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19 de abril: Itaguaí e a Baixada Fluminense no rastro dos povos originários

Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

O 19 de abril, Dia dos Povos Indígenas, é mais do que uma data comemorativa no calendário. É um convite à memória, um chamado para revisitar o que fomos, para compreender melhor o que somos. Antes dos bairros, das estradas e dos nomes oficiais, as terras de Itaguaí e da Baixada Fluminense eram territórios ancestral, ocupado por povos indígenas que deixaram marcas profundas em práticas, nomes e modos de vida que ainda sobrevivem.

Os indígenas dessas regiões contribuíram na nossa formação étnica, hoje ainda, quando andamos nas ruas vemos diversos indivíduos com características indígenas. Eram especialistas na navegação de canoagem, utilizavam com sabedoria as ervas medicinais para tratamento e curas de doenças, eram conhecedores da agricultura, da caça e da pesca, faziam diversos rituais, tinham grandes conhecimentos de arquitetura e astronomia, previam chuvas, aumento das marés através de observação da lua, das estrelas e do sol. Viviam em permanente respeito com a natureza, entendendo o que a terra dá e o que a terra quer. 

Como eram uma ameaça aos colonizadores portugueses, eles sofreram diversas violências e ataques, mas, eles também resistiram e formaram a Confederação dos Tamoios. Dois grandes chefes (Cunhambebe e Aimberê) fizeram alianças entre grupos tupinambás que lutaram para expulsar os colonizadores. A confederação tinha nações indígenas que iam desde o Rio de Janeiro até São Paulo, passando por Itaguaí, Mangaratiba e Angra dos Reis. Itaguaí esteve entre os territórios atingidos pela expansão colonial, enfrentando aldeamentos forçados e a imposição religiosa das missões jesuíticas.

Hoje, em pleno século XXI, um projeto cultural busca reatar esse fio da história. O Cultura na Faixa, realizado pela ONG Se Essa Rua Fosse Minha (SER) com apoio da Transpetro, propõe um mapeamento histórico e afetivo da comunidade do Weda, em Itaguaí, área que também pertenceu aos povos originários. A proposta surge como resposta à imagem estigmatizada da comunidade, muitas vezes associada à violência, e pretende revelar outro lado: o de um território de memória, solidariedade e transformação social.

Segundo o gerente de Mobilização Social e Recursos Humanos do projeto, Geraldo Bastos, “queremos dar destaque à visão dos moradores, que estão ali há décadas, sobre a comunidade do Weda, tanto no presente quanto no passado”. A coleta de histórias será feita por dois jovens da própria comunidade, capacitados para atuar como pesquisadores locais. Eles serão os responsáveis por ouvir, registrar e valorizar as vozes de quem construiu e ainda constrói o cotidiano do bairro.

O projeto terá duração de dois anos e resultará em quatro publicações. A primeira será um livro que reconta a trajetória de Itaguaí desde a colonização, passando pelos ciclos econômicos até o presente. A narrativa abordará também o papel dos povos originários na formação do território. Em seguida, uma obra baseada em depoimentos orais dos moradores ampliará esse olhar com relatos pessoais e memórias afetivas. Uma revista será dedicada a apresentar o projeto e sua relação com temas como os dutos da Transpetro, a dinâmica social do Weda e sua conexão com o Engenho e o centro de Itaguaí. Por fim, o Mapa Afetivo reunirá biografias de lideranças comunitárias que inspiram e transformam a região.

Ao reconhecer o passado indígena do território, o Cultura na Faixa não somente resgata uma parte esquecida da história — ele propõe uma nova forma de pertencimento, baseada no reconhecimento das raízes culturais e na valorização dos saberes locais. Em tempos de homogeneização cultural e apagamentos históricos, o projeto se apresenta como uma resposta concreta e sensível.

É nesse sentido que o 19 de abril ganha um novo significado em Itaguaí. A cidade, cujo nome vem do tupi e pode significar “rio da enseada da pedra”, não começa com a urbanização. Começa com os povos que aqui viviam, e que, em muitos sentidos, ainda vivem: nas ervas medicinais cultivadas nos quintais, nas formas de organização comunitária, na relação com o território e na resistência cotidiana às opressões.

Bastos explica que celebrar os Povos Indígenas, portanto, é também um ato de reparação. “É reconhecer que não há identidade plena sem memória e que, para avançar, às vezes é preciso olhar para trás. Como ensina o símbolo africano Sankofa: não é tabu voltar e buscar o que foi perdido”. 

Sobre o Cultura na Faixa

O Projeto Cultura na Faixa é uma iniciativa sociocultural e educacional voltada para comunidades situadas nas faixas de dutos da Transpetro, na Baixada Fluminense (RJ). Seu objetivo é fortalecer vínculos comunitários, promover a convivência em grupo e prevenir situações de risco social, criando espaços seguros e colaborativos. Alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, o projeto promove cultura de paz e desenvolvimento comunitário, ampliando seu impacto por meio de parcerias com a sociedade civil e o setor privado. Cada área atendida conta com uma base de apoio comunitária, garantindo presença fixa e reforçando o sentimento de pertencimento junto à comunidade.

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