Walter Vieira, um dos sócios do PCS Lab Saleme, depôs hoje cedo à Polícia Civil do Rio de Janeiro após ter sido preso temporariamente na Operação Verum. A ação investiga a cadeia de erros que levou à infecção por HIV de seis pacientes transplantados, graças a laudos incorretos liberados pelo laboratório de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, em janeiro e maio.
Aos investigadores, pouco após ter sido detido, Vieira (que é ginecologista e, além de sócio, era o responsável técnico pelo PCS Lab Saleme) atribuiu as falhas a erros humanos de três funcionários, também alvos de ordens de prisão na Operação Verum. Seriam elas as “intercorrências um e dois”, segundo a defesa do médico, representada pelo criminalista Afonso Destri:
* “Intercorrência um”: Preparação incorreta de exame de HIV pelo técnico de laboratório Cléber de Oliveira dos Santos, que seria um biólogo capacitado para a tarefa — ele ainda está sendo procurado por policiais. De acordo com Vieira, um tubo utilizado para administrar o sangue coletado do doador de órgãos não teria sido adequadamente manuseado para que pudesse gerar o resultado correto. Assim, o “falso negativo” teria sido gerado e “liberado” por Cléber. Depois, a assinatura de Vieira teria sido inserida no laudo final, em vez da assinatura do técnico, porque o médico teria sido o último a fazer outros exames, que não o de HIV. Essa seria uma regra do sistema utilizado pelo laboratório, de maneira que Vieira teria “substituído” a de Cléber como responsável pelo teste de HIV. O exame data de janeiro e infectou três pacientes, que receberam rins e coração.
* “Intercorrência dois”: Registro incorreto do resultado de um outro exame de HIV pelo técnico de laboratório Ivanilson dos Santos, que teria capacitação parcial para a tarefa — ele foi preso mais cedo. Segundo Vieira, Ivanilson teria identificado reação positiva para o vírus numa amostra coletada desse segundo doador, mas teria se equivocado e lançado no sistema do laboratório uma informação inversa daquela obtido. Então, um segundo “falso negativo” teria sido criado. Só que Ivanilson, ao contrário de Cléber na “intercorrência um”, não teria credenciais para “liberar” o resultado. Por causa disso, Jacqueline de Assis, outra funcionária, teria operado (sem uma rechecagem) a finalização do exame, que levou à infecção de mais três pessoas que receberam rins e fígado. À época, Vieira disse à polícia, Jacqueline seria considerada pelo PCS Lab Saleme como uma biomédica. O laboratório a acusa de fraudar um certificado. Ela nega: disse ao GLOBO que, na verdade, foi contratada como auxiliar administrativa. Também há ordem (ainda não cumprida) para prendê-la.
Junto às explicações, Vieira também disse que está consternado e que lamenta o impacto causado pelas falhas do laboratório. Se comprometeu a prestar auxílio aos infectados. A Polícia Civil, antes de ouvi-lo, indicou que, em sua avaliação, o PCS Lab Saleme teria afrouxado o controle dos testes para garantir uma margem de lucros mais ampla.
Além de Walter Vieira, foram ouvidos Matheus e Márcia Vieira, o filho e a irmã do médico, respectivamente. Ambos também são sócios do laboratório, mas não foram alvo de ordens de prisão, por enquanto, porque seus nomes não constam nos laudos envolvidos no caso.
Matheus preferiu se manter em silêncio desta vez. Ele deve depor ainda esta semana, assim que sua defesa tiver acesso aos autos da investigação. Márcia, que é bióloga, informou apenas que, apesar da formação, atuava na área administrativa do estabelecimento. Ela indicou aos policiais que não teria como fornecer informações específicas sobre os testes de HIV.
*com informações do jornalista João Paulo Saconi ( Blog de Lauro Jardim no Globo)