Afoxé Filhos da Paz. Foto: Divulgação do governo do estado do Rio de Janeiro.

Herança ancestral africana no Rio de Janeiro, Afoxés e Blocos Afro tornam-se patrimônio cultural imaterial; Japeri exaltou a consciência negra com missa e manifestações públicas

novembro 20, 2023 /

Decisão foi publicada às vésperas do Dia da Consciência Negra e é o primeiro registro desta natureza realizado pelo Inepac
Os Afoxés e Blocos Afro foram declarados patrimônio cultural imaterial do Rio de Janeiro. Este é o primeiro registro deste tipo realizado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e marca uma data especial: o Dia da Consciência Negra, comemorado hoje (20/11). A decisão foi publicada em Diário Oficial na última quinta-feira (16/11).
De acordo com a diretora do Inepac, Ana Cristina Carvalho, o bem imaterial é tratado como registro e não como tombamento. O reconhecimento foi feito após três anos de estudos e acompanhamento do dia a dia e das tradições de grupos de sete diferentes municípios: São Gonçalo, Belford Roxo, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Duque de Caxias, Niterói e na própria capital do RJ. Com isso, os Afoxés e Blocos Afro tornam-se os primeiros bens desta natureza, em âmbito estadual, a serem protegidos por lei.
– A convenção para salvaguarda do patrimônio imaterial contempla práticas, representações, expressões, saberes e fazeres de comunidades, grupos ou até indivíduos. Esta decisão exalta a resistência da cultura afro-brasileira, essencial para a construção da identidade do Rio de Janeiro e do cidadão fluminense – explica Ana Cristina.
No estado, a prática dos Afoxés é datada da década de 50, enquanto os Blocos Afro, da década de 80. Essas formas de expressão constituem um dos mais ricos acervos simbólicos da nacionalidade brasileira, em especial do povo do Rio de Janeiro. Elas costumam acompanhar celebrações tradicionais como o Carnaval e outras datas festivas do calendário religioso, além de comemorações que valorizam a identidade da pessoa negra, como o dia 20 de novembro.
– Essas tradições são fundamentais para a construção da identidade do nosso estado e do nosso país. São saberes carregados de ancestralidade e verdadeiros tesouros invisibilizados que precisam ser valorizados e carregados para as próximas gerações. Na nossa gestão, estamos investindo na manutenção destas ações, por meio de fomento direto e indireto e de preservação dos bens materiais e imateriais – ressalta a secretária de Estado de Cultura e Economia Criativa, Danielle Barros.
Afoxés e Blocos Afro: o que são?
Os Afoxés são cortejos de rua que saem, principalmente, durante o Carnaval. É acompanhado por cantos e instrumentos de percussão, incluindo atabaques, agogôs e xequerês. Suas cores e símbolos possuem significados específicos relacionados com preceitos religiosos ligados às religiões de origem africana. Apesar de se apresentarem, na maioria das vezes, no carnaval de rua, os grupos de Afoxé do Estado do Rio de Janeiro também se fazem presentes em datas festivas do calendário religioso, como nas celebrações de entrega dos presentes à Iemanjá ou em festas e cerimônias privadas.
Já os Blocos Afro são grupos carnavalescos com viés de promoção e valorização da cultura e da pessoa negra, promovendo sua história, fortalecendo a identidade da comunidade e trabalhando sua autoestima. Apesar de ser um bloco de carnaval, que se apresenta em cortejo pelos logradouros públicos, também realiza apresentações diversas em atividades celebrativas da cultura e da beleza negra. Buscam participar de atividades culturais com viés identitário e memorial, como aqueles vinculados à data do 20 de Novembro (Dia da Consciência Negra). É acompanhado por cantos e instrumentos de percussão, incluindo surdos, taróis e repiques. Suas cores e símbolos possuem significados específicos relacionados com uma ideia de África e de reafricanização.

Japeri exalta a resistência da cultura afro-brasileira

 

A Prefeitura de Japeri promoveu, ontem (19), uma grande celebração em homenagem ao Dia da Consciência Negra. O evento, que ocorreu na Praça Vereador Wendel Coelho, teve como objetivo celebrar as matrizes africanas da cultura japeriense e contou com a parceria da Pastoral Afro-brasileira da Paróquia Senhor do Bonfim, do Kilombu Kurandé, da Casa do Encontro das Águas e da Tenda Espírita Tia Maria do Cruzeiro das Almas.

A programação foi iniciada com uma missa afro e a população teve a oportunidade de participar de uma roda de conversa, além de acompanhar apresentações culturais, roda de samba, oficinas culturais e outras atividades.  As artesãs da Economia Solidária também participaram da programação.

O secretário municipal de Cultura, Jorge Braga Jr., destacou a relevância da iniciativa. “Contamos com parceiros incríveis neste grande evento, além do suporte da Economia Solidária e de empreendedores da região. O apoio de diversas secretarias municipais também foi fundamental. O objetivo desta comemoração era reconhecer e valorizar ainda mais a arte e a cultura negra japeriense e brasileira.”, disse o gestor.

Para Eloina de Anchieta, que é secretária da Pastoral Afro, as homenagens deste domingo possuem um papel imprescindível para a construção de uma sociedade mais consciente. “Tivemos a alegria de participar de um lindo evento, que ofereceu um importante espaço para a comunidade negra da região. Sabemos dos nossos desafios diários, e mobilizações como as de hoje são importantes para que a população possa adquirir conhecimento sobre o papel dos negros na nossa cidade e no Brasil”, apontou.

A roda de conversa com o tema “a importância das matrizes africanas para a identidade negra” movimentou a Praça Wendel Coelho. Para o japeriense Luís Carlos, o diálogo é fundamental. “Fiz questão de trazer os meus filhos. Acho maravilhoso quando os nossos jovens têm a oportunidade de participar desses momentos de diálogo e reflexão. Esse é o caminho!”, elogiou.

 

 

 

Paulo Cézar

PAULO CEZAR PEREIRA, também chamado de PC ou Paulinho da Baixada, aprendeu jornalismo nas redações de alguns principais veículos – rádios,jornais e revistas. Conheceu, como Repórter Especial do GLOBO, praticamente todos os estados brasileiros, as duas antigas Alemanhas antes da reunificação, Suiça, Austria, Portugal, França, Itália, Bélgica, Senegal, Venezuela, Panamá, Colômbia e a Costa Rica. É casado com Ana Maria e tem três filhas que já lhe deram cinco netos. Tem três paixões: a família, o jornalismo e o Flamengo. No passado, assessorou um governador, um senador, dois prefeitos e vários deputados. Comandou a área de Comunicação de Nova Iguaçu num total de 12 anos. Já produziu três livros : um para a Coleção Tiradentes, outro contando a evolução de Nova Iguaçu quando a cidade completou 170 anos, e o do jubileu de ouro da Diocese de Nova Iguaçu.