Audiência com Haddad na Câmara é encerrada após bate-boca com Nikolas e Jordy e acusações de ‘molecagem’

Ministro usou termo ao criticar que deputados bolsonaristas deixaram plenário após fazer críticas à gestão Lula. 'Moleque é você', rebateu Jordy na volta; tumulto impediu novas falas

A presença do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em uma audiência na Câmara dos Deputados nesta terça-feira (11) foi marcada por um debate agressivo, com bate-boca e troca de acusações entre Haddad e deputados bolsonaristas.

Ao questionar o ministro, os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Carlos Jordy (PL-RJ) falaram em uma “gastança” do governo Luiz Inácio Lula da Silva – que, segundo eles, tem aumentado impostos e, ainda assim, registrado déficits nas contas públicas.

Na resposta, Haddad partiu para o ataque e criticou que os deputados não estavam presentes para ouvir a réplica, o que ele classificou como “molecagem”.

“Agora aparecem dois deputados, fazem as perguntas e correm do debate. Nikolas sumiu, [perguntou] só para aparecer. Pessoas falaram, agora tenha maturidade. E corre daqui, não quer ouvir explicação, quer ficar com o argumento dele. Não quer dar chance de o diálogo fazer ele mudar de ideia”, disse Haddad;

“Esse tipo de atitude não é boa, venho aqui para debater. Esse tipo de atitude de alguém que quer aparecer na rede e some. É um pouco de molecagem, e isso não é bom para a democracia”, seguiu.

Em seguida, o ministro da Fazenda tratou dos questionamentos sobre o aumento de impostos e os déficits nas contas públicas do governo Lula, após a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro ter registrado, em 2022, seu último ano, um saldo positivo de R$ 54 bilhões (veja detalhes abaixo).

‘Moleque é você’, rebate Jordy

Em seguida, o deputado Carlos Jordy, que havia deixado o plenário, retornou ao local, pediu direito de resposta e respondeu o ministro, também agressivamente.

“Eu estava em outra comissão. O ministro nos chamou de moleque. Moleque é você, ministro, por ter aceitado um cargo dessa magnitude e só ter feito dois meses de [faculdade de] economia. Moleque é você por ter feito o nosso país ter o maior déficit da história. Governo Lula é pior do que uma pandemia”, disparou Jordy.

Nikolas também voltou à sessão e questionou as falas do ministro Haddad. Mas foi interrompido pelo deputado que comandava os trabalhos, Rogério Correia (PT-MG) – que tentava restaurar a ordem das falas dos deputados inscritos.

O tumulto, porém, não cessou.

Rogério Correia disse que ia retirar dos registros da Câmara as ofensas ditas por Jordy. Em resposta, a oposição a Lula exigiu que a resposta inicial de Haddad também fosse retirada.

Correia ainda chegou a pedir ordem no plenário algumas vezes. Sem acordo e com o acirramento das acusações, no entanto, optou por encerrar a sessão sem que todos os oradores pudessem falar.

Haddad fala em ‘desrespeito’

Na saída da reunião, Haddad disse que os deputados citaram dados errados sobre a economia e deixaram a sala antes de ouvir as respostas.

“Toda vez que um deputado, pensando em suas redes sociais, desrespeita um ministro – e isso aconteceu com a Marina, aconteceu comigo. Faz a pergunta, fala o que quer, insinua coisas e simplesmente vai embora antes da resposta. Imagina se eu fizesse o oposto, se alguém fizesse uma pergunta e eu fosse embora sem responder?”, questionou

“Sei que as pessoas têm outro compromisso. É um direito delas fazer as perguntas, ouvir e sair do plenário. Mas da maneira como os bolsonaristas estão fazendo, eu já passei em 2018. Bolsonaro teve alta [médica], teve [confirmação] para participar do debate e fugiu. Toda vez é isso. Viemos aqui para esclarecer e eles fogem do debate em tom desrespeitoso”, emendou.

O que os deputados tinham dito?

Em sua primeira intervenção, o deputado Carlos Jordy elogiou a coragem de Haddad em comparecer ao parlamento com o “governo fazendo tanta trapalhada na economia”.

“Engraçado, deputados falando a respeito do governo Lula me deixam querendo viver nessa propaganda do PT. Ouvi deputado dizendo que a inflação está controlada. Em que mundo você vive? Você vai ao mercado? Os preços dos alimentos estão explodindo. O ministro falou que o Brasil voltou a crescer. Voltou a crescer na inflação, no preço dos alimentos, nos juros, nas despesas desordenadas”, disse.

Por fim, Jordy chamou de “horrível” o pacote de alta de impostos anunciado nesta semana para reverter parte do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). E contestou as críticas feitas por Haddad à gestão Bolsonaro.

Já o deputado Nikolas Ferreira disse que Haddad parece ser o “ministro da Suíça”, e que ele “pinta um Brasil que não existe”.

“Falam muito sobre as pessoas mais necessitadas, mas não está lá na ponta para poder ver o preço das coisas. E se fosse no governo anterior, estariam fazendo um alvoroço. A coisa não está legal, e quem sofre as consequências são as pessoas mais pobres desse país. É simples ficar rindo aqui, como se estivesse tudo bem, tudo certo”, disse ele.

Nikolas também:

  • disse que o governo subiu vários impostos sem apresentar medidas de corte e que, por isso, não tem responsabilidade fiscal;
  • rebateu a fala de Haddad sobre a alta dos impostos afetar apenas quem mora em “cobertura” – disse que a classe média também compra títulos incentivados;
  • citou o superávit de R$ 54 bilhões deixado pelo governo Bolsonaro.

Haddad critica Bolsonaro

Ao responder às perguntas de Jordy e Nikolas, além de criticar a postura dos deputados, Haddad também rebateu os argumentos de que o governo Bolsonaro teria tido bons indicadores econômicos.

Segundo Haddad, o superávit nas contas públicas em 2022 foi feito às custas de:

  • “calote” com os governadores, que tiveram de reduzir o ICMS dos combustíveis para baixar “artificialmente” o preço da gasolina em ano eleitoral;
  • “calote” nos chamados “precatórios”, ou seja, sentenças judiciais;
  • a venda da Eletrobras “na bacia das almas”, o que ele considerou como “barbeiragem e vergonha”,
  • o envio de centenas de bilhões pelas Petrobras em dividendos, que ele identificou como um tipo de “depenagem”.

“Em 2022, eles estão alegando que houve um superávit primário. A que custo? Bolsonaro deu um calote dos governadores, tomou o ICMS com a promessa de pagar. Quem pagou foi o governo Lula em março de 2023, R$ 30 bilhões. Para indenizar os governadores da barbeiragem do Bolsonaro para baixar artificialmente o preço da gasolina. Superávit primário de 2022 também se deveu ao calote de precatórios, foram pagos R$ 92 bilhões a mais em 2024”, disse Haddad.

“Houve a barbeiragem da venda da Eletrobras, vendeu na bacia das almas, uma vergonha. Depenram a Petrobras com a distribuição de dividendos que superou R$ 200 bilhões (…) Dando calote, torrando patrimônio público e tomando dinheiro de governador. Assim qualquer um faz superávit”, acrescentou o ministro da Fazenda.

⌛ Em 2022, o Congresso Nacional aprovou projeto que limitou o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo – que foi sancionado por Bolsonaro posteriormente.

⏳ Pelo menos 21 estados e o DF reduziram o ICMS sobre combustíveis. Por isso, deixaram de arrecadar bilhões de reais. Em 2023, o governo Lula sancionou lei para compensar os estados e municípios no valor de R$ 27 bilhões.

Com informações do g1

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