A advogada e empresária Deolane Bezerra voltará para o presídio após ter a prisão domiciliar revogada nesta terça-feira, 10, por descumprimento de medidas cautelares impostas pelo judiciário.
A influenciadora chegou às 13h ao Fórum Rodolfo Aureliano, no Recife, inicialmente para assinar os termos da prisão e no local foi informada da revogação da decisão.
Pelas regras determinadas pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), Deolane não podia se pronunciar publicamente sobre o caso por meio de redes sociais, imprensa e outros meios de comunicação.
A advogada estava presa desde a última quarta-feira, 4, em decorrência de uma operação que investiga lavagem de dinheiro através de jogos ilegais. A mãe da influenciadora, Solange Bezerra, também foi detida na ação policial.
Na segunda-feira, 9, Deolane deixou a Colônia Penal Feminina do Recife após ser beneficiada com um habeas corpus, mas a sua mãe não foi beneficiada. O recurso foi impetrado na última quinta-feira (5).
A decisão determinava que a empresária deveria ficar em prisão domiciliar, inclusive nos fins de semana e feriados. Além disso, usar tornozeleira eletrônica (monitoração eletrônica). A advogada não poderia entrar em contato com os demais investigados e não poderia se manifestar por meio de redes sociais, imprensa, ou outros meios de comunicação.
Após ser solta, a influenciadora falou em frente à unidade prisional: “Foi uma prisão criminosa, cheia de abuso de autoridade por parte do delegado. (…) Eu não posso falar sobre o processo. Eu fui calada”.
A declaração de Deolane viola uma das determinações judiciais impostas pelo desembargador do caso. Além da declaração, a influenciadora também fez um post em seu perfil no Instagram criticando a determinação de não poder falar publicamente sobre o caso, minutos antes de deixar a prisão.
Na legenda da imagem, apenas escreveu: “carta aberta”, em referência à publicação feita no domingo, 8, em que reiterou sua inocência em relação à investigação.
Agora, Deolane segue para fazer exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML), no bairro de Santo Amaro. Inicialmente, a Polícia Civil de Pernambuco informou que a influenciadora seguiria para a Colônia Penal Feminina de Buíque, no Agreste do Estado.
O TJPE informou que “os autos permanecem em sigilo para proteger a intimidade dos demais investigados” e que “qualquer manifestação relacionada ao caso será feita exclusivamente nos autos e acessível apenas às partes envolvidas”.
Entenda a investigação
Para a polícia, a história começa com a apreensão de um saco de dinheiro de jogo do bicho em 2022. Os R$ 180 mil e um caderno com anotações estavam em uma banca de jogos no Recife que pertence a Darwin Henrique da Silva. De acordo com a corporação, ele é um bicheiro conhecido na cidade.
O filho de Darwin, Darwin Henrique da Silva Filho, dono da plataforma de apostas Esportes da Sorte, que é registrada em Curaçao, no Caribe, também foi implicado no esquema. A justiça ordenou o bloqueio de R$ 40 milhões das contas de Darwin Filho e de R$ 2 milhões do patrimônio de Darwin pai, que segue foragido.
Segundo as investigações, o dinheiro ilegal era repassado de conta em conta diversas vezes, até voltar ao mercado como se não fosse de origem criminosa. Além disso, outra maneira de lavar os valores era por meio da compra de imóveis, carros importados e aviões.
A Justiça também determinou o sequestro de imóveis e o bloqueio de 2 milhões de reais de Darwin pai e de 40 milhões de reais de Darwin Filho. Ao todo, 53 pessoas físicas e jurídicas (empresas) são investigadas, nesse esquema de lavagem de dinheiro, pela Polícia Civil de Pernambuco.
Somando o dinheiro bloqueado de toda a operação,os valores passam de 2 bilhões de reais. Nesse montante está o patrimônio de Deolane Bezerra. Em vídeos na internet, a empresária faz propaganda para a Esporte da Sorte, plataforma de Darwin Filho.
Em depoimento à polícia, Deolane declarou que recebia dinheiro da Esportes da Sorte por meio de contratos publicitários e negou qualquer envolvimento com a suposta lavagem de dinheiro.
Um avião, da empresa Balada Eventos e Produções LTDA, faz parte do esquema de lavagem de dinheiro, segundo a investigação. A empresa pertence ao cantor Gusttavo Lima. A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), diz que há um processo de transferência de propriedade da aeronave em curso.
De acordo com as investigações, a empresa também está envolvida no esquema de lavagem de dinheiro de apostas ilegais com as empresas de José André da Rocha Neto, da Paraíba. Foi uma das empresas de Rocha Neto, a JMJ, que comprou o avião de Gusttavo Lima. A prisão do empresário Rocha Neto foi decretada na mesma operação, mas ele é considerado foragido porque estava fora do Brasil – com Gusttavo Lima, na Grécia.
A defesa de José André da Rocha Neto diz que não há qualquer indício de sua participação em atos ilícitos e que seu patrimônio é declarado e regular.
O advogado do cantor Gusttavo Lima disse em nota que a Balada Eventos apenas vendeu um avião para uma das empresas investigadas. A operação de compra e venda seguiu todas as normas legais e isso está sendo devidamente provado para a autoridade policial e poder judiciário.
Criação de bet para lavar dinheiro
A advogada abriu uma empresa de apostas, ZEROUMBET, com capital de R$ 30 milhões em julho deste ano. A Polícia Civil de Pernambuco suspeita que a criação da bet tenha ocorrido para possibilitar a lavagem de dinheiro por meio de jogos ilegais. E a suspeita é de que a mãe de Deolane, Solange Bezerra, que também foi presa, teria sido usada no esquema. As informações foram divulgadas pelo programa Fantástico, da TV Globo, no domingo (8).
A Justiça determinou o bloqueio de R$ 20 milhões de Deolane e de R$ 14 milhões de uma empresa dela por suspeita de lavagem de dinheiro. A Justiça também determinou o bloqueio de R$ 3 milhões das contas de Solange. Na delegacia, a influenciadora disse que a renda mensal dela é de R$ 1,5 milhão.
“É uma rede que se espalha de uma maneira muito rápida, e o dinheiro flui para dentro dessas organizações de uma forma muito rápida. Então, foi visto de uma forma clara que esse grupo criminoso explorava também jogos que não são legais, como o jogo do Tigrinho, e isso era canalizado para dentro da estrutura para legalizar”, pontuou Alessandro Carvalho Liberato de Mattos, secretário de Defesa Social de Pernambuco ao Fantástico.
Em nova carta publicada no Instagram, Deolane afirmou que é inocente e que “não há uma prova sequer” contra ela. “Não é fácil uma mulher nordestina, mãe solo, criada por mãe solo, vinda da comunidade, chegar aonde eu cheguei. As provações são gigantes e irei passar por todas elas”, disse.
Em vídeos na internet, Deolane faz propaganda para a Esporte da Sorte, plataforma de Darwin Filho. Em depoimento à polícia, a empresária declarou que recebia dinheiro da Esportes da Sorte por meio de contratos publicitários e negou qualquer envolvimento com a suposta lavagem de dinheiro.