O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, todo-poderoso do PDT fundado pelo ex-governador Leonel Brizola nos anos 80, anunciou nesta sexta-feira que decidiu deixar o comando da Pasta. Ele amadureceu esta decisão nas últimas 24 horas, após conversar com correligionários. A saída de Lupi, que tentava permanecer no governo mesmo após a Polícia Federal revelar uma fraude bilionária no INSS, órgão de seu ministério, representa também um alívio para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava sendo desgastado desde a descoberta de um esquema de R$ 6,3 bilhões que prejudicou 4 milhões de aposentados da Previdência Social.
Lupi afirmou que que deixa o ministério para que as denúncias sejam apuradas com rigor. Acredita que atitude abra caminho para uma apuração isenta e profunda. Ele também está convencido de que vem sendo “fritado” pela cúpula do Palácio do Planalto, onde, na sua opinião, não há iniciativas para poupa-lo de desgaste público crescente. A notícia da saída de Lupi do governo Lula foi divulgada com exclusividade pelo jornalista Ricardo Bruno ( Agenda do Poder).
Antes de tornar pública a decisão, desejava ter uma conversa com o presidente Lula, a quem agradeceu a confiança depositada, reiterando a versão de que não está envolvido no caso e que pediu rigor nas investigações.
Com 18 de deputados, a bancada do PDT na Câmara tende a deixar o governo. A insatisfação com a forma como tem sido tratada se soma agora ao rompimento do compromisso de lealdade decorrente da perda da Pasta.
Em conversa com a Agenda do Poder, o líder do partido, deputado Mário Heringer (PDT-MG), afirmou que Carlos Lupi tomou decisão acertada por que “vem sendo tratado (pelo governo) sem o devido respeito”.
Mais cedo, Heringer teve uma conversa com Lupi, de quem ouviu pessoalmente a decisão de que deixaria a Pasta. “Na verdade, ele já está de saco cheio com tudo isso”, comentou o líder.
De acordo com Heringer, o PDT neste momento não vai exatamenre para oposição. “Mas vamos sim deixar o governo. Oposição seria uma postura incompatível neste monento”.
O substituto de Lupi na Previdência Social
No lugar de Lupi, o Palácio do Planalto anunciou ex-deputado federal Wolney Queiroz, atual secretário-executivo da pasta. O agora ex-ministro, que é presidente nacional do PDT, anunciou a saída do governo em uma postagem nas redes sociais.

Wolney Queiroz assume o Ministério da Previdência Social – MPS/Divulgação
“Tomo esta decisão com a certeza de que meu nome não foi citado em nenhum momento nas investigações em curso, que apuram possíveis irregularidades no INSS. Faço questão de destacar que todas as apurações foram apoiadas, desde o início, por todas as áreas da Previdência, por mim e pelos órgãos de controle do governo Lula. Espero que as investigações sigam seu curso natural, identifiquem os responsáveis e punam, com rigor, aqueles que usaram suas funções para prejudicar o povo trabalhador”, escreveu Lupi.
Segundo o Planalto, a exoneração de Lupi e a nomeação de Wolney serão publicadas ainda nesta sexta em edição extra do Diário Oficial da União (DOU). A troca no comando do Ministério da Previdência ocorre uma semana após a Polícia Federal (PF) e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagrarem uma operação conjunta que apura um suposto esquema de descontos não autorizados de mensalidades associativas em benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
A investigação aponta que as irregularidades começaram em 2019, durante a gestão de Jair Bolsonaro, e prosseguiram nos últimos anos.
“Continuarei acompanhando de perto e colaborando com o governo para que, ao final, todo e qualquer recurso que tenha sido desviado do caminho de nossos beneficiários seja devolvido integralmente. Deixo meu agradecimento aos mais de 20 mil servidores do INSS e do Ministério da Previdência Social, profissionais que aprendi a admirar ainda mais nestes pouco mais de dois anos à frente da Pasta. Homens e mulheres que sustentam, com dedicação, o maior programa social das Américas”, prosseguiu Carlos Lupi.
Mudanças no INSS
O caso já havia resultado na exoneração do então presidente do instituto, Alessandro Stefanutto, e no afastamento de quatro dirigentes da autarquia e de um policial federal lotado em São Paulo.