A revolução digital desencadeou um processo de modernização cuja velocidade as instituições democráticas não estão preparadas para acompanhar
O presidente francês, Emmanuel Macron; o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo; e o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, foram os grandes perdedores das eleições para o Parlamento Europeu, nas quais os partidos de extrema direita tiveram o seu melhor desempenho, com a conquista de quase um quarto dos assentos.
Macron foi o primeiro a reagir: dissolveu a Assembleia Nacional e convocou eleições nacionais, nas quais o favorito a primeiro-ministro é o novo líder da extrema direita francesa, Jordan Bardella, de 28 anos. Ele encabeça a lista do Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen, que teve o dobro dos votos do Renascimento, partido do presidente francês.
Na Bélgica, o primeiro-ministro Alexander De Croo pediu demissão, porque perdeu também as eleições locais: federal e regionais. Na Alemanha, os sociais-democratas do chanceler Olaf Scholz, de centro-esquerda, perderam muita influência, mas o primeiro-ministro não pretende antecipar eleições nem renunciar.
Com 14% dos votos, o SPD ficou atrás da Alternativa para a Alemanha, de extrema direita, que subiu para o segundo lugar, com 16%. A Democracia-Cristã, da ex-chanceler Angela Merkel, continua sendo o partido mais forte, com aproximadamente 30%. Os Verdes e o Partido Liberal, da coalizão governista, conquistaram 12% e 5% dos votos.
Na Hungria, aconteceu o contrário: o enfraquecimento da direita mais radical, representada pelo Fidesz do primeiro-ministro Viktor Orbán. O novo partido centrista Tisza, de Péter Magyar, cresceu muito e encostou no partido de Orbán.
Apesar da guinada à direita na França, na Alemanha e na Bélgica, e do enfraquecimento do grupo liberal Renew Europe (Renovar a Europa), com 79 cadeiras (10,09%), e dos Verdes, com 52 assentos (7,36%), a composição do Parlamento Europeu foi pouco alterada. O Partido Popular Europeu (democrata-cristão) continua sendo a principal força política da União Europeia, com 185 cadeiras (25,93%), mesmo com o recuo do partido de Macron, o Renascimento.
A Aliança Progressista (socialistas e social-democratas), mesmo enfraquecida, continua sendo a segunda força, com 134 cadeiras (18,61%). A extrema direita liderada pela francesa Marine Le Pen e a primeira-ministra da Itália, Giórgia Meloni, o ECR (Conservadores e Reformistas), aumentou sua representação para 73 deputados (10,97%).
Especula-se que Macron planeja dividir o poder com a extrema direita, que passaria a ter responsabilidades governamentais até as eleições presidenciais de 2027. Ou seja, o partido de Le Pen passaria de estilingue à vidraça. Mas é preciso combinar com os eleitores franceses, que votaram na extrema direita na maioria das cidades.
Decadência europeia
A coligação União Nacional (RN), de Jordan Bardella, recebeu o dobro da votação do partido de Emmanuel Macron. O novo líder de extrema direita é um jovem carismático visto como capaz de mudar o destino da França. Assumiu a liderança do Rassemblement National (RN) em 2022 e já se tornou uma estrela da política europeia.
Nascido em 1995, nos subúrbios parisienses, filho de imigrantes italianos, emergiu como figura pública nos violentos tumultos nos subúrbios franceses em 2005, aos 17 anos, juntando-se ao partido de extrema direita de Marine Le Pen.
O fortalecimento da extrema direita na Europa é visto com preocupação, mas precisa ser analisado no contexto da bipolaridade Estados Unidos versus China. A economia europeia hoje representa apenas 14,1% da economia global; 1980, eram 25,8%, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Ao mesmo tempo, os Estados Unidos caíram, de 21,3% para 15,5%, enquanto a China, vertiginosamente, saltou de 2,26% para 19,01%. Na equação econômica, há uma variável demográfica inescapável: enquanto a população europeia diminui, a asiática cresce, principalmente na Índia, que é outra potência emergente, inclusive científica.
Além disso, o impacto da revolução digital nas estruturas de produção e na vida da sociedade afeta diretamente a produtividade das empresas e o comportamento social, ainda mais depois da desorganização de estrutura de classes da sociedade industrial.
Quem mais sofre com essa mudança são as forças de esquerda socialista e social-democrata, que se reproduziam no âmbito das atividades laborais e do ambiente familiar, que passaram por mudanças radicais, e cujas doutrinas se tornaram em grande parte obsoletas.
Mas não apenas, os setores liberais também estão sendo postos em xeque pela crise de representação das democracias do Ocidente. A revolução digital desencadeou um processo de modernização cuja velocidade as instituições democráticas não estavam preparadas para acompanhar. É aí que o “iliberalismo”Scholz se apresenta como alternativa.
Além disso, os direitos conquistados com o estado de bem-estar social, principalmente na Europa, que garantia abundância de mão de obra saudável e escolarizada, já não têm a mesma funcionalidade, ante a substituição do trabalhador direto pela mecanização e pela automação. Em grande parte, isso explica a mudança de comportamento de eleitores que antes votavam na esquerda e, hoje, se posicionam como grupos de interesse nas redes sociais.
* Luiz Carlos Azedo, Jornalista, é colunista do Correio Braziliense.
Compartilhe:
- Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Twitter(abre em nova janela)
- Compartilhe no Google+(abre em nova janela)
- Clique para compartilhar no Pinterest(abre em nova janela)
#Bardella, #Eleições, #Europa, #Le Pen, #macron, #Meloni, #Orbán, Scholz