O juiz-auxiliar da 3ª Vara Criminal, Cariel Bezerra Patriota, determinou, nesta terça-feira (21/01), que os três homens acusados de monitorar e vigiar o advogado Rodrigo Crespo, assassinado em 26 de fevereiro do ano passado, sejam levados a júri popular. Os réus são o policial militar Leandro Machado da Silva, Cezar Daniel Mondêgo de Souza e Eduardo Sobreira de Moraes. O crime ocorreu em plena luz do dia, na Avenida Marechal Câmara, no Centro do Rio, na calçada da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) e próximo ao Ministério Público e à Defensoria Pública.
O magistrado também decidiu não atender ao pedido das defesas para revogar a prisão preventiva dos réus, uma vez que não houve qualquer mudança na situação deles para serem soltos. Eles foram presos pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) nas primeiras semanas de investigação. A polícia ainda procura pelo atirador e pelo mandante ou mandantes do crime. Rodrigo Crespo foi executado às 17h16, na calçada, em frente ao escritório onde trabalhava. O laudo do Instituto Médico Legal constatou 21 perfurações de entrada e saída de tiros.
Vítima pretendia ter sua própria bet
Durante as audiências de instrução e julgamento, algumas testemunhas reforçaram a tese de que a vítima não só tinha interesse em prestar assistência jurídica no ramo das apostas on-line, como também planejava criar sua própria bet. Desde o início das investigações, a principal linha da Delegacia de Homicídios apontava que Rodrigo teria “atrapalhado interesses escusos de organização criminosa atuante” na exploração desse tipo de jogo.
Em sua denúncia, o Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público do Rio (MPRJ) descreveu e apresentou indícios de que “o crime foi cometido por motivo torpe, demonstração de força e poder, haja vista que a atuação profissional da vítima, como advogado, vinha incomodando”.
O delegado Rômulo de Assis, titular da DHC, afirmou em depoimento à Justiça que “houve sofisticação no crime, com características típicas de grupos organizados e matadores de aluguel”.
Uma policial que analisou o celular da vítima relatou que havia várias mensagens relacionadas ao mercado de jogos e apostas. Segundo ela, em uma conversa entre Rodrigo e um homem chamado Pedro, proprietário de uma casa de pôquer em Botafogo, o advogado demonstrava interesse em saber se o estabelecimento teria interesse em trabalhar com bets.
Outras testemunhas também destacaram o interesse de Rodrigo pelas apostas on-line. Um amigo da vítima afirmou que o advogado havia confidenciado o desejo de possuir sua própria bet no futuro. No entanto, o próprio Rodrigo reconhecia que, no Rio, isso seria inviável devido à atuação da contravenção no ramo.
Na fase de interrogatórios, apenas o policial militar Leandro Machado se pronunciou sobre o caso, respondendo exclusivamente às perguntas de sua defesa. Ele negou participação no crime. Os demais réus optaram pelo silêncio.
Em sua decisão desta terça-feira, o juiz Cariel Patriota concluiu: “Assim, entendo haver indícios suficientes de autoria que autorizam a submissão dos réus a julgamento pelos populares no Tribunal do Júri quanto ao crime doloso contra a vida relatado na inicial acusatória”.