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Beija-Flor homenageia Laíla, um dos grandes vencedores do carnaval carioca

Sem conquistar um título desde 2018, a Beija-Flor aposta na força da comunidade (Davi Normando / Liesa)

Com 14 títulos conquistados, sendo o último em 2018, a Beija-Flor apresentará neste ano o enredo que abordará uma figura emblemática, que ajudou a escola nesses 14 campeonatos: Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, ou simplesmente, Laíla. A escola irá desfilar na avenida com o tema“Laíla de Todos os Santos”, do carnavalesco João Vítor Araújo. A agremiação será a terceira a desfilar na de segunda-feira de carnaval. O cantor Neguinho fará sua última apresentação oficial como puxador da escola

Status e estrela na escola

Depois de 50 anos na escola, Neguinho da Beija-Flor se despede como puxador oficial (Davi Normando / Liesa)

Em entrevista ao RJ-1, o carnavalesco destacou que Laíla foi um dos maiores sambistas da história do carnaval carioca e do Brasil…é uma das histórias mais bonitas da Beija-Flor”, enfatizou João Vítor. Laíla era sambista, cantor, compositor, carnavalesco, diretor e produtor musical autodidata que ganhou status de estrela.

Apelido veio do gosto pela laranja

João Vítor acentua no enredo que a importância do Laíla para o Samba e o Carnaval é indiscutível. Foram sete décadas de dedicação à Cultura Popular Brasileira, e certamente os desfiles das Escolas de Samba não seriam o que se tornaram sem a visão e a sagacidade dele.

O apelido de Laíla teve origem no seu apreço por laranja. Ainda muito novo, quando pedia pela fruta acabava por dizer “laíla” em vez do nome correto. A partir daí, os familiares começaram a chamá-lo pelo nome carinhoso. Laíla tinha um temperamento difícil, mas convivia bem com os integrante da Beija-Flor.

Comandante do exército quilombola

A bateria da Beija-Flor mostra ritmo e cadência que levam a escola a boas notas (Davi Normando / Liesa)

No enredo, Laíla é chamado de “comandante do exército quilombola da Pequena África situada na Baixada Fluminense”. O carnavalesco lembra que Laíla sempre enalteceu a africanidade latente do berço de nossas raízes e a potência do Povo Preto; e com a bravura de um leão movido pela coragem de agir com o coração, deu voz aos descendentes da nobre dinastia do continente de onde vieram os nossos antepassados. Sabedoria que valida o protagonismo da negritude e a resistência dos excluídos invisíveis aos olhos insensíveis relegados a margem da sociedade.

Laíla estava na comissão no primeiro e no último título

O multifacetado Laíla conquistou o primeiro título na Beija-Flor em 1976. O último foi em 2018 (Divulgação)

A Beija-Flor conquistou títulos nos seguintes anos: 1976, 1977, 1978, 1980, 1983, 1998, 2003, 2004, 2005, 2007, 2008, 2011, 2015, 2018. O primeiro campeonato no grupo especial foi com “Sonhar com rei dá Leão”, do carnavalesco Joãosinho Trinta. Laíla tinha acabado de chegar à escola. O samba foi de Neguinho da Beija-Flor. O último campeonato, em 2018, teve a marca de Laíla, que estava na comissão de carnavalescos com Marcelo Misailidis, Cid Carvalho, Victor Santos, Banca Behrends, Rodrigo Pacheco e Léo Mídia.

O enredo foi: “Monstro é aquele que não sabe amar. Os filhos abandonados da Pátria que os Pariu”. Os compositores vencedores foram Di Menor BF, Kiraizinho, Diego Oliveira, Bakaninha Beija-Flor, J.J Santos, Júlio Assis e Diogo Rosa.

