O governo da Venezuela anunciou a convocação do seu embaixador para retornar ao país em Brasília e também chamou o encarregado de negócios do Brasil em Caracas para prestar explicações. Essa decisão foi uma resposta à postura do Brasil em relação à entrada da Venezuela no bloco Brics, que teve uma cúpula na semana passada. Durante o evento, o governo brasileiro se manifestou contra a inclusão da Venezuela no grupo econômico.
No comunicado oficial, a Venezuela afirmou: “Denunciamos, também, o comportamento irracional dos diplomatas brasileiros que, contrariando a aprovação do restante dos membros dos Brics, adotaram uma política de bloqueio, semelhante à política de Medidas Coercitivas Unilaterais e de punição coletiva ao povo venezuelano”.
O governo venezuelano também criticou Celso Amorim, assessor especial do presidente Lula para assuntos internacionais, que disse ter havido “quebra de confiança” entre os dois países devido ao desfecho das eleições presidenciais na Veneuela. O governo Lula insiste na apresentação das atas eleitorais, que comprovariam o resultado anunciado pela Conselho Nacional Eleitoral (CNE), para reconhecer a vitória de Maduro no pleito.
Em seu comunicado, o governo Maduro citou nominalmente Celso Amorim. A afirmou que declarações dadas pelo assessor especial da Presidência brasileira “constituem uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem os dois países”.
“Amorim tem se comportando mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano e se dedicado, de maneira impertinente, a emitir juízos de valor sobre processos que são responsabilidade exclusiva dos venezuelanos e de suas instituições democráticas”, afirmou o comunicado.
Até o momento do anúncio, o governo brasileiro ainda não havia emitido uma resposta pública sobre o caso. A convocação do diplomata brasileiro marca um novo ponto de tensão entre os dois países, principalmente após os avanços diplomáticos recentes entre Caracas e Brasília desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A entrada da Venezuela no Brics, defendida por países como Rússia e China, é uma questão de grande interesse para o governo de Nicolás Maduro, que vê no bloco uma forma de ganhar apoio e visibilidade em meio à crise política e econômica enfrentada pelo país.
O governo venezuelano, que vinha reforçando suas relações diplomáticas na América Latina, busca garantir o respaldo de seus vizinhos e interpreta a resistência do Brasil como um obstáculo à integração regional.
Leia a íntegra do comunicado do governo venezuelano:
“O Ministério do Poder Popular para as Relações Exteriores da República Bolivariana da Venezuela convocou, hoje, o encarregado de negócios da República Federativa do Brasil, com o objetivo de manifestar seu mais firme repúdio às recorrentes declarações intervencionistas e grosseiras de representantes autorizados pelo governo brasileiro, em particular as feitas pelo assessor especial de Assuntos Exteriores, Celso Amorim, que, comportando-se mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano, tem se dedicado, de maneira impertinente, a emitir juízos de valor sobre processos que são responsabilidade exclusiva dos venezuelanos e de suas instituições democráticas. Tais declarações constituem uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem os dois países.
Da mesma forma, foi manifestado o total repúdio à atitude antilatino-americana, contrária aos princípios fundamentais da integração regional expressos na Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e na longa história de unidade na nossa região. Essa atitude foi consumada pelo veto aplicado pelo Brasil na cúpula dos Brics em Kazan, pelo qual a Venezuela foi excluída da lista de convidados como membros associados da referida organização.
Denunciamos, também, o comportamento irracional dos diplomatas brasileiros que, contrariando a aprovação do restante dos membros dos BRICS, adotaram uma política de bloqueio, semelhante à política de Medidas Coercitivas Unilaterais e de punição coletiva ao povo venezuelano.
Foi expressado que a Venezuela reserva-se, no marco de sua política exterior, o direito de tomar as ações necessárias em resposta a essa postura, que compromete a colaboração e o trabalho conjunto desenvolvidos até então em todos os espaços multilaterais.
Por fim, informamos à comunidade nacional e internacional que, seguindo instruções do presidente Nicolás Maduro Moros, decidiu-se convocar imediatamente para consultas o embaixador Manuel Vadell, que exerce nossa representação em Brasília.”
Com informações do g1