoeira
Ê malungo, o samba estancou teu sangue
De verde e rosa, renasce a nação de Zambi

Bate folha pra benzer, Pembelê, Kaiango
Guia meu camutuê, Mãe Preta ensinou
Bate folha pra benzer, Pembelê, Kaiango
Sob a cruz do seu altar, inquice incorporou

Forjado no arrepio
Da lei que me fez vadio
Liberto na senzala social
Malandro, arengueiro, marginal
Na gira, jogo de ronda e lundu
Onde a escola de vida é zungu
Fui risco iminente
O alvo que a bala insiste em achar
Lamento informar
Um sobrevivente

Meu som, por você criticado
Sempre censurado pela burguesia
Tomou a cidade de assalto
E hoje, no asfalto
A moda é ser cria
Quer imitar meu riscado
Descolorir o cabelo
Bater cabeça no meu terreiro

É de arerê, força de Matamba
É dela o trono onde reina o samba
É de arerê, força de Matamba
É dela o trono onde reina o samba

Sou a voz do gueto, dona das multidões
Matriarca das paixões, Mangueira
O povo banto que floresce nas vielas
Orgulho de ser favela
Sou a voz do gueto, dona das multidões
Matriarca das paixões, Mangueira
O povo banto que floresce nas vielas
Orgulho de ser favela

Sou Luanda e Benguela
A dor que se rebela, morte e vida no oceano
Resistência quilombola
Dos pretos novos de Angola
De Cabinda, suburbano
Tronco forte em ribanceira
Flor da terra de Mangueira
Revel do Santo Cristo que condena
Mistério das calungas ancestrais
Que o tempo revelou no cais
E fez do Rio minha África pequena

Ê malungo, que bate tambor de Congo
Faz macumba, dança jongo, ginga na capoeira
Ê malungo, o samba estancou teu sangue
De verde e rosa, renasce a nação de Zambi

Bate folha pra benzer, Pembelê, Kaiango
Guia meu camutuê, Mãe Preta ensinou
Bate folha pra benzer, Pembelê, Kaiango
Sob a cruz do seu altar, inquice incorporou

Forjado no arrepio
Da lei que me fez vadio
Liberto na senzala social
Malandro, arengueiro, marginal
Na gira, jogo de ronda e lundu
Onde a escola de vida é zungu
Fui risco iminente
O alvo que a bala insiste em achar
Lamento informar
Um sobrevivente

Entenda o samba da Mangueira de ponta a ponta

Oyá: orixá do panteão africano, também conhecida como Iansã. Ela é uma divindade guerreira, associada aos ventos, tempestades, fogo e rituais funerários. 

Oyá também é conhecida como Iansã. É uma divindade guerreira

Kokoroká: é um termo que se refere a uma fina camada que separa a vida no Orun e no Aiyê, no candomblé. 

Bantus: Termo usado para designar o conjunto de povos localizados na região do centro-sudoeste do continente africano. Representaram a maioria dos negros escravizados enviados para o Cais do Valongo. É o plural de muntu (pessoa).

Pembelê: significa  eu vos saúdo .

Kaiango: Divindade ligada ao panteão do Candomblé de Angola. Está associada ao fogo das profundezas da terra e aos fenômenos dos ventos, pelos quais comanda os destinos dos Nvumbis (mortos).

Matamba: pode referir-se a um inquice da mitologia bantu, a um reino africano.

pode referir-se a um inquice da mitologia bantu (Divulgação)

Camutuê: termo usado na umbanda para se referir à cabeça dos filhos de santo. 

Inquices: Divindades ligadas ao Candomblé de Angola. Esses se assemelham aos Orixás para os Iorubás.

Zungus: Complexos comerciais, festivos e de habitação em que interagiam, predominantemente, negros escravizados e libertos. Para as línguas bantus, zungu é interpretado como “buraco”, “toca” ou “casa de angu”.

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