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Alunos da UFRRJ pagam taxas a milicianos e policiais para realizarem festas em Seropédica, diz professor e pesquisador

Milicianos que mataram um estudante da Universidade Rural de Seropédica durante o confronto entre facções criminosas foram fotografados pelos moradores na Br 445, no KM 49, pertinho da Câmara de Vereadores.

O professor e pesquisador José Cláudio Souza Alves, do Departamento de Ciência Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) diz que apesar de ser uma cidade pequena, com pouco mais de 80 mil habitantes e com característica estudantil, Seropédica desperta o interesse de grupos criminosos pela localização estratégica. Um estudante morreu e uma mãe e seus dois filhos, de 1 e 3 anos ficaram feridos na tarde de segunda-feira, numa troca de tiros no Centro do município, em mais uma disputa entre milicianos.

Seropédica fica entre Itaguaí e Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e estabelece conexões com Japeri e Queimados, também na mesma região. Além disso, é eixo de passagem do Arco Metropolitano, da BR-465 e da Rodovia Presidente Dutra. Isso, segundo o pesquisador torna a localidade estratégica para os grupos criminosos do ponto de vista do controle territorial.

Conheça a região onde aconteceu a guerra — Foto: Editoria de Arte

O sociólogo, que é autor do livro “Dos barões ao extermínio: uma história da violência na Baixada” e pesquisador da milícia, diz que, além de cobrar taxas de comerciantes e controlar o comércio de gás e o serviço gatonet, até festas de universitários e as comemorações em família precisam pagar taxa aos milicianos para serem realizadas.

José Cláudio diz que, no caso das festas realizadas pelos universitários na cidade, eles são obrigados a pagar taxas para a milícia e para a polícia. Ele afirma ter relatos de que, em algumas vezes, uma mesma pessoa faz a cobrança pela milícia e pela polícia:

— Festa na Rural, para funcionar os alunos têm que pagar taxas para os milicianos e para a polícia. Tenho relatos de que chega o miliciano para cobrar e normalmente são R$ 5 mil. Depois vem o mesmo cara numa viatura para cobrar o da polícia, nesse caso, R$ 1.200.

Segundo o sociólogo, até para as festas em família, realizadas nos quintais das casas, é preciso pagar taxas aos milicianos, quando eles tomam conhecimento de sua realização. O pesquisador diz ter informações de que a ação dos milicianos avança até para a estrutura da prefeitura.

— Há uma relação intrínseca entre a estrutura da milícia e a estrutura policial e, mais recentemente, a gente assiste também o avanço da estrutura miliciana dentro da prefeitura da cidade. Já houve vários episódios de denúncias de verbas que estão sendo destinadas a licitações e licenças que passam pelo controle miliciano — denuncia.

Procurada, a Universidade Rural informou, por meio de nota, que nunca recebeu nenhum tipo de denúncia a respeito de cobrança de taxas por milicianos e policiais para permitir a realização de festas de alunos, até porque a reitoria não as tem autorizado no interior do campus de Seropédica, “exceto como parte da programação de eventos acadêmicos institucionais”. A Prefeitura de Seropédica informou que “desconhece o que foi exposto pelo referido sociólogo José Cláudio Souza Alves”, e ressaltou que “tem resguardado os princípios que regem a administração pública, como legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, além da transparência, em todas as suas licitações, contratos e concessões de licenças”. A prefeitura afirmou ainda que reitera que “desconhece as fontes de pesquisa utilizadas pelo referido sociólogo, e destaca que a Procuradoria Geral do Município adotará as medidas legais cabíveis ao caso” (leia a íntegra da nota ao fim da matéria).

A Polícia Militar foi procurada, mas ainda não respondeu. Já a Polícia Civil afirmou, sobre as denúncias feitas pelo professor, que “investiga a ação de grupos criminosos na região e todas as suas atividades. Agentes realizam diligências para identificar e responsabilizar criminalmente os envolvidos”.

As aulas na universidade foram suspensas na segunda-feira, no turno da noite e nesta terça-feira. O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) está reunido em reunião extraordinária para decidir se, nos próximos dias, as aulas permanecerão suspensas ou se ocorrerão remotamente.

Confrontos intensificados

Nas últimas semanas confrontos entre milicianos se intensificaram em Seropédica. A morte de Tauã de Oliveira Francisco, o Tubarão, durante operação da Polícia Civil, em fevereiro, teria agravado a guerra entre traficantes rivais. De acordo com as investigações, ele era chefe de um grupo que é inimigo de Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, e atuava em Seropédica, Itaguaí e parte de Nova Iguaçu.

Ricardo Coelho da Silva, conhecido como Cientista, teria assumido a milícia no lugar de Tubarão e acabou sendo morto um mês depois durante um aniversário numa casa de festas no Tanque, na Zona Oeste do Rio. A Polícia investiga quais grupos armados estão disputando o controle da região. Zinho está preso desde dezembro.

O professor José Cláudio Souza Alves diz que, além dos milicianos, correm por fora, na busca pelo controle de áreas na cidade, traficantes do Comando Vermelho que atuam na comunidade de Grão-Pará e na Estrada de Madureira, em Nova Iguaçu. Eles estariam tentando retomar o terreno perdido para milicianos no Km 40, comunidades do Mutirão e Campinho de Areia.

Aulas suspensas

A Administração Central da UFRRJ informou que as atividades acadêmicas presenciais e a realização de qualquer atividade remota estão suspensas até o dia 12 de abril no câmpus Seropédica. A medida foi tomada tendo em vista os gravíssimos acontecimentos envolvendo a violência de grupos criminosos no município, que culminaram no trágico falecimento do discente Bernardo V. Paraíso, aluno do curso de Ciências Biológicas.

Caminhada pela Paz

Diversos setores da sociedade organizada estão convocando uma Caminhada pela Paz no próximo sábado ( 13) em Seropédica, a partir das 10 horas. A concentração será em frente à 1ª Igreja Batista

*com informações do Globo e do Nova Iguassu Online.

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