Um estudo realizado pela Think Olga, em parceria com o projeto “Sonhe Como Uma Garota”, mapeou os sonhos e aspirações das mulheres brasileiras.
A pesquisa entrevistou 1.080 mulheres de diferentes idades, classes sociais e regiões do país para entender seus desejos e desafios ao longo da vida.
Além disso, foram conduzidas 22 entrevistas espontâneas com mulheres entre 18 e 83 anos nas ruas de São Paulo, oferecendo uma visão mais aprofundada sobre os anseios femininos.
Os dados revelam que, independentemente da fase da vida, as mulheres compartilham aspirações comuns. A busca por estabilidade financeira, construção de uma carreira sólida e a possibilidade de viajar pelo mundo são os principais desejos relatados.
No entanto, o contexto social e econômico tem impacto direto sobre a realização desses sonhos.
Sonhos têm idade?
O estudo identificou que as aspirações femininas mudam com o passar dos anos. Entre as mulheres mais jovens, de 18 a 29 anos, os sonhos estão ligados à formação acadêmica, carreira profissional e independência financeira.
Já entre aquelas com mais de 50 anos, os desejos passam a estar relacionados ao bem-estar, saúde e qualidade de vida.
A pesquisa revelou ainda que viajar é um desejo presente em todas as idades. “Descobrir o mundo é um sonho de ontem, de amanhã e, principalmente, do hoje”, aponta o relatório.
O desejo de viajar ultrapassa barreiras sociais e econômicas, mas, na infância, as mulheres negras sonhavam menos com viagens do que as brancas. Com o tempo, essa diferença se nivela, indicando que o acesso e as oportunidades impactam diretamente na concretização desse sonho.
Apesar dos sonhos, a realidade impõe desafios. A falta de dinheiro é o principal motivo que impede a concretização dos desejos femininos.
Atualmente, 60% das mulheres sonham com estabilidade financeira, sendo esse o objetivo mais citado. A pesquisa também aponta que, no Brasil, a pobreza tem rosto feminino: segundo dados da ONU, 70% das pessoas em situação de pobreza são mulheres.
Escolaridade feminina
Outro dado preocupante é que uma em cada quatro mulheres entre 15 e 29 anos não completou o ensino médio, não estuda e não exerce atividade remunerada.
As principais razões são a necessidade de realizar afazeres domésticos, o cuidado com familiares ou a gravidez precoce.
Além das dificuldades econômicas, a discriminação de gênero e classe social impacta a realização dos sonhos. Quase metade das entrevistadas (46%) afirmou que já teve aspirações limitadas por conta da discriminação.
Entre as mulheres das classes D e E, esse impacto é ainda mais significativo, atingindo 50,4% das respondentes.
O levantamento indica que os sonhos das mulheres mudam com o tempo. Enquanto as gerações passadas tinham como prioridade constituir família, as mais jovens focam na autonomia e na busca por equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
“À medida que vemos gerações que não puderam ser elas mesmas, queremos ser tudo ao mesmo tempo”, disse uma participante da pesquisa.
As mudanças sociais e o movimento feminista ampliaram as possibilidades de sonhar. Entre as entrevistadas, 88% acreditam que tiveram mais oportunidades do que suas mães e avós, e 65% sentem que seus sonhos são mais ambiciosos do que os das gerações anteriores.
Conceito de família
O conceito de família também se transformou. Enquanto nas gerações anteriores o casamento era visto como prioridade, hoje, para muitas mulheres, a ideia de maternidade tem mais peso do que a formação de um núcleo tradicional.
Movimentos como o “Boy Sober” e o “4Bs” – que promovem o distanciamento de relacionamentos convencionais – refletem essa mudança global.
O Boy Sober reúne mulheres que optam por um “detox” de relacionamentos amorosos com homens, muitas vezes motivadas pelo cansaço com aplicativos de namoro, experiências frustrantes e a falta de equilíbrio nas relações heterossexuais.
Já o 4Bs, surgido na Coreia do Sul, significa “sem namoro, sem sexo, sem casamento e sem filhos”, reunindo mulheres que rejeitam os papéis tradicionais de gênero e buscam independência total dos homens.
Mesmo diante das dificuldades, as mulheres seguem sonhando. Para muitas, esse exercício é uma forma de autonomia e resistência.
“Se a gente parar de sonhar, a gente para de viver. Os sonhos fazem a vida ficar colorida”, afirmou uma das participantes do estudo.
A pesquisa reforça que, para que mais mulheres possam sonhar e realizar seus desejos, é necessário investimento em educação, acesso ao mercado de trabalho e políticas públicas que garantam segurança e combate à violência de gênero.
Segundo o estudo, 64% das entrevistadas acreditam que políticas voltadas para o mercado de trabalho e empreendedorismo feminino são essenciais, enquanto 59% defendem o investimento em educação de qualidade e capacitação profissional.
Além disso, 52% destacam a necessidade de mais segurança e combate à violência de gênero.
O relatório destaca que as mulheres brasileiras seguem sonhando, mas que esses sonhos evoluem conforme a sociedade avança.
Com mais oportunidades e apoio, as futuras gerações poderão sonhar ainda mais alto, transformando desejos em conquistas concretas.
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