IBGE: brasileiros se casam mais velhos e ficam juntos por menos tempo; aumento de uniões foi de 4% em 1 ano

‘Antes o amor estava ligado ao sacrifício e à tolerância. Hoje, as pessoas não têm comprado tanto essa ideia’, diz a psicanalista Bárbara Barbosa

Brasileiros se casam cada vez mais idade, aponta o novo levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados divulgados nesta quarta-feira (27) mostram que o país registrou 907 mil casórios em 2022, o que representa um aumento de 4% de uniões em relação ao ano de 2021.

A partir de 2015, o Brasil passou a registrar redução no número de casamentos. O ritmo de queda aumentou em 2020, em meio à pandemia da Covid-19, quando o país registrou o menor número em comparação ao ano anterior (-25%) — com mais de 1 milhão de casamentos em 2019, os números caíram para 700 mil em 2020.

Em 2021, o número de uniões subiu para 932 mil até chegar a 970 mil em 2022. Porém, segundo o IBGE, o número de casamentos ainda é inferior à média anual de 2015 a 2019, quando foram registradas 1,07 milhão de uniões.

A taxa de nupcialidade legal no Brasil chegou a 5,9 em 2022. Isso significa que a cada 1.000 habitantes com 15 anos ou mais, 5,9 se casaram em 2022. Esse número já chegou a ser de 12,2 em 1980, caiu para 6,7 em 2010 e para 4,5 em 2020.

O Nordeste e o Sul registraram as menores taxas (5,1 e 5,3 casamentos por 1000 habitantes, respectivamente), enquanto o Sudeste e Centro-Oeste, as maiores (6,5 e 6,7).

Em relação aos estados, Rondônia (9,6 casamentos por 1000 habitantes) e o Distrito Federal (9) apresentaram as maiores taxas de nupcialidade. Os menores índices foram registrados no Rio Grande do Sul (4,2) e Piauí (3,4).

Em relação aos casamentos heterossexuais, a idade das pessoas que se casaram em 2022 aumentou tanto para homens quanto para mulheres, independente do estado civil prévio.

Em 2000, 6,3% das mulheres que se casaram tinham 40 anos ou mais de idade. Em 2022, 24,1% dos casamentos civis ocorreram com mulheres nesta faixa etária.

Entre os homens, um fenômeno semelhante também foi observado. Nos anos 2000, 10,2% deles tinham 40 anos ou mais. A parcela de homens desta faixa que se casou pulou para 30,4% em 2022.

Para a psicanalista Bárbara Cristina Barbosa, a população deixar para se casar mais tarde pode ser um reflexo da chamada “geração canguru”, apelido dado para a parcela da população que retarda a saída da casa dos pais.

Para ela, alguns fatores podem explicar a queda do casamento entre os mais jovens e aumento entre os mais velhos. Entre eles, estão o fato de que a união é mais vista como um ritual que demonstra para a sociedade que aquela pessoa ficou adulta.

Além disso, cada vez mais há uma tendência pela dedicação a estudos e especializações. “Muitos pensam que não querem passar pelo mesmo que os pais, que se casaram cedo. Os desejos mudaram, a construção de uma família não é alto, tão presente quanto antes”, diz a psicanalista.

Barbosa também cita que, antigamente, sair de casa significava liberdade sexual. Porém, muitas famílias hoje aceitam que os filhos levem seus parceiros em casa.

Em relação às uniões heterossexuais e as homossexuais, Barbosa reflete que é comum que entre casais de sexos diferente a sociedade cobre e espere que se casem. Porém, o mesmo não acontece com casais do mesmo sexo.

– A expectativa familiar não é exatamente a mesma. Porém, casais homossexuais enxergam como uma vitória a possibilidade de se casarem. Eles querem usufruir da ideia do amor romântico que os casais heterossexuais já tinham. É como se um estivesse conquistando aquilo que o outro está recusando – diz.

O Supremo Tribunal Federal (STF) passou a reconhecer uniões estáveis de casais do mesmo sexo em 2011. Em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) regulamentou os casamentos gays nos cartórios.

Ao todo, o país registrou 420.039 de divórcios em 2022, um aumento de 8,6% em relação número de rompimentos contabilizados em 2021, que somaram mais de 386 mil casos. Em relação às regiões, o Centro-Oeste e o Nordeste apresentaram os maiores aumentos entre 2021 e 2022, com 26,5% e 14%, respectivamente.

Em média, os homens se divorciaram mais velhos que as mulheres. Em 2022, na data do divórcio, eles tinham, em média, 44 anos, enquanto elas tinham 41 anos.

No Brasil, em 2010, o tempo médio entre a data do casamento e a data do divórcio era cerca de 16 anos. Em 2022, houve uma diminuição no tempo de duração do casamento para 13,8 anos.

Os dados mostram também que quase metade dos casais rompeu com menos de 10 anos de união (47,7%). Em 2010, essa taxa era de 37,4%.

A maior proporção das dissoluções aconteceu entre as famílias com filhos menores de 18 anos (47%) – em 2010, a parcela dos divórcios com filhos nesta faixa etária era de 43%.

Para a psicanalista, houve uma mudança nos últimos anos na concepção de amor. “Antes, estava ligado ao sacrifício e à tolerância. Hoje, as pessoas não têm comprado tanto essa ideia de amor”.

Com informações da Folha de S. Paulo.

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