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Com seca em pleno verão, número de incêndios na mata sobe 390% no RJ

Capital tem bairros há quase 40 dias sem chuva e 35 municípios enfrentam estiagem moderada

A falta de chuva tem causado perda de vegetação e uma corrida do Corpo de Bombeiros para controlar incêndios em áreas verdes. Em todo o estado, de 1º de janeiro até 6 de março, o número de queimadas subiu mais de 390% em relação ao mesmo período de 2024 — foram registradas 5.400 ocorrências, 1.400 delas apenas no carnaval. Na noite desta segunda-feira, chamas tomaram uma região de mata entre Vila Isabel e Engenho Novo, na Zona Norte, assustando moradores de favelas no entorno.

Num levantamento feito a pedido do jornal GLOBO, o Alerta Rio, órgão da prefeitura, identificou as estações de medição de índice pluviométrico que estão sem registrar uma gota de chuva há quase 40 dias, de 31 de janeiro até 9 de março: Vidigal, Rocinha, Copacabana e Jardim Botânico, na Zona Sul; Grajaú e Tijuca/Muda, na Zona Norte; e Barra/Barrinha e Sepetiba, na Zona Oeste.

A secura também se espalha pelo estado. Segundo um levantamento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), nos dois primeiros meses do ano, o número de cidades do Estado do Rio em estágio de seca moderada mais que triplicou, passando de dez, em janeiro, para 35, em fevereiro. A classificação se refere a quando a falta de chuvas começa a provocar danos à agricultura e a pastagens, falta de água iminente e restrições voluntárias de uso de água, além de baixar o nível de reservatórios ou poços.

“Fevereiro foi o pior mês”

O alerta devido à baixa precipitação já começa aparecer em comunicados de órgãos vinculados ao governo federal, e a estiagem gera tensão entre produtores agrícolas no interior.

— A estação chuvosa, desde outubro, teve resultado muito abaixo do esperado. E fevereiro foi o pior mês. Em muitos municípios, choveu 40% abaixo da média da estação chuvosa. E por que isso é crítico? Porque logo em seguida vai vir a estação seca e muito provavelmente vai ter impacto nos recursos hídricos na região. Não só porque choveu menos, mas porque a temperatura ficou alta por um período prolongado — explica Ana Paula Cunha, especialista em secas do Cemaden.

Petrópolis, que costuma registrar altos índices pluviométricos no verão, é um dos pontos de atenção da lista. Em fevereiro deste ano, o maior volume pluviométrico foi de 63 milímetros, na estação Corrêas. No ano anterior, o maior foi 224 milímetros, no Pico do Couto. Em Macaé, o volume de chuvas que caiu nos dois primeiros meses do ano foi metade do registrado no ano passado: 96,2 milímetros contra 186,6 milímetros.

Em outra integrante da lista do Cemaden, Mangaratiba, na Costa Verde do Rio, parte da população já sente o impacto da seca. Moradores do Condomínio Sítio Bom precisaram fazer racionamento de água nos últimos dias. Os sistemas de abastecimento do município, que incluem as Unidades de Tratamento (UTs) Muriqui, Conceição de Jacareí, Serra do Piloto e Itinguçu, segundo a Cedae, estão sendo afetados pela redução nos níveis dos mananciais de captação.

“A equipe realiza manobras diárias para amenizar o impacto no abastecimento. A companhia solicita aos moradores que utilizem água com moderação durante este período de estiagem. Um esquema especial com caminhões-pipa foi organizado para atender prioritariamente a serviços essenciais, como hospitais e unidades de saúde”, diz a Cedae.

Em Angra dos Reis, na mesma região, por conta da falta d’água, manifestantes fecharam a Rodovia Rio-Santos em pleno carnaval.

Estado do Rio: Cidades onde a chuva tem sido escassa, segundo levantamento do Cemaden — Foto: Editoria de Arte

Impacto na agropecuária

Nas regiões Norte e Noroeste do estado, onde há grande produção agropecuária, desde o ano passado organizações que representam produtores têm se mobilizado para chamar a atenção para o impacto das mudanças climáticas. Carlos Marconi de Souza Resende, diretor técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural, explica que, se a chuva não cair em volume considerável até o fim de março, a situação pode se tornar ainda mais preocupante.

— Temos tentado chamar atenção para o clima do Noroeste Fluminense, que muitas vezes pode se assemelhar ao semiárido do Nordeste brasileiro. Em 2024, houve uma mortandade alta de cabeças de gado aqui. Isso prejudica principalmente o agricultor familiar. Se ele tem, por exemplo, dez vacas, a estiagem pode levá-lo a perder seis. Porque ele perde a nascente, a pastagem e, depois, o animal — explica o especialista.

A Secretaria estadual de Desenvolvimento Regional do Interior, Pesca e Agricultura Familiar lançará um programa de apoio emergencial para produtores agrícolas que tenham prejuízo.

— No ano passado, houve perda de cinco a seis mil cabeças de gado na região noroeste, onde é a produção leiteira é maior e tem mais gado de corte. Quando há prejuízo grande, o pequeno produtor sofre. Recebemos até vídeos de pessoas chorando — diz Jair Bittencourt, secretário da pasta.

Rodolfo Tavares, presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio de Janeiro (Faerj), crê que haja uma gota de esperança:

— Recebi uma foto que mostra que em Itaperuna choveu forte no domingo. Mas era para estar chovendo bem há muito tempo. Não teve a chamada chuva de verão. Quando esses fenômenos não acontecem, nos resta esperar se as águas de março virão mesmo. Só aí iremos saber.

Previsão de pouca chuva

Apesar do anúncio de frentes frias nesta semana pós-carnaval, os efeitos serão mais intensos no Sul do Brasil, com reflexos pouco significativos no Rio, uma vez que a tendência é que as nuvens sejam desviadas para alto-mar. Segundo o Climatempo, uma segunda frente fria é prevista para o fim de semana, com um tempo mais instável, com pancadas de chuva mais frequentes no estado, em especial nas regiões Sul e Serrana.

— Essa segunda frente ainda vai passar pelo mar, no entanto vai trazer uma diminuição mais significativa da temperatura a partir da próxima sexta-feira. Ainda não há expectativa de frio. As temperaturas caem para valores mais próximos aos 30°C, e a última vez que tivemos isso foi no fim de janeiro — aponta Hana Silveira, meteorologista do Climatempo.

Com informações de O GLOBO.

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