“A vida continua mesmo depois de um câncer”. A frase é de Silvio Chaves Ribeiro, que passou por uma cirurgia para retirada da laringe em 2022. Hoje ele faz parte do Coral “Eu também tenho voz”, criado pelo Hospital Universitário Pedro Ernesto, em 2016, e formado por laringectomizados, pessoas que retiraram a laringe, após a descoberta do câncer. O grupo é formado por cerca de 15 integrantes que realizam apresentações voluntárias nas salas de espera e enfermarias do HUPE.
Aos 67 anos, Silvio conta que não fazia ideia do que era um câncer na laringe até precisar enfrentá-lo. Para ele, o coral é uma ferramenta capaz de aumentar a visibilidade desses casos. “Esse grupo cumpre dois papeis muito importantes na minha vida, primeiro ajudo a levar informação sobre uma doença que é grave e pouco conhecida. Além disso, aqui a gente cai na real e vê que a vida continua. Não dá pra ficar parado. É possível seguir em frente e eu consegui”, comemora o voluntário.
O grupo conta com psicólogos e um músico que também participa do coral. “O objetivo é proporcionar momentos de integração social entre os pacientes e ajudar a melhorar a qualidade de vida deles. E é fundamental também para que eles voltem a se reconhecer enquanto sujeitos dentro da sociedade”, destaca Ana Cristina Abreu, fonoaudióloga e regente do Coral.
Antes mesmo de passarem por diagnóstico e pelo procedimento, os pacientes recebem cuidados de fonoaudiologia. Caroline Peixoto, fonoaudióloga e coordenadora do Laboratório de Estudos e Assistência em Fononcologia – LEAFON, conta que o acompanhamento da especialidade acontece desde o primeiro momento.
“Por conta da presença de lesões na região de cabeça e pescoço, em alguns casos já existe dificuldade na alimentação e, por vezes, na própria comunicação oral desse paciente. É importante salientar que o Pedro Ernesto é o único hospital da rede estadual que realiza esse tipo de acompanhamento ao paciente laringectomizado total e o hospital doa a laringe eletrônica, essa é uma forma de proporcionar uma nova forma de comunicação a esse paciente em um primeiro momento”, afirma a coordenadora do LEAFON.
Outro ponto essencial para o projeto é a participação dos parentes e acompanhantes dos pacientes. “A família estar inserida neste meio é muito importante, porque é muito difícil para nós familiares saber a forma certa de lidar com essa situação” conta Jéssica da Silva Rangel, filha e acompanhante de Maria Rangel, que entoa o coral do HUPE desde 2023. A paciente passou pela laringectomia total e hoje se comunica através da laringe eletrônica fornecida pelo SUS após a cirurgia.