*Dom Gílson Andrade
Dom Gílson Andrade abraça d. Colomba D’Amico Guidone, 93 anos, italiana da comuna de Castel Di Sangro
A força da esperança para o ano novo
O ano de 2025, como é de se esperar, será marcado por diversas expectativas tanto na ordem social como no pessoal. Nas cidades, o início de novos mandatos públicos no executivo e no legislativo geram expectativas para a promoção social e a garantia de direitos. Na Igreja católica celebra-se o jubileu pelos 2025 anos do nascimento de Cristo, um fato que dividiu a história entre um antes e um depois e que inspirou transformações sociais no decorrer dos séculos.
O ilustre escritor inglês, Chesterton, cujo sesquicentenário de nascimento celebramos em 2024, dizia que “o cristianismo é mais do que uma simples religião, é um acontecimento”. Portanto, embora o jubileu se restrinja a uma celebração entre os católicos, não pode deixar de ter uma mensagem que alcance a humanidade no seu todo, pois o nascimento de Cristo é um marco decisivo na história.
O Papa Francisco, conhecedor dos anseios e dos desafios do nosso tempo, sugeriu a temática da esperança como pano de fundo da celebração jubilar. Com o tema “peregrinos de esperança”, iniciou-se o jubileu em Roma, na noite de Natal, com a abertura da Porta Santa na basílica de São Pedro e, nas Dioceses do mundo, no dia 29 de dezembro, festa da Sagrada Família. Seu término está previsto para o dia 6 de janeiro de 2025.
Ao iniciar um novo ano, tendo presente as expectativas pessoais e sociais, é conveniente que tenhamos no horizonte a força da esperança. Santo Agostinho dizia que quem tem esperança caminha. Em que esperança nós cristãos nos apoiamos? Naquela que o apóstolo Paulo afirma que “não decepciona” (Rm 5, 5). Naquela que Jesus ilustra no Evangelho dizendo: “olhai os pássaros do céu, olhai os lírios do campo…não trabalham, não semeiam, não tecem…mas o vosso Pai cuida deles. Não vos preocupeis com o dia do amanhã…o Pai celeste sabe do que precisais” (cf. Mt 6, 25-34). A esperança cristã tem seu ponto de apoio nas promessas de Deus, certos de que a sua Palavra é segura e de que Deus cumpre o que promete.
Deus e sua ação na história, através do seu Filho Jesus, são a razão da nossa esperança. Portanto, a esperança cristã se baseia no poder de Deus que quer o bem da humanidade e é poderoso para até mesmo tirar o bem de tudo. A esperança não é um mero anseio de que “tudo vai dar certo”, mas a certeza de que mesmo as coisas que não entendemos não escapam à Providência divina e nos abrem a possibilidades melhores para um verdadeiro crescimento pessoal e, consequentemente, social. Portanto não é a expectativa ingênua de que tudo vai dar certo, mas de que tudo vai sair de acordo com a Providência divina que cuida com esmero paterno e materno dos seus filhos.
Muitas vezes pensamos na esperança como uma atitude passiva, ou seja, abrimos as mãos esperando que cheguem coisas boas. Ora, isso não basta. A esperança é uma atividade, supõe trabalhar sobre o que esperamos. Estar nas coisas que esperamos.
A fé nos mostra o horizonte do Reino de Deus, o sonho de Deus de vida plena para nós e para a humanidade instaurado em Cristo. Quem tem fé procura cooperar com Deus para que o seu Reino venha, para que os valores do Evangelho iluminem a caminhada histórica. Isso levou, ao longo desses 21 séculos, a iniciativas que colaboraram e colaboram para um mundo mais humano e, portanto, mais de acordo com o projeto de Deus.
Neste sentido o Papa Francisco lembrou na noite de Natal que o jubileu nos compromete na transformação do mundo, pois cabe “a todos nós, o dom e o compromisso de levar a esperança onde ela se perdeu: onde a vida está ferida, nas expectativas traídas, nos sonhos desfeitos, nos fracassos que despedaçam o coração; no cansaço de quem já não aguenta mais, na solidão amarga de quem se sente derrotado, no sofrimento que consome a alma; nos dias longos e vazios dos encarcerados, nos aposentos estreitos e frios dos pobres, nos lugares profanados pela guerra e pela violência. Levar esperança nestes lugares, semear esperança nesses locais”.
Essas convicções de fé iluminem os passos de nossa caminhada no ano novo e que a luz da esperança nos ajude a caminhar para o futuro com a força do Alto, de Deus que em tudo se faz próximo e busca o nosso bem.
Rezemos pelos que assumem neste 1º de janeiro mandatos públicos no executivo e no legislativo para que se deixem inspirar pelo anseio de transformação do “pequeno mundo” que são as nossas cidades na luta pelo bem comum, tendo presente as necessidades dos mais pobres.
Feliz Ano Novo, confiantes na Providência divina, esperança que não decepciona!
*Dom Gilson é carioca, nascido no Méier e criado em Mendes no sul fluminense. Fez parte do clero de Petrópolis, estudou em Roma e foi bispo auxiliar de Salvador (BA). Nomeado pelo Papa Francisco em 27 de junho de 2018, tornou-se o 6º bispo da Diocese de Nova Iguaçu. Em 2018, durante a 57ª Assembleia Geral da CNBB, foi eleito pelos bispos do Rio de Janeiro como Vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB.