Disputa por fundo eleitoral divide alta cúpula petista

*Luiz Carlos Azedo

Candidato a presidente do PT, Edinho Silva não chegou a um acordo com Gleisi Hoffmann, que não abre mão de manter a atual tesoureira no cargo, Gleide Andrade. Edinho quer outro nome

Subiu no telhado a candidatura à presidência do PT do ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva, que tinha o apoio do presidente Luiz Inácio da Silva, “ma non troppo”. Pode perdê-lo por não conseguir unir a principal corrente do partido, Construindo o Novo Brasil (CNB). Lula nunca tornou público esse apoio e, ao nomear Gleisi Hoffman para a Secretaria de Articulação Política do Governo, enfraqueceu seu próprio candidato, na queda de braços pelo controle da gestão dos recursos financeiros do partido. No ano passado, o fundo eleitoral do PT foi de R$ 619,9 milhões.

Existe uma disputa acirrada entre os principais líderes do CNB pelo comando da legenda. Edinho Silva é apoiado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o ex-ministro José Dirceu, líder histórico do PT, que voltou a atuar fortemente nos bastidores do partido, principalmente em São Paulo. Entretanto, Edinho não chegou a um acordo com Gleisi, que não abre mão de manter a atual tesoureira no cargo, a mineira Gleide Andrade. Edinho quer indicar outro nome para o cargo, o qual ele já exerceu e cuja importância conhece bem. Sem isso, avalia que seria uma rainha da Inglaterra.

A queda de braços abriu espaço para que outras lideranças do CNB entrassem na disputa com Edinho, principalmente o líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), que tem forte apoio na bancada federal e do ministro Wellington Dias, do Desenvolvimento e Assistência Social. Corre por fora o senador Humberto Costa (PE), que se coloca como “tertius”, com apoio do líder do governo no Senado, Jaques Wagner (BA). Existe um articulação nas bancadas do Nordeste para que o comando do PT não volte para São Paulo.

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Edinho também enfrenta problemas com Jilmar Tatto, que controla a Comunicação do partido e representa a Democracia Socialista (DS), segunda maior corrente, outro que não abre mão de controlar a mídia da legenda. A corrente é integrada por lideranças históricas do PT, principalmente do Rio Grande do Sul, como Maria do Rosário e Miguel Rosseto, e tem muita presença nos movimentos sociais e identitários.

Comida de onça

Durante sua gestão, Gleisi construiu forte aliança com Gleide e Tatto, além de contar com o apoio do presidente Lula. Com o deputado Lindbergh Farias (RJ), novo líder da bancada do PT, seria um apoio fundamental para a eleição de Edinho. Outros líderes importantes da CNB não estão se pronunciando sobre a disputa, como Aloizio Mercadante, atual presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (DNDES), e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira. Ambos são aliados de Gleisi.

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A esfinge nesse processo é o deputado Rui Falcão, que já presidiu a legenda, outra liderança histórica do CNB, que não apoia Edinho Silva. Movimenta-se, porém, como quem pretende entrar na disputa pelo comando do PT. Aliado de Gleisi, como a nova ministra da Articulação Política, faz fortes críticas à política econômica implementada por Fernando Haddad. Outro ator importante é o prefeito de Maricá (RJ), Washington Quaquá, que entrou de sola na disputa para inviabilizar Edinho Silva e tornou pública as resistências ao ex-prefeito de Araraquara.

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A candidatura de Edinho Silva surgiu fortemente vinculada a três tarefas políticas: ampliar as alianças do PT no Congresso, dar sustentação ao ministro Fernando Haddad e mobilizar o PT na sociedade para apoiar as políticas públicas do governo. Com o enfraquecimento de Haddad e a opção de Lula buscar consolidar suas alianças à esquerda e não com os aliados do Centrão, nos quais não confia eleitoralmente, Edinho corre o risco de virar comida de onça na luta interna do PT.

*Luiz Carlos Azedo, Jornalista, é colunista do Correio Braziliense.

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