
Um relatório de 2022 do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) afirmava que as cidades são responsáveis por 70% das emissões de gases de efeito estufa. Isso se deve ao fato de concentrarem dois terços da mobilidade motorizada e três quartos das construções do planeta, reconhecidas fontes primárias de emissão de CO₂. É inegável que sejam a principal causa do problema, mas, ao mesmo tempo, também abrigam prováveis soluções.
Talvez por isso muitas delas, mundo afora, vêm investindo na busca da sustentabilidade, adotando importantes mudanças na forma de formular e gerir políticas públicas capazes de reduzir seus impactos no clima.
Há iniciativas relevantes voltadas ao reconhecimento do capital natural das cidades e da infraestrutura verde nelas disponível. A conservação de recursos ambientais, a recuperação de áreas degradadas, o manejo seguro dos recursos hídricos — incluindo a recuperação de nascentes e das faixas marginais de proteção de rios e lagoas — são exemplos indispensáveis a um programa de ações de governo e da sociedade para tornar as cidades mais sustentáveis.

Esse capital natural disponível precisa ser reconhecido oficialmente e valorizado por meio de investimentos permanentes, garantindo sua preservação e, quando couber, o uso responsável e seguro de seus atrativos. Seja para a realização de práticas de ecoturismo, para o desfrute dos benefícios do contato com a natureza, para a observação de aves, entre outras atividades. Parques naturais, parques urbanos e áreas de preservação permanente são alguns dos ativos ambientais a serem considerados nessa política de valorização de áreas verdes.
Outra estratégia decisiva na busca por mais sustentabilidade nas cidades é a gestão integral dos resíduos gerados pelo consumo e pela produção industrial, vegetal e animal, incorporando-os novamente à cadeia produtiva. Reduz-se, assim, a extração de recursos naturais. Alguns chamam essas ações pró-reciclagem de “mineração urbana”, uma atividade promotora da economia circular e de baixo carbono.

Ainda na perspectiva de tornar as cidades mais sustentáveis, destaca-se a implantação dos chamados arranjos ecoprodutivos locais, que visam desenvolver sistemas de produção voltados, por exemplo, à prospecção de produtos da biodiversidade para uso na indústria farmacêutica, na produção de cosméticos, alimentos, biofertilizantes, entre outros.
Essas formas de aproveitamento dos recursos naturais, aliadas a outras, podem impactar de modo muito positivo a economia da cidade, ampliando as oportunidades de emprego e renda para sua população. Estar disposto a promover a sustentabilidade pode levar uma cidade à prosperidade — ao mesmo tempo em que contribui para salvar o planeta.

*Vicente Loureiro, arquiteto e urbanista, doutorando pela Universidade de Lisboa, é autor dos livros Prosa Urbana e Tempo de Cidade