Ao ler uma mensagem enviada para seu telefone, no último dia 7, a técnica de enfermagem Danielle Cristina, de 44 anos, achou que havia recebido uma boa notícia. Um texto, acompanhado de uma foto do seu advogado, informava que ela receberia R$ 20 mil referentes ao resultado de uma ação por juros abusivos, que tramitava no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Mas, para que isso acontecesse, seria necessário fazer um Pix de R$ 980 para a conta de uma terceira pessoa. Tudo para custear a expedição de uma suposta certidão e possibilitar o recebimento do pagamento. Sem ter todo o valor exigido, ela enviou R$ 480.
Danielle não sabia, mas havia acabado de cair em um golpe que vem sendo aplicado com frequência no Rio de Janeiro. Após acessar processos em trâmite na Justiça, estelionatários pegam dados das partes interessadas em páginas de consultas públicas. Depois, entram em redes sociais e copiam fotos de advogados que atuam nos casos. Por fim, se passam pelos profissionais e enviam mensagens para os clientes informando falsamente o resultados dos processos, sempre com um respectivo pedido de dinheiro para agilizar a documentação e liberação do valor a ser recebido. Para dar mais credibilidade, chegam a enviar capturas de tela onde aparecem os nomes dos clientes nos processos.
— Enviei R$ 480. Ele retornou com outra mensagem perguntando se eu podia mandar mais. Quando ele falou isso, eu desconfiei e disse que era golpe — contou a técnica de enfermagem, que registrou o caso na 9ª DP (Catete).
Clientes em perigo
Ramon Quintanilha é o advogado de Danielle. Ele teve a foto e o nome usados pelos golpistas. Por isso, também registrou uma ocorrência, denunciando a fraude à Polícia Civil. Além da técnica de enfermagem, sete clientes do advogado passaram pela mesma situação, conta ele.
— O processo é público. O golpista acaba tendo acesso aos dados e entra em contato com o cliente se passando por nós. Às vezes dizem que a pessoa ganhou uma causa de R$ 20 mil, por exemplo, e pedem um Pix para o pagamento de uma taxa. No fim, dizem que o Pix está em nome de uma terceira pessoa. Recomendei aos meus clientes que fizessem um boletim de ocorrência em uma delegacia. Também recomendei que ligassem para o banco pedindo um bloqueio do Pix, dizendo ter sido vítima de uma fraude.
Prejuízo de R$ 2,8 mil
O advogado Leandro Oliveira foi outro que teve a foto clonada por golpistas. Cerca de 50 clientes dele chegaram a receber mensagens enviadas por estelionatários se passando pelo profissional. Pelo menos um deles acabou caindo no golpe.
— Diversos clientes me mandaram mensagens perguntando: “Ganhamos o processo?”. Eu respondia: “Como assim?”. E eles diziam que eu havia mandado uma mensagem mencionando que a gente havia vencido o processo e que teria que pagar um perito. Eu expliquei que não havia enviado nenhuma mensagem — afirma Leandro: — O golpista pegou minha foto numa rede social e fez um perfil falso, criando até uma logomarca diferente da do meu escritório. Pediram dinheiro a mais de 50 clientes. A sorte é que a maioria conseguiu me ligar a tempo e eu orientei para não enviar qualquer Pix, porque era fraude. Mas teve um cliente que pagou R$ 2.850. Quando ele me procurou, já era tarde, porque havia feito o Pix.
Confirme quem é o contato antes do Pix
O golpe do falso advogado geralmente aborda ações de precatórios, pedido de indenizações, questionamentos de juros abusivos, processos previdenciários ou questões jurídicas das áreas cível ou trabalhista. No Estado do Rio de Janeiro, estimativa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) é a de que mais de uma centena de pessoas já tenha sido vítima deste tipo de estelionato.
Luciano Bandeira, presidente da OAB-RJ, diz que é fundamental que, ao receber qualquer mensagem com pedido de pagamento, o cliente ligue para o contato que ele possui do advogado.
— Aqui na OAB temos informação de um grande número de utilizações deste golpe. A orientação que temos dado é a de que o detentor do contato, o cliente, ligue para o advogado nos números que ele já possui, seja o do escritório ou do celular, ou envie o e-mail para perguntar se mandaram alguma mensagem. Não ir por outro contato enviado por WhatsApp — disse Bandeira, que conta já ter sido vítima de um caso parecido e orienta ainda que todos os golpes ou tentativas de golpe devem ser registrados em delegacias.
Em nota, o Tribunal de Justiça lembrou que as consultas aos processos são públicas, a não ser quando são casos que estão em segredo de justiça:
“Quando qualquer irregularidade é comunicada, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro toma todas as providências necessárias imediatamente para coibir a prática. Importante destacar, no entanto, que a consulta dos processos é pública, salvo nos casos de segredo de justiça, e facilita o acesso e acompanhamento das ações pelos cidadãos”.
Com informações de O Globo