Um estudo inédito do Instituto Acredita aponta que sete em cada dez empreendedores nas comunidades do Chapéu Mangueira, Babilônia e Casa Branca, no Rio de Janeiro, são mulheres, a maioria delas mães. A pesquisa, realizada entre novembro de 2024 e março de 2025, evidencia a forte presença feminina no empreendedorismo local.
O levantamento mostra ainda que 79% dos entrevistados já atuaram com carteira assinada, mas 83% deles não desejam retornar a esse modelo de vínculo profissional. Os dados revelam uma tendência cada vez mais consolidada: a de que o empreendedorismo, muitas vezes por necessidade, é o caminho mais viável para quem vive em áreas de vulnerabilidade social.
O estudo também traz à tona a rotina exaustiva enfrentada por mulheres que precisam conciliar a criação dos filhos, os cuidados com a casa e os desafios de tocar um negócio próprio.
“Essa flexibilidade permite que elas possam equilibrar as demandas familiares e profissionais, muitas vezes utilizando o espaço doméstico para iniciar e administrar seus negócios”, explica Paulo Magalhães, sociólogo e antropólogo do Instituto Acredita e responsável pelo estudo.
A realidade retratada pelo estudo se materializa na trajetória da microempreendedora Vânia Mattos, de 43 anos. Moradora da comunidade, ela cria dois filhos, Cristiano, de 22 anos, e Elisa, de 15, enquanto convive com o Parkinson, doença com a qual foi diagnosticada aos 38.
Após 24 anos trabalhando em uma grande rede de supermercados, Vânia decidiu investir no sonho antigo de empreender. Hoje, ela vende bolos, doces e salgados feitos por ela mesma — e mantém a agenda cheia de encomendas.
“É desafiador conviver com a doença, a lista de sintomas é imensa: de tremor nas mãos à confusão mental, espasmos e tontura. Mas não quero focar na lista e, sim, viver da melhor maneira possível criando memórias afetivas com meus bolos”, afirma Vânia.
O Instituto Acredita, responsável pelo estudo, é uma iniciativa do Banco Acredita, que atua com a oferta de microcrédito sem juros e suporte técnico a microempreendedores de baixa renda. A organização também promove formação, mentoria e apoio à gestão de negócios, buscando fomentar o empreendedorismo como ferramenta de transformação social nas favelas do Rio.