Encontro ressalta a defesa dos direitos humanos pelo bispo que transformou a história da Baixada Fluminense
Com foco nos direitos humanos e no legado de Dom Adriano Hipólito,o bispo da Diocese da Nova guaçu que enfrentou o regime militar, a Prefeitura de Japeri promoveu uma roda de conversa neste sábado, 18, no salão paroquial da Igreja Nossa Senhora da Conceição, no Centro do município.
A mesa de debate foi composta por especialistas, lideranças religiosas e sociais, que trouxeram reflexões sobre o legado de Dom Adriano e os direitos humanos. Luiz Henrique, secretário de Direitos Humanos, Pessoa com Deficiência, Mulheres e Cidadania de Japeri, abriu o debate ressaltando a importância de fortalecer o acesso aos direitos na cidade e destacou o compromisso da Secretaria em promover políticas inclusivas e transformadoras.
“Estamos em uma Secretaria nova, e essas rodas de conversa são fundamentais para criar uma realidade de acesso aos direitos humanos, além de conhecer pessoas que contribuíram para essa causa em Japeri e na Baixada Fluminense. Dom Adriano é reconhecido como um dos mais importantes na luta pelos direitos na região”, destacou Luiz Henrique.
O historiador Antônio Lacerda, que dirige há nos o acervo da Diocese de Nova Igaçu, trouxe à tona o papel central de Dom Adriano na formação da Baixada Fluminense, destacando sua incansável dedicação à justiça social em um contexto marcado por intensos desafios políticos e sociais. Lacerda ressaltou que ele não apenas denunciava as desigualdades, mas também promovia ações concretas para transformar a realidade das populações mais vulneráveis da região.
“Ele foi uma voz firme e profética em um momento de silêncio imposto pela repressão. Ele acreditava que os direitos humanos não eram apenas ideais, mas um compromisso concreto com a dignidade de todos, especialmente dos mais pobres e marginalizados. Sua luta pela justiça social deixou um legado que ainda inspira líderes e movimentos na Baixada Fluminense”, afirmou o historiador, reforçando a relevância histórica e atual de sua atuação.
A professora Luana Lima, por sua vez, contextualizou o cenário de vigilância e repressão durante a ditadura militar, destacando como esse período tornou ainda mais urgente a luta pelos direitos humanos. Ela reforçou a importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que estabelece a igualdade de direitos independentemente de raça, cor, gênero ou religião.
“A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi e continua sendo uma ferramenta fundamental para resistir à opressão e garantir a dignidade de todas as pessoas. Em tempos de ditadura, ela se tornou um símbolo de esperança e resistência, especialmente em regiões como a Baixada Fluminense, onde as desigualdades eram ainda mais profundas”, afirmou Luana.
Pierre Gaodioso, vice-presidente e diretor executivo do Centro de Direitos Humanos de Nova Iguaçu, abordou a continuidade do trabalho do Centro, fundado por Dom Adriano, como uma extensão de seu legado de luta pela dignidade e equidade.
“O trabalho do Centro de Direitos Humanos é um reflexo do legado deixado por ele, que sempre lutou pela dignidade e equidade”, afirmou Pierre.
O membro da Comissão Diocesana de Leigos, José Sabino, destacou a relação de Dom Adriano com as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), enfatizando seu papel em fortalecer o protagonismo dos leigos na construção de uma sociedade mais justa.
“Foi fundamental no fortalecimento do protagonismo dos leigos, sempre comprometido com uma sociedade mais justa”, pontuou Sabino.
Encerrando as falas, o ativista das Pastorais Sociais da Diocese de Nova Iguaçu, Jorge Paim, compartilhou memórias pessoais sobre Dom Adriano, definindo-o como um profeta que combinava utopia e esperança.
“Ele foi realmente um profeta que uniu utopia e esperança, transformando o olhar sobre o passado em ações concretas para um futuro mais inclusivo”, concluiu Paim.
O legado de Dom Adriano Hipólito
Dom Adriano Hipólito, bispo da Diocese de Nova Iguaçu entre 1966 e 1994, foi um defensor incansável dos direitos humanos. Ele escolheu os mais pobres e vulneráveis como foco de sua missão, promovendo justiça e igualdade, mesmo sob intensa perseguição durante os anos de chumbo da ditadura militar. Sua atuação inspirou a fundação do Centro de Direitos Humanos de Nova Iguaçu em 1993, consolidando um trabalho iniciado com a Comissão de Justiça e Paz em 1978.
Participação da sociedade civil
A roda de conversa reuniu membros da igreja, sociedade civil e representantes do poder público. O pároco anfitrião, Padre João Paulo, deu as boas-vindas e destacou o orgulho de ser conterrâneo de Dom Adriano e de celebrar seu legado.
“Sou sergipano como ele, e me enche de orgulho saber que uma pessoa tão importante atuou na Baixada, especialmente na luta pelos direitos das pessoas com deficiência. Que esta seja uma oportunidade de aprendizado sobre direitos humanos”, disse o Padre.
Maria Duarte, 52 anos, moradora do bairro Primavera, participou do evento ao lado de sua filha, Vitória Maria, e destacou a relevância de iniciativas como esta para conscientizar a população sobre os direitos humanos.
“Esses encontros são ótimos para que a gente entenda melhor os nossos direitos e saiba como lutar por eles. Muitas vezes, não temos acesso às informações, e eventos assim ajudam a esclarecer e nos fortalecer como cidadãos. É importante que minha filha também aprenda desde cedo sobre igualdade e justiça”, afirmou Maria.
Já Celso Curty, 77 anos, afirmou que encontros como esse são essenciais para impulsionar o desenvolvimento social de Japeri. “A hora é agora para dar um novo impulso à cidade.”