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CNI reage com ‘indignação’ à decisão do Banco Central que elevou taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual

Confederação diz que aumento trará prejuízos significativos para criação de emprego e geração de renda

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) reagiu com insatisfação e “indignação” à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que elevou a taxa básica de juros, a Selic, de 10,75% para 11,25% ao ano nesta quarta-feira (6), registrando um aumento de 0,5 ponto percentual. O ajuste foi classificado pela entidade como “extremamente conservador” e “equivocado”, intensificando o ritmo de alta, que na última decisão havia sido de 0,25 ponto percentual.

Para a CNI, a elevação da Selic é prejudicial ao setor produtivo e ao crescimento econômico. A Confederação argumenta que o aumento trará prejuízos significativos para a criação de emprego e a geração de renda, uma vez que o custo de financiamento encarece para as empresas, que precisam do crédito para investir em expansão e modernização. A entidade destaca que a decisão do Copom parece exagerada, especialmente diante do cenário fiscal recente, que, segundo eles, mostra sinais de arrefecimento.

Em sua análise, a CNI aponta que o impulso fiscal para a economia vem diminuindo e a pressão inflacionária tem se estabilizado. Nos primeiros seis meses de 2024, as despesas federais primárias cresceram em termos reais 10,5% em comparação ao mesmo período de 2023. Contudo, no segundo semestre, a Confederação estima uma queda real de 1,7% nas despesas primárias em relação ao mesmo período do ano anterior (excluindo o pagamento de precatórios de 2023). Esses dados, segundo a CNI, indicam que o quadro fiscal já apresenta retração suficiente para evitar um novo aumento na Selic.

Outro ponto destacado é a tendência internacional de afrouxamento da política monetária, o que contrasta com a decisão do Banco Central brasileiro. A CNI cita o Banco Central Europeu (BCE) como exemplo, que em outubro realizou seu terceiro corte de juros de 2024, refletindo uma postura mais estimulante para o crescimento econômico. Segundo a entidade, a postura mais rígida do Banco Central do Brasil vai na contramão das economias desenvolvidas, que começam a reduzir suas taxas de juros para estimular o crescimento.

A CNI conclui que o aumento da Selic apenas irá impactar negativamente a economia e frear o crescimento industrial, argumentando que é necessário buscar um equilíbrio entre o combate à inflação e a promoção do desenvolvimento econômico.

Na reunião desta semana nos Estados Unidos, a expectativa é que o Banco Central dos EUA (FED) promova o segundo corte do ano – e com previsão de que realize mais um até o fim de 2024.

Assim, o novo aumento da Selic coloca o Brasil ainda mais na contramão da tendência global, se isolando ao lado da Rússia como os únicos países do G20 que estão subindo juros neste momento.

“Fica evidente que a Selic está em patamar excessivo e incompatível com os elementos que influenciam o quadro inflacionário. Não à toa, a CNI estima que a taxa básica de juros de equilíbrio deveria estar em 8,4% ao ano, considerando a inflação acumulada nos últimos 12 meses. Ou seja, a Selic atual está 2,85 pontos percentuais acima do nível necessário para conter a inflação e evitar prejuízo ao crescimento econômico. Mesmo ao considerar a expectativa de inflação, a taxa de juros de equilíbrio é estimada em 9,3% ao ano, 1,95 ponto percentual acima da Selic atual”.

A CNI defende que o foco do governo deveria ser a retomada dos cortes na taxa de juros para que o país possa avançar na agenda de redução do custo financeiro suportado pelas empresas, que se acumula ao longo das cadeias produtivas, e pelos consumidores. Caso contrário, continuarão penalizando não só a economia brasileira, mas, principalmente os brasileiros, com menos empregos e renda.

Também em nota, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) avalia que o novo aumento da taxa básica de juros é “excessivo diante do atual cenário inflacionário”. A nota lembra que dados recentes da inflação oficial do país mostram que, no acumulado em doze meses, tanto o índice geral quanto os itens mais sensíveis à taxa de juros estão dentro do intervalo da meta para 2024.

“A federação ressalta que o elevado patamar da taxa de juros inviabiliza uma recuperação sustentável da indústria, em especial da indústria de transformação que há dois anos consecutivos registra queda na produção. Compromete, ainda, os investimentos, que continuam abaixo da média mundial. As incertezas relacionadas à condução da política comercial externa a ser adotada pelo novo governo americano tornam o cenário no médio prazo ainda mais desafiador”.

A federação reitera a importância da adoção de medidas que reduzam o risco-país. “Nesse sentido, uma política fiscal comprometida com a sustentabilidade da dívida pública é essencial para uma redução sustentável das taxas de juros. Sem medidas estruturais de contenção de despesas para lidar com o desequilíbrio nas contas públicas, o país corre o risco de enfrentar uma combinação de juros altos, desaceleração econômica acentuada e um crescimento ainda mais elevado do endividamento público”, diz a nota.

Na avaliação de Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e primeiro vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), “seria interessante que as autoridades monetárias também perguntassem aos empresários da indústria, por exemplo, qual o impacto de 0,5 ponto percentual da Selic no custo de um financiamento para investir em máquinas e equipamentos ou manter o capital de giro. Quantos empregos nos setores produtivos deixam de ser gerados a cada aumento da taxa, que, somada aos spreads bancários, torna os juros reais brasileiros um dos mais elevados do mundo? E a retroalimentação da dívida pública, que cresce na mesma proporção, agravando o desequilíbrio fiscal, tão nocivo à economia?”.

Cervone lembra que também é preciso considerar que, excetuando a Argentina, quase todas as nações da América Latina que utilizam a metodologia do teto de gastos têm inflação maior do que a do Brasil e uma taxa de juros menor.

“E há um detalhe importante: cresceram bem mais do que o nosso país”, compara Cervone, relacionando a expansão do PIB das economias regionais na década 2012/2022. No Paraguai, avanço foi de 36,7%. Seguem-se: Colômbia (34,7%); Peru (31,5%); Chile (23,3%); e Uruguai (15%). “Com pífios 2,2%, estamos à frente apenas da Argentina (1,8%), há muito mergulhada em sucessivas crises”.

Lembrando que os juros elevados, muito acima do praticado na maioria dos países, têm sido um dos itens mais onerosos do “Custo Brasil” e um dos fatores que mais afetam a competitividade das empresas nacionais, o presidente do Ciesp ressalva ser necessário um mínimo de sinergia entre as políticas monetária e fiscal para que o Brasil cresça de modo sustentado e sem gerar inflação”. Para o empresário, isso não é o que esperam apenas as entidades empresariais da indústria, mas todos os setores produtivos e a sociedade brasileira.

Com informações do Metrópoles.  

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