*Luiz Carlos Azedo
A estreita vantagem de Kamala nas pesquisas, ao manter Trump como uma alternativa de poder, também repercute na geopolítica e na economia global
A uma semana para as eleições nos Estados Unidos, 5 de novembro, as pesquisas mostram que, nesta reta final, a disputa entre a vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump é dramática. Seu resultado é incerto, porém será uma variável externa a ser levada em conta pelo governo Lula, tendo em vista sua repercussão na política interna brasileira até as eleições de 2026.
Eleita, Kamala será a primeira mulher a presidir os Estados Unidos e uma aliada natural de Lula. Se as contradições geopolíticas entre os dois países não se aprofundarem, sua vitória será uma espécie de “mais do mesmo” em relação à política do presidente Joe Biden. Seus principais pontos de tensão com Lula são as guerras da Ucrânia e de Gaza. Venezuela e Nicarágua, áreas sensíveis para o Itamaraty, hoje, mais aproximam do que distanciam o Brasil dos Estados Unidos. A relação do Brasil com a China, nosso maior parceiro comercial, para onde vai a maior parte da nossa produção agrícola, não interfere nas relações com os Estados Unidos, o maior mercado para a nossa indústria, a ponto de estressar o diálogo de Lula com Biden.
Entretanto, uma eventual vitória de Trump pode alterar muito esse cenário, talvez mais até em relação à nossa política interna. Explica-se: as posições de Trump são mais próximas do Brasil em relação à Ucrânia, porque o ex-presidente dialoga com Putin, ao contrário de Biden, porém são mais distantes quanto ao Oriente Médio. Se depender do ex-presidente norte-americano, a disputa comercial com a China deve ser intensificada, e o equilíbrio do Brasil entre as duas canoas será mais difícil, porque a reestruturação das cadeias de valor regionais será mais acelerada. A expansão do Brics reflete essa reestruturação; em contrapartida, o acordo do Mercosul com a União Europeia não sai do papel.
Mas o grande problema é a repercussão que uma eventual vitória de Trump terá na nossa política interna. Lula teve o apoio decisivo de Biden na disputa eleitoral contra Jair Bolsonaro, um dos fatores que ajudou a frustrar a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro, no entanto, uma vitória de Trump levaria água para o moinho do ex-presidente brasileiro, ainda que esteja inelegível. Os resultados das eleições municipais de domingo mostram que Bolsonaro se isolou e foi derrotado pelas forças de centro-direita, entretanto o bolsonarismo continua sendo uma força eleitoral considerável. Os resultados eleitorais do PL demostram isso.
Trump e Bolsonaro são aliados diante de um espelho. Têm posições muito próximas em relação à Venezuela e a Israel. Mais do que isso, têm uma visão de mundo semelhante, com viés bastante autoritário, sobre os respectivos países e suas instituições. Um dos principais financiadores da campanha de Trump é o magnata da tecnologia Elon Musk, desafeto de Lula e aliado de Bolsonaro. Não será fácil a vida de Lula com uma eventual vitória do republicano.
Disputa indefinida
A estreita vantagem de Kamala nas pesquisas, ao manter Trump como uma alternativa de poder, também repercute na geopolítica e na economia global. Kamala lidera desde o debate com Trump na Pensilvânia, em 10 de dezembro, quando virou o jogo numa disputa na qual o presidente Biden estava sendo derrotado. Ocorre que os EUA utilizam um sistema de colégio eleitoral para eleger seu presidente. Nele, conseguir eleger a maioria dos delegados é mais importante do que a soma dos votos que os elegeram.
Historicamente, a maioria dos estados vota sempre com os republicanos ou com os democratas, mas há aqueles nos quais a maioria varia de uma eleição para outra, ora vencem os republicanos, ora os democratas. São nesses estados que Kamala e Trump concentram a campanha eleitoral nesta reta final. No momento, as pesquisas estão muito apertadas em sete estados considerados decisivos para a disputa. O principal é a Pensilvânia, que tem o maior número de votos no colégio eleitoral.
Com Michigan e Wisconsin, esses redutos democratas se tornaram republicanos em 2016, desequilibrando a disputa em favor de Trump. Biden recuperou esses estados em 2020, mas a disputa de Harris com Trump nesses colégios eleitorais está acirradíssima. Nacionalmente, a média ponderada das últimas 13 pesquisas, calculada pelo Real Clear Politics, mostra Trump com 48,5% das intenções de voto, e Kamala com 48,3%. Na mesma fase final do pleito de 2020, Joe Biden mantinha 7,4 pontos de vantagem sobre o republicano.
Analistas registram uma estagnação na campanha de Kamala que contrasta com sua capacidade de arrecadação. Essa defasagem seria consequência da grande preocupação dos eleitores com a economia. Biden conseguiu reduzir a inflação sem provocar uma recessão, mas os resultados positivos não estão se traduzindo em votos. A maioria dos eleitores tem melhores expectativas econômicas em relação a Trump.
Além disso, o discurso negacionista de Trump em relação ao clima, suas posições contra os gastos militares com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e as acusações de que só perde a eleição se houver fraude ainda têm ressonância junto a grande contingente de eleitores. Trump explora a insegurança provocada pelas mudanças econômicas na vida dos trabalhadores americanos e os preconceitos da sociedade em relação aos imigrantes, bandeiras de campanha que o ajudaram a vencer em 2016.
*Luiz Carlos Azedo, Jornalista, é colunista do Correio Braziliense.
Todas as colunas anteriores no Blog do Azedo: https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/
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