De 16 de agosto a 6 de outubro, período que abrangeu o primeiro turno das eleições municipais do Brasil, 373 episódios de violência política foram contabilizados contra candidatos ou políticos com cargo — uma média de sete casos diários. O dado inédito, divulgado pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O GLOBO, é parte da pesquisa “Violência Política e Eleitoral no Brasil”, desenvolvida pelas organizações Justiça Global e Terra de Direitos.
As entidades contabilizaram ao longo do período, de olho nos 5.570 municípios do país: dez assassinatos; cem atentados, 138 ameaças, 54 agressões, 51 ofensas, 13 criminalizações (isso é, tentativas ilegais de prisão de candidatos e políticos com cargo) e sete invasões. O total é maior do que o dobro de registros do tipo durante a pré-campanha, que teve 145 deles entre janeiro e agosto.
Durante a campanha, São Paulo, onde os debates entre “prefeitáveis” da capital chamaram atenção pela agressividade, foi o estado líder em ocorrências: 50, ao todo. Depois, veio o Rio de Janeiro, com 38. Na sequência, ficaram posicionados: Paraíba (24); Bahia (23); Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná (17 em cada estado); Pará (16); Amazonas (10); Mato Grosso do Sul e Mato Grosso (9 em cada estado). Assim, o Nordeste somou o maior número de episódios (132), seguido do Sudeste (117).
Ainda de acordo com Justiça Global e Terra de Direitos, o União Brasil foi o partido em que mais filiados foram vítimas da violência política (46 casos), seguido de PT (43) e PL (35).
O relatório destaca ainda a incidência de episódios violentos de cunho sexual: um caso de estupro, duas ameaças de estupro e oito ofensas diversas (entre elas, vazamentos de vídeos íntimos e montagens com candidatas mulheres envolvendo nudez). Foram mapeadas ainda 16 casos envolvendo racismo; 15 de aspecto machista e quatro casos de homofobia e transfobia.
Entre as hostilidades destacadas pelo levantamento, além dos episódios notórios em São Paulo, estão o carro blindado da vereadora reeleita Tainá de Paula, do PT do Rio, atacado a tiros a três dias da votação; o estupro da candidata do PSOL à vice-prefeita de Porto Velho, Lili Rodrigues e o assassinato de Zaqueu Balieiro, líder do MST que concorria à reeleição como vereador em Gameleiras (MG).