Confira o samba-enredo da Beija-Flor

Enredo: “Laíla de Todos os Santos”,

Carnavalesco: João Victor dos santos

Compositores: Romulo Massacesi / Junior Trindade / Serginho Aguiar Centeno / Ailson Picanço / Gladiador / Felipe Sena

Kaô meu velho!
Volta e me dá os caminhos
Conduz outra vez meu destino
Traz os ventos de Oyá
Agô meu mestre
Tua presença ainda está aqui
Mesmo sem ver, eu posso sentir
Faz Nilópolis cantar
Desce o morro de Oyó
Benedito e Catimbó
O alabá Doum
Traz o terço pra benzer
E a cigana puerê
Meu Exu
De copo no palco, sandália rasteira
No chão sagrado toda quinta-feira

O brado no tambor, feitiço
Brigou pela cor, catiço
Coragem na fala sem temer a queda
O dedo na cara, quem for contra reza

Vencer o seu verbo
Gênio do ouvido perfeito
A trança nos versos
Divino e humano em seu jeito
Queria paz mas era bom na guerra
Apitou em outras terras, viajou nas ilusões
Deu voz à favela e a tantas gerações
Eu vou seguir sem esquecer nossa jornada
Emocionada, a baixada em redenção
Chama João pra matar a saudade
Vem comandar sua comunidade
Óh Jakutá, o Cristo preto me fez quem eu sou
Receba toda gratidão Obá, dessa nação nagô

Da casa de Ogum, Xangô me guia
Da casa de Ogum, Xangô me guia
Dobram atabaques no quilombo Beija-Flor
Terreiro de Laíla meu griô

Entenda o samba da Beija-Flor de ponta a ponta

Kaô: Saudação ao orixá Xangô

Oyá: Conhecida também como Iemanjá

Oyó: Cidade da Nigéria fundada pelo pai de Xangô, que a deu de presente ao filho transformando Xangô no rei de Oyó. Este é um dos locais onde o culto ao orixá Xangô é mais forte.

Agô:  é uma expressão iorubá que significa “pedir licença ou permissão”.  É utilizada no Candomblé e na Umbanda para pedir passagem ao entrar num espaço. 

Alabá: é o cargo de dirigente máximo de um terreiro de candomblé de eguns. É também o nome do sacerdote que ocupa esse cargo. 

Doum: é uma figura da tradição iorubá que é associada aos santos católicos Cosme e Damião. É considerado o protetor das crianças até os sete anos de idade. 

Doum é uma figura da tradição iorubá que é associada a Cosme e Damião

Puerê: é uma palavra que aparece na música “Barraca Velha”, da Umbanda, e que pode ser interpretada como uma expressão de alegria e celebração. 

Exu: é um orixá, uma divindade africana, que está presente no candomblé. É um dos maiores orixás e é considerado um mensageiro que liga o humano ao divino. 

Catiço: é um termo usado em terreiros de candomblé e umbanda para se referir a espíritos que ajudam as pessoas.. 

Jakutá: Xangô Jakutá é o lançador de pedras, é enérgico, destemido e conquistador. Usa o osé igi (machado de madeira). Seu número: 12 (odù éjìlà seborà). Sua saudação: “Kawó Kabièsilé!” (Venham ver o Rei descer sobre a terra!).

Obá: é uma orixá do Candomblé que representa as águas e revoltas, a transformação e a justiça. É uma figura feminina, forte, energética e temida, considerada mais forte que muitos orixás masculinos. 

Nação nagô: é uma das expressões mais representativas da herança africana no Brasil. É também conhecida como Candomblé Ketu

Ogum: é um orixá do candomblé que representa a guerra, a coragem, a tecnologia, o trabalho árduo, o ferro, a caça e a agricultura. É o protetor de quem pede ajuda nas lutas. 

Ogum é um orixá do candomblé que representa a guerra e a coragem

Xangô: No Candomblé, Xangô é um orixá que representa a justiça, os raios e os trovões. É um dos orixás mais populares no Brasil. 

Atabaque: é um instrumento musical sagrado e de percussão usado no candomblé, que é uma religião afro-brasileira. É um dos principais instrumentos da música ritual e religiosa do candomblé e da umbanda. 

Atabaque é um instrumento musical sagrado e de percussão usado no candomblé, religião afro-brasileira.

Griô:  é uma figura da tradição oral africana que preserva e transmite a história, os conhecimentos, canções e mitos do seu povo. No candomblé, o griô é um guardião da memória e das raízes da comunidade. 

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