PM: 95% dos fuzis apreendidos no Rio em 2024 são de fabricação internacional

Armas pesadas são oriundas principalmente dos EUA; governo busca cooperação internacional para conter tráfico — Foto: Divulgação Polícia Militar

Um levantamento da Subsecretaria de Inteligência da Polícia Militar do Rio de Janeiro revela que, dos 638 fuzis apreendidos no estado em 2024, apenas 34, o equivalente a 5,32%, foram fabricados no Brasil. O restante, 604 armas, tem origem estrangeira, com destaque para os Estados Unidos, que lideram o contrabando com 295 unidades da plataforma Colt confiscadas pelas autoridades. As informações são do jornal Extra.

Segundo o relatório, as armas estadunidenses, embora licenciadas para comercialização em outros países, entram clandestinamente no Brasil pelas fronteiras com Paraguai, Bolívia e Colômbia. Uma particularidade levantada pelo documento é que pelo menos 25 unidades foram introduzidas desmontadas, por meio de peças avulsas adquiridas nos Estados Unidos e posteriormente montadas no território nacional. Um dos indícios apontados é a marcação de uma caveira no equipamento balístico, símbolo de um fabricante estadunidense de peças para fuzis.

O documento detalha ainda que, em alguns casos, componentes de armas de airsoft, como chassis e coronhas, são fundidos por armeiros locais a restos de armamentos inutilizados, formando armas funcionais. Enquanto uma arma desmontada desse tipo custa cerca de R$ 6 mil nos EUA, no Rio seu preço chega a R$ 50 mil quando vendida a facções criminosas e milicianos.

Além dos EUA, outras origens dos fuzis apreendidos incluem países como Alemanha, Israel, Áustria e República Tcheca. Estima-se que o valor de mercado total desses 638 fuzis ultrapasse os R$ 44 milhões.

O relatório também aponta a concentração das apreensões em territórios controlados por grupos criminosos. Só em áreas dominadas pelo Comando Vermelho (CV) foram recolhidos 365 fuzis; o Terceiro Comando Puro (TCP) teve 204 armas apreendidas; milícias perderam 48 fuzis; enquanto o Amigos dos Amigos (ADA) somou 12 apreensões. Apenas sete armas foram confiscadas em locais sem controle de facções e duas em áreas em disputa.

Para o secretário da Polícia Militar, coronel Marcelo Menezes, embora as apreensões diminuam o poder bélico dos criminosos, o problema ainda está longe de ser solucionado.

“A apreensão de fuzis no estado, sobretudo na região metropolitana, é hoje um dos maiores desafios da Polícia Militar. Impedir que os fuzis cheguem no Rio de Janeiro seria fundamental, já que realizamos operações diárias para recolher essas armas de guerra das mãos de criminosos. Estamos reduzindo o poderio bélico das facções que disputam domínios territoriais de forma extremamente violenta, e, mais importante, preservando a vida de cidadãos e policiais”, afirmou Menezes.

O relatório, conduzido pela equipe do subsecretário de Inteligência coronel PM Uirá Nascimento, foi apresentado pelo governador Cláudio Castro em reunião com representantes do Escritório das Nações Unidas para Assuntos de Desarmamento, em Nova York, no dia 12 de maio. Na ocasião, Castro sugeriu que a cooperação da ONU poderia ajudar a evitar o tráfico e a entrada dessas armas no estado. Segundo o governador, no total, 732 fuzis foram apreendidos pelas forças de segurança do Rio em 2024.

A rota que liga os Estados Unidos às favelas cariocas tem sido foco constante das autoridades. Uma reportagem do Extra, divulgada em 15 de maio, revelou que 60% dos fuzis apreendidos em 2025 até o momento são de fabricação estadunidense.

O governo dos EUA também está atento ao problema. Na Operação Contenção, realizada em 13 de maio, foram apreendidas 240 armas e mais de 43 mil munições em quatro estados brasileiros, incluindo uma mansão na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. A operação contou com a colaboração da Homeland Security Investigations (HSI), braço investigativo do Department of Homeland Security (DHS) dos Estados Unidos, responsável por combater crimes e ameaças transnacionais ao país norte-americano.

O relatório da Polícia Militar evidencia a complexidade do tráfico internacional de armas e o impacto direto no aumento da violência armada nas comunidades do Rio de Janeiro. A cooperação internacional, somada à ação contínua das forças de segurança, é apontada como crucial para tentar frear a chegada de armamento pesado que alimenta a guerra entre facções e milícias na cidade.

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