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Caso Marielle: “Rio tem uma organização criminosa que funciona em parceria com policiais e políticos”, diz Orlando Curicica em depoimento

Apontado como miliciano, ele afirma que contravenção e políticos pagavam à delegacia de homicídios para que crimes não fossem solucionados

Nas primeiras duas horas de seu depoimento, na audiência de instrução e julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, descreveu como atuam as organizações criminosas no Rio, a pedido da Procuradoria-Geral da República. Segundo Curicica, há uma ligação entre contraventores, policiais e políticos que, mediante pagamento de propina na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), no período em que os delegados Rivaldo Barbosa e Giniton Lages estavam à frente da especializada.

— O Rio tem uma organização criminosa que funciona em parceria com policiais e políticos — afirmou Curicica, testemunha no processo sobre os mandantes do homicídio da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes.

Curicica, que é acusado de ser miliciano, disse que já respondeu a 15 processos, sendo 13 deles por não aceitar a proposta do então titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) de assumir a morte de Marielle, de acordo com os depoimentos que prestou ao Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado (MPRJ), à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal.

Ele contou que foi escolhido para assumir o crime porque pretendia denunciar um bicheiro pelo homicídio de um amigo, o sargento da Polícia Militar Geraldo Antonio Pereira, executado em maio de 2016, numa academia de ginástica no Recreio. Na opinião da testemunha, o contraventor teria pago à DHC para que ele não fosse ouvido e ainda o indiciasse por algum crime que não cometeu, o que ele denominou de “embuchamento”. Daí a tentativa da polícia, conforme o depoimento de Curicica, de acusá-lo da morte da vereadora.

Segundo Curicica, o delegado Giniton Lages, responsável pela primeira etapa do Caso Marielle pela Polícia Civil e acusado de obstrução da investigação pela Polícia Federal, o procurou em 10 de maio de 2018, na prisão, para lhe propor um acordo.

— Ele chegou para mim e disse que a conversa seria papo de homem, e me falou: “O caso da Marielle é um furacão, e você está no olho do furacão. Estou aqui para você dizer que o Marcelo Siciliano (ex-vereador) te procurou e fez a proposta de matar a Marielle, e você aceitou. Nós queremos o Siciliano. Você vai ficar na carceragem da DAS (Delegacia Antissequestro), e vamos conseguir um perdão judicial para você” — contou Curicica.

Transferência para presídio federal

A testemunha disse que não aceitou e, por causa disso, o delegado teria prometido incriminá-lo em outros crimes. Curicica disse que o delegado teria falado que o ex-chefe de Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, e o promotor Homero das Neves, responsável pelo inquérito à época, estariam aguardando uma resposta. Depois da conversa, a testemunha disse que foi transferido para um presídio federal, onde está há seis anos.

— O que houve contra mim foi uma grande armação da polícia do Rio para me acusar da morte de Marielle — disse ele.

O procurador da República, Olavo Evangelista Pezzotti, foi o primeiro a fazer perguntas à testemunha. Além de questões relacionadas ao crime organizado no estado, Pezzotti queria saber de Curicica como eram as atuações dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, em Jacarepaguá. O depoente afirmou que o clã comanda a região.

— Nenhum outro político entra na área deles. Eles eram os senhores de Jacarepaguá — afirmou ele, que defendeu Siciliano, dizendo que o ex-vereador usava pessoas das comunidades como seus assessores e, assim, trazia benefícios para o local.

Segundo ele, os milicianos expulsam quem não tiver “fechamento” com eles. Em seu depoimento, disse ainda que só placas, propagandas em geral, do clã Brazão eram permitidas na região de Jacarepaguá.

— Havia casos de pessoas com touca ninja que agrediam quem tentasse fazer propaganda lá. Tem que votar em quem? Tem que votar nos Brazão. Se negar a dizer isso, como eles (Brazão) fazem, é muita cara de pau — disse a testemunha.

Curicica negou ser chefe de milícia, alegando que só vendia água e fazia segurança, e que fazia isso há muito tempo.

Com informações do GLOBO.

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