Crime organizado transforma fornecimento de internet em negócio milionário no Brasil: “é a nova boca de fumo”, diz delegado

Segundo levantamento, somente no Rio de Janeiro já foram abertas mais de 120 investigações desde 2024

O fornecimento ilegal de internet tem se tornado um dos ramos mais lucrativos do crime organizado no Brasil, com facções criminosas expulsando provedores autorizados de comunidades e assumindo o controle das redes. A denúncia é sustentada por dezenas de investigações da polícia e relatos de vítimas, que apontam uma atuação violenta e estruturada em estados como Rio de Janeiro, Pará e Ceará.

Segundo levantamento divulgado pelo portal g1, apenas no Rio de Janeiro já foram abertas mais de 120 investigações desde o ano passado. As apurações se concentram em grupos que instalam redes clandestinas, proíbem empresas registradas de operar nas comunidades e, em muitos casos, cobram “pedágios” de operadoras legais.

“Internet é a nova boca de fumo”, resume o delegado Pedro Brasil. Em bairros controlados pelo Terceiro Comando Puro (TCP), liderado por Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão — o criminoso mais procurado do estado — técnicos são abordados sob ameaça de morte. Um dos áudios obtidos pela reportagem revela a intimidação: “Quem manda aqui é o Peixão. Vou te matar se não sair daqui”.

O controle se estende também à população. Em mensagens enviadas por aplicativos, os criminosos deixam claro quem dita as regras. “Peço a colaboração de todos, entendeu? Pra não passar por cima da nossa ordem. Ordem de forças maiores”, diz uma gravação encaminhada a clientes de uma rede clandestina.

Um provedor do norte fluminense, que preferiu não se identificar, contou ter abandonado o negócio após receber ameaças. “O que chateia mais é o cara dizer que, se você não atender aos desejos dele, o seu funcionário vai descer do poste na bala”, relatou.

O fenômeno avança por outras regiões do país. No Pará, integrantes do Comando Vermelho incendiaram o carro de uma empresa em Ananindeua, na Grande Belém. No Ceará, ao menos 13 ataques foram registrados em seis semanas, levando 15 provedores a encerrar as atividades. Em Caridade, 16 mil moradores ficaram sem internet após os atentados.

A gravidade da situação preocupa autoridades e especialistas. Além da perda econômica, o controle criminoso das redes representa um risco direto à segurança digital da população. “Sem regulação, com acesso irrestrito aos equipamentos, criminosos podem espionar comunicações, aplicar golpes e distribuir vírus”, alertam investigadores.

Mauricélio Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), faz um alerta: “A gente tem medo que isso escale para o Brasil inteiro, por não ter um retorno rápido da segurança pública. Estamos falando de segurança nacional”.

A Anatel, que estima em mais de 20 mil os pequenos e médios provedores no país, informou que “está à disposição de todas as forças policiais, de todas as forças de segurança pública, para poder ajudar tecnicamente na identificação desses delitos”.

A Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro disse, em nota, que já mapeou as áreas de atuação das facções e atua em parceria com a Anatel. No Ceará, a polícia prendeu 48 pessoas ligadas aos ataques e informou que intensificou a fiscalização do comércio ilegal de internet.

Com informações do g1.

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