O sucessor de Francisco herdará uma Igreja em transição: mais global, atenta às periferias e desafiada por profundas transformações sociais, culturais e espirituais
Com a morte do papa Francisco, a Igreja Católica se prepara para mais um conclave, o processo sigiloso e solene no qual os cardeais do mundo inteiro se reúnem para eleger o novo líder da maior comunidade cristã do planeta. A lista de possíveis sucessores inclui religiosos de diferentes perfis e regiões — de diplomatas veteranos a defensores das causas sociais. As informações são de O Globo, com base em análises de especialistas em Vaticano e trajetória dos principais cardeais.
O sucessor de Francisco terá como missão conduzir a Igreja em meio a desafios como a crescente secularização, as tensões internas entre conservadores e progressistas, a crise de credibilidade em função dos escândalos de abuso e a missão pastoral em um mundo cada vez mais fragmentado.
Os nomes mais cotados para o papado
Pietro Parolin (Itália)

Secretário de Estado do Vaticano desde 2013, Parolin é considerado um dos nomes mais fortes na disputa. Diplomata hábil, tem vasta experiência internacional e trânsito político dentro e fora da Cúria Romana. Foi o primeiro cardeal nomeado por Francisco e é descrito como um articulador eficaz, fluente em várias línguas.
Matteo Zuppi (Itália)

Arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, Zuppi representa a ala mais progressista da Igreja. Ligado à Comunidade de Sant’Egidio, atua como enviado do Vaticano para negociações de paz, inclusive na guerra da Ucrânia. É defensor da inclusão social, do acolhimento aos pobres e do diálogo com a comunidade LGBTQIA+.
Pierbattista Pizzaballa (Itália)
Atualmente Patriarca Latino de Jerusalém, é franciscano e se destacou por sua atuação no Oriente Médio e pelo compromisso com o diálogo inter-religioso. Tem posição sensível no contexto do conflito Israel-Palestina e se notabilizou por defender os palestinos.
Jean-Marc Aveline (França)

Arcebispo de Marselha, é apontado como o mais “bergogliano” dos franceses. De origem argelina, é comprometido com a causa dos migrantes e com o diálogo entre religiões, além de ter forte afinidade com Francisco em temas sociais.
Péter Erdo (Hungria)

Arcebispo de Esztergom-Budapeste, Erdo é um dos nomes mais representativos da ala conservadora. Foi o cardeal mais jovem da Europa por muitos anos e preside a Conferência Episcopal Europeia. É conhecido por sua postura firme contra a secularização e seu trabalho com igrejas ortodoxas.
José Tolentino de Mendonça (Portugal)

Prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, é poeta e teólogo respeitado. Defensor de uma Igreja aberta ao debate contemporâneo, Tolentino também é ligado a Francisco e tem perfil progressista, com formação sólida e experiência acadêmica internacional.
Mario Grech (Malta)

Secretário-geral do Sínodo dos Bispos, é uma das vozes mais influentes na discussão sobre o futuro da Igreja. Tem perfil pastoral e é envolvido em questões de justiça social e sinodalidade.
Luis Antonio Tagle (Filipinas)

Ex-presidente da Caritas Internacional e uma das figuras mais carismáticas da Igreja na Ásia. É visto como um símbolo da universalidade da Igreja e tem atuação destacada na luta contra a pobreza e na defesa dos direitos humanos.
Robert Francis Prevost (EUA)

Nomeado em 2023 como prefeito do Dicastério para os Bispos, é americano, mas com ampla atuação pastoral na América Latina. Frei agostiniano, tem perfil conciliador e experiência em gestão episcopal.
Wilton Gregory (EUA)

Primeiro cardeal afro-americano, é arcebispo de Washington D.C. e conhecido por seu engajamento em causas como igualdade racial, justiça social e combate ao abuso clerical. É também crítico das mudanças climáticas e defensor de uma Igreja mais inclusiva.
Blase Cupich (EUA)

Arcebispo de Chicago, é um dos nomes mais progressistas do episcopado norte-americano. Aponta para uma Igreja mais aberta aos fiéis marginalizados e com forte ênfase em temas sociais.
Fridolin Ambongo Besungu (RDC)

Cardeal da República Democrática do Congo, representa a força da Igreja na África e tem se destacado por sua defesa da justiça e da paz em seu país. Também tem sido voz importante contra a destruição ambiental.
Leonardo Ulrich Steiner (Brasil)

Primeiro cardeal da Amazônia, é uma das apostas de Francisco para reforçar o protagonismo da região no debate eclesial. Arcebispo de Manaus, Steiner é defensor da ecologia integral e de uma Igreja com rosto amazônico.
Sérgio da Rocha (Brasil)

Atualmente arcebispo de Salvador, Rocha tem sólida formação teológica e vasta experiência pastoral. Já foi membro da Congregação para os Bispos e tem prestígio na Cúria Romana.
Um conclave plural
A diversidade de perfis dos cardeais cotados evidencia o mosaico de correntes que compõem a Igreja Católica hoje. O próximo conclave, que ocorrerá em meio a expectativas elevadas e divisões internas, será decisivo para o futuro do catolicismo no século XXI.
Independentemente do eleito, o sucessor de Francisco herdará uma Igreja em transição: mais global, atenta às periferias e desafiada por profundas transformações sociais, culturais e espirituais